O câncer gástrico é um dos mais letais tipos de doenças, sendo o quarto mais frequente entre os homens e o sexto entre as mulheres no país. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), entre 2020 e 2022 foram diagnosticados mais de 20 mil novos casos no Brasil. Um dos motivos que dificulta a prevenção é a falta de rastreio médico no ocidente.
O médico João Paulo Fogaça de Farias, da Oncoclínica do Rio de Janeiro, é especialista em aparelho digestivo e neuroendócrinos. Ao Acorda Cidade, ele trouxe mais detalhes sobre características, sintomas, prevenção e tratamento da doença.
“Quando a gente fala de câncer gástrico, estamos falando de adenocarcinoma gástrico, que é o principal câncer encontrado no estômago, mas existem outros. 80 a 90% é adenocarcinoma. Os dados do Inca 2022 e 2023 mostram que até 2025 são esperados mais 21 mil casos diagnosticados no Brasil, sendo mais frequente em homens do que em mulheres. Por regiões notamos o Sul com a maior incidência, tanto homens como mulheres”, explicou o oncologista.
Segundo Fogaça, no ocidente, incluindo o Brasil, o rastreio para esse tipo de câncer não é realizado, não existe um programa para tentar detectar lesões, o que dificulta a detecção precoce. Na maior parte do mundo, os especialistas recomendam buscar pessoas com risco, principalmente em áreas com alta incidência de câncer gástrico, como Ásia, Japão, então a busca é mais realizada no oriente.
O médico explica os primeiros sintomas que podem aparecer no caso da doença.
“Os primeiros sintomas que a pessoa tem que ficar em alerta é especialmente a dispepsia, dores na ponta do estômago, saciedade precoce, comer pouco, mas se sentir muito saciado, principalmente se esse não for o seu padrão, plenitude após comer, sentir-se que comeu muito são sintomas muito comuns no início do câncer gástrico”, informou.
Paulo disse que esses sintomas geralmente podem estar associados a outros achados, como a perda de peso inexplicável, anemia por perda de ferro, problemas que podem ser detectados em exames de sangue.
“Já que os tumores do estômago podem sangrar e essa anemia pode ser vista no exame de hemograma, da perda de ferro ou nas próprias fezes como sangue digerido, que a gente chama de borra de café melena, isso pode acontecer em casos mais avançados, a gente pode ter liquido na barriga, algumas ínguas palpáveis, ou seja, varia um pouco o espectro, mas esses sintomas são importantes”, ressaltou o médico ao Acorda Cidade.
Fatores de Risco
Existem alguns dados que tentam relacionar o fator de sangue, do tipo A ter uma maior predisposição à doença. Isso ainda é debatido entre especialistas, mas também é considerado um fator de risco. 10% dos pacientes diagnosticados com câncer gástrico tem algum histórico na família de câncer, em apenas 3% é possível definir uma síndrome genética específica, mas se atentar ao componente hereditário é importante nessa população.
Sabemos que um estilo de vida não saudável, associado à obesidade, a má alimentação, ao álcool e o tabagismo podem ser considerados problemas que nos levam a essas doenças. Segundo o médico, para o fator de risco leva-se em conta a faixa etária, embora esteja aumentando o câncer em população mais jovem, com menos de 50 anos, seja pela própria dinâmica de alimentação atualmente, entende-se que essa doença ainda é de uma população com mais idade.
“Comidas muito ricas em sal, carnes processadas, por exemplo, são ricas em alimentos com nitroso, compostos usados em alguns tipos de queijos e carnes que ajudam a machucar o estômago e promover o câncer. O tabagismo, o álcool e a obesidade também estão relacionados em algum grau com a formação de câncer de estômago. Entendemos que existem outros fatores de risco como a presença do helicobacter pylori, uma infecção bacteriana, muito frequentemente encontrada no mundo inteiro, ela tem uma transmissão fecal oral, muitas vezes a pessoa tem a essa bactéria, mas na maior parte das vezes, não tem câncer associado, podem ter outras complicações como a inflamação da mucosa do estômago, úlcera, mas uma minoria que tem h pylori evolui para o câncer, mas é um fator de risco”, explicou.
Para o médico, existem outros fatores de risco como cirurgias gástricas prévias, que muitos pacientes no passado com histórico de úlcera péptica acabavam operando o estômago, então esse procedimento é um outro risco para esse tipo de câncer. Para mudar essa realidade, aumentar a dieta em legumes e frutas é um fator protetor.
H Pylori
O doutor fala que uma das poucas indicações dos gastroenterologistas atualmente é buscar a bactéria do h pylori para buscar erradicar-lá.
“O tratamento através do antibiótico dessa bactéria parece reduzir a formação de câncer, esses dados são principalmente estudados em populações, onde a incidência do câncer gástrico é alto e a gente tem um dado muito interessante que em pacientes que têm histórico familiar de primeiro grau do câncer, erradicar o h pylori nelas é uma medida bastante interessante, mesmo sem sintomas”, ressaltou.
Tratamento
Conforme o oncologista, em torno de 50% descobrem a doença localizada ou enraizada no estômago, em fase de metástase. Ele explicou como o tratamento padrão acontece nesses casos.
“Esses pacientes geralmente são submetidos a uma cirurgia e geralmente hoje em dia o protocolo envolve fazer a quimioterapia com a maioria dos pacientes. Essa quimio é feita antes de operar e depois da cirurgia. Antes, ajuda a maximizar a chances de cura, ela ajuda a eliminar as células que possam estar escondidas no corpo, só que é mais fácil fazer a quimio antes da cirurgia, quando a pessoa ainda não removeu o estômago do que depois da cirurgia quando ela remove”, afirmou o oncologista ao Acorda Cidade.
Ainda segundo Paulo, algumas estratégias podem ser usadas, mas vai depender do grau de cada paciente. Buscar biomarcadores R2 (mostra a severidade da doença), em cirurgia ou biópsia, até mesmo na endoscopia, onde o material recolhido será analisado e encontrando o biomarcador, algumas drogas altas já podem ser administradas.
“Alguns achados neste material podem guiar. Além da quimioterapia, pode responder com mais medicamentos personalizados. Ele ganha bastante controle da doença, responde melhor o tratamento, melhora a qualidade de vida, controla os sintomas e alguns pacientes podem até ter uma resposta completa, significativa, ou seja, ajuda controlar muito bem”, declarou.
Além da quimioprevenção, com o uso de antioxidantes, antibióticos, a própria quimioterapia pode ser combinada com imunoterapia.
“Hoje nós temos mais opções de quimioterapia, nós podemos também cuidar dessa pessoa de forma melhor, não só com remédios, com novas tecnologias, mas também com cuidados da nutricionista, de uma psicologia voltada para oncologia, um cuidado inteiro com a família da pessoa. Hoje em dia temos a intenção de além de novas tecnologias, a gente entrega uma equipe multidisciplinar para cuidar do caso, isso a família e o paciente sempre sai ganhando”, finalizou.
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