Os casos de síndrome gripal em crianças tem aumentado em Feira de Santana, informou o médico infectopediatra Igor Araújo, que atua no Hospital Estadual da Criança (HEC). E basta passar em frente às emergências dos hospitais tanto do setor público quanto do privado para confirmar a informação.
Esse aumento da síndrome gripal, conforme Igor Araújo, ocorre não somente em Feira de Santana, mas em diversas regiões do Brasil.
“Tivemos um aumento da síndrome gripal, que é toda e qualquer infecção, que lembra um quadro de gripe e que não é só aqui em Feira de Santana, onde as emergências estão cheias tanto no setor público quanto no setor particular, mas na Bahia como um todo, e em São Paulo, Minas, Espírito Santo, Rio de Janeiro, que a gente conversa com os colegas. E inclusive, em São Paulo, o aumento desses casos foi próximo de outubro, então a gente começa a perceber que assim que como a Covid, a infecção gripal que é causada agora por um outro vírus, provavelmente o adenovírus, que é o que mais tem se isolado, também tem aquela peculiaridade de acometer várias partes do Brasil, em momentos diferentes, e tem um tempo de fazer a circulação viral e logo depois diminuir”, observou o especialista.
De acordo com Igor Araújo, quando uma criança chega ao consultório, a primeira hipótese não é o adenovírus.
“Se a gente for pensar, quando pega uma criança gripada na emergência ou no consultório, não consigo imaginar que é por conta desse adenovírus, que sempre circulou em várias épocas do ano, não só no outono e inverno, ele também pode acometer na primavera e verão, tanto que está começando cada vez mais. Então é uma infecção que ao chegar ao consultório, vou pensar em uma gripe, que é como qualquer outra gripe: nariz escorrendo, tosse, garganta arranhando, pode acometer a parte superior, e acompanhar um pneumonia, só que esse vírus tem uma predisposição a outras partes do corpo, como a conjuntiva, ou seja, ele pode causar conjuntivite, pode afetar a parte intestinal e também pode causar infecção urinária”, esclareceu.
Ele ressaltou que a grande maioria das crianças que estão isoladas, tanto nas emergências públicas quanto nas particulares, é por conta do adenovírus, que é uma infecção viral, e muitos os pais ficam na expectativa de saber qual é o vírus.
“A gripe, de certa forma, na literatura a gente vai observar febre, e o resfriado não tem febre. E na grande maioria das vezes o vírus mais comum do resfriado é o rinovírus e da gripe é a influenza. O adenovírus ele pode fazer tanto um resfriado, quanto uma gripe. Os sintomas de gripe vão ser parecidos, mas a febre tende a aparecer na gripe, que é sempre mais agressiva, tanto no adulto quanto na criança. O ideal é que se avalie a criança como um todo”, explicou.
O infectopediatra do HEC orientou ainda os pais ou responsáveis a avaliarem o quadro da criança com base na febre.
“A febre tem que ser um auxiliador para guiar, ou seja, a criança que apresenta febre baixa, é medicada e volta a correr, brincar, dá para segurar em casa, observar as primeiras 72h, que essa febre tende a aumentar os intervalos. Mas ainda que em 72h a febre pare, a gripe continua, os sintomas gripais de nariz escorrendo, catarro, tosse, vão persistir talvez ali duas ou três semanas, mas essa criança tem que evoluir. Fugiu disso, é um bebezinho de três meses, que tem somatório de coisas, tendo vômito, manchas pelo corpo, e após o remédio de febre não melhora, essa criança tem que ser avaliada”, afirmou.
O tempo de recuperação de cada uma dessas doenças gripais vai depender, segundo o médico, do vírus pelo qual o paciente foi acometido.
“Pelo que estamos vendo agora do adenovírus, pode durar em torno de duas semanas. Muitos pais querem resolver com antibiótico, mas por ser um vírus, o antibiótico não faz efeito. Então, de fato, o tratamento é com sintomáticos, remédios, lavagem nasal, nebulização, mel para crianças acima de 1 ano, e o antibiótico somente se complicar para uma infecção bacteriana, como otite, sinusite, pneumonia, amigdalite. Isso não quer dizer que toda criança vai complicar, mas quando começa a acometer uma grande parcela da população, existe uma maior chance de complicação bacteriana, aí sim começa a necessidade do antibiótico. Então quando você tem uma população de Feira, que muitas crianças estão sendo acometidas, existe a possibilidade de crianças evoluírem para infecção bacteriana, a necessidade de antibiótico e já estamos vendo falta nas farmácias”, disse.
Quanto maior a porcentagem de crianças acometidas pela doença, maior a chance de complicações bacterianas, reiterou o médico.
“Bebês menores também podem evoluir para uma bronquiolite, que é uma infecção mais agressiva, e aí nós temos aumento agora de crianças internadas por síndrome gripal. Quando a gente fala de prevenção, temos o histórico de aprendizado que a Covid nos deu, então é bom sempre estar lavando as mãos, higienizando com álcool, evitar levar a criança gripada para escola por pelo menos uma semana. Eu não faço emergência, trabalho só com consultório, e como infecto dos pacientes internados no HEC, mas uma média, só para a gente ter noção, tanto nos hospitais públicos quanto particulares, tem quase dobrado o número de atendimentos. De pacientes meus, que tenho acompanhado no meu consultório, são mais ou menos 20 pacientes”, completou.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
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