Neste Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase (28), doença infecciosa e contagiosa causada pela bactéria Mycobacterium leprae, acende o alerta para a Campanha Janeiro Roxo, que tem o objetivo de alertar a população para a importância do diagnóstico da enfermidade que traz a perda de sensibilidade na pele. De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil ocupa a segunda posição do mundo entre os países que mais registram novos casos.
A enfermeira Flávia Porto faz parte do Programa Municipal de Hanseníase em Feira de Santana. Ao Acorda Cidade ela falou mais sobre as características da doença.
“A Hanseníase é uma doença que acomete a pele e os nervos. O bacilo se aloja costumeiramente nos nervos periféricos, sendo nas articulações e ele tem sinais e sintomas de manchas na pele, manchas vermelhas ou amarronzadas. Essas manchas não têm sensibilidade ou uma perda dessa sensibilidade. Onde o paciente não consegue sentir dor no local, ele não transpira nesse local, ele não nasce pelo também nesse local, e essa mancha tem uma característica da Hanseníase quando ela não tem coceira”, informou.
Há diversas formas de manifestação da doença, desde o aparecimento de pequenas manchas até mesmo o surgimento das lesões por todo o corpo. O diagnóstico da doença é fundamental, porque através dele, ocorre a prevenção para a não contaminação de outras pessoas.
“Assim que ela é diagnosticada, a gente consegue tratar o paciente no mesmo momento e a partir da primeira dose da medicação ele não transmite mais a doença”, informou a enfermeira.
Sendo uma doença contagiosa, Flávia explicou como pode ocorrer a contaminação sem a administração de medicação específica.
“A forma de transmissão da Hanseníase, ela é feita através do contato respiratório de forma prolongada, lembrando que as manchas, em contato, toque da pele, não transmite a doença, então é só contato de via respiratória (prolongado)”, pontuou.
O Programa Municipal de Hanseníase mantém o controle dos pacientes na região, mas a enfermeira alerta para os casos subnotificados. Em 2022, foram 86 novos casos e 63 no ano de 2023. Este ano, um caso da doença já foi registrado.
“Eu deixo um alerta para a população, quando perceber uma mancha diferente no corpo, procurar a unidade de saúde. O ano passado, em 2023, nós tivemos 63 novos casos, foi menos do que o ano de 2022, porém, eu ressalto essa questão da subnotificação, onde nós fizemos várias buscas ativas, e assim a gente consegue estar identificando casos novos, e eu peço à população que, diante desses sinais e sintomas, procurem a unidade de saúde mais próxima, e assim eles serão encaminhados ao Serviço de Centro Especializado para Hanseníase”, explicou ao Acorda Cidade.
Segundo Flávia, o tratamento é realizado de seis meses a um ano, a depender das lesões e do diagnóstico preciso da doença. O caso é rastreado como paucibacilar (poucos bacilos – até 5 lesões de pele) ou multibacilar (muitos bacilos – mais de 5 lesões de pele). O serviço é gratuito e realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“O paciente no momento do diagnóstico já sai com essa medicação, ele faz o uso, que é a dose supervisionada no momento da consulta e as doses subsequentes faz em casa, a dose diária a gente disponibiliza um blister de medicação durante 28 dias e quando termina essa medicação, ele retorna à unidade e faz novamente essa dose supervisionada”, relatou.
O paciente em tratamento ainda passa por acompanhamento com a equipe multidisciplinar através de nutricionistas, fisioterapeutas, assistente social, agente da enfermagem, além de consultas médicas.
Para a enfermeira, o principal desafio de combate a doença até hoje é a desinformação e a automedicação da população diante de uma lesão na pele.
“A população está acostumada a se automedicar quando vê essa mancha na pele, às vezes essa mancha pode sumir e aí ele não procura um centro especializado e possivelmente, sendo hanseníase, essa mancha vai voltar, podendo aparecer outras manchas”, disse.
Há muitos anos, a doença era conhecida como lepra o que trazia a discriminação dos portadores da doença. Por isso, é imprescindível ressaltar as informações e o diagnóstico precoce para não haver a estigmatização social dos pacientes. Neste sentido, buscar o médico diante dessas doenças além do autocuidado vai ajudar a prevenir e controlar a sua disseminação.
“Quando o paciente é diagnosticado com hanseníase, a gente precisa que as pessoas que convivem no seu ambiente domiciliar sejam avaliadas para realizar a avaliação de manchas no corpo, porque se esse paciente tiver contato e tiver passado para esse familiar, ele também vai iniciar o tratamento. Se ele não tiver nenhuma mancha, a gente vai fazer a vacinação, que é a BCG, onde há estudos que a BCG não é que vai ser imune para hanseníase, mas ela faz com que a gente não tenha essa forma mais grave da doença”, ressaltou.
Flávia Porto destacou que é importante a população estar ciente de que não há nenhum risco de contato com o paciente.
“Não devemos ter esse preconceito com os pacientes de hanseníase, uma vez que eles já estão sendo tratados, eles não vão passar a doença, e uma vez que ainda sem tratamento, essa doença só pega por contato prolongado de via”, alertou.
Além disso, a hanseníase não mata, porém com o passar do tempo o bacilo pode aumentar, acarretando diversos outros problemas no corpo e levando a morte caso haja comorbidades no paciente. Para evitar isso, o diagnóstico precoce é fundamental.
“As pessoas podem ficar com a força motora prejudicada, com a sensibilidade da pele também bem alterada, onde ela pode se queimar, se cortar sem perceber. A pele fica sem o tato, então quando tem questão de temperatura também não sente. Os nervos eles vão se atrofiando, a gente chama de mão em garra, que seria os dedos vão fechando, perdendo a mobilidade, perdendo a força motora e esse paciente vai defiando e infelizmente quando associado a outras comorbidades, exemplo diabetes, hipertensão, essa situação vai se agravando mais e o paciente ele tende a via óbito, porém não pelo bacilo e sim por outros fatos que vem acometendo junto com a situação da hanseníase”, explicou.
Segundo a enfermeira, ela já presenciou casos, que mesmo em estado avançado, após a administração do tratamento o paciente conseguiu sobreviver.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
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