Dia dos Avós

Dia dos avós: geriatra explica efeitos da solidão na saúde dos idosos

Doenças cardíacas, enfraquecimento do sistema imunitário e depressão são algumas das consequências compartilhadas por aqueles que se sentem sozinhos.

Idosos
Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

A solidão é um dos principais motivos da desconexão social enfrentada por pessoas idosas. Além da tendência para o isolamento, seus impactos ultrapassam os riscos de problemas como ansiedade e depressão. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é fator associado ao aumento das chances de acidente vascular cerebral (AVC) em 30%, em 50% das de demência e 25% das de morte prematura. Também leva ao declínio cognitivo e comportamentos considerados prejudiciais, a exemplo de tabagismo, consumo excessivo de bebidas alcoólicas e sedentarismo.

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Geriatra e professor do curso de Medicina da Universidade Salvador (Unifacs), Lucas Prado explica que os efeitos desafiam o bem-estar físico e mental, uma vez que costumam gerar hábitos danosos. “Os idosos solitários ou isolados conversam, interagem e se divertem menos. Isso acaba refletindo na presença de doenças cardiovasculares, pois fazem poucas atividades físicas, se alimentam de maneira inadequada e encaram alta carga de estresse. Como consequência, há ainda interferências nas funções imunológicas”, afirma.  

Outro aspecto afetado é a qualidade do sono, uma vez que a solidão e o isolamento favorecem o desenvolvimento de padrões irregulares ou distúrbios. “Os indivíduos envolvidos em menos ocupações tendem a cochilar muito durante o dia, o que torna o sono à noite mais fragmentado”, esclarece. O médico também cita as influências de quadros atrelados, como a depressão, que geralmente provocam insônia e impedem a realização de práticas que deixam o ato de dormir prazeroso.  

Estratégias

Estudos já têm mostrado que ações recreativas e programas de exercícios adaptados são benéficos à terceira idade. Para Lucas Prado, uma boa rede de apoio é mais um aliado no rompimento do ciclo vicioso provocado pela falta de conexões e acolhimento, bem como o estímulo à participação na comunidade. 

“Nós somos seres sociáveis, dependendo desse convívio para nos mantermos saudáveis. Alguns toleram viver de forma um pouco mais isolada, mas na maioria das vezes precisamos de interação. Por isso, o apoio da família, principalmente direcionados aos idosos que já ocupam algum lugar de dependência, é essencial. Como os casos de solidão e isolamento estão relacionados à fragilidade desse suporte, é importante buscar o incentivo de filhos, sobrinhos, amigos, irmãos e pessoas próximas para inserção em atividades ocupacionais e físicas que vão proporcionar lazer, reserva cognitiva e movimentação do corpo”, ressalta o professor da UNIFACS, cujo curso de Medicina é parte integrante da Inspirali. 

Os meios de lidar com a questão, segundo o especialista, ainda incluem o acesso a acompanhamento médico. Fora a identificação e tratamento de sintomas depressivos, a avaliação profissional é indispensável para o controle de outras condições incapacitantes, a exemplo da perda de resistência, equilíbrio, flexibilidade e locomoção.  

Respeito à autonomia

Apesar da necessidade de amparo familiar e social, o geriatra alerta sobre pontos que conduzem a vida dos idosos: consentimento, oportunidade de protagonismo e direito a decisões. Isso porque, na tentativa de auxiliar, algumas famílias e a própria sociedade acabam desrespeitando a autonomia e os enxergam como inaptos para fazer escolhas.  

“Se estou diante de uma pessoa lúcida e esclarecida, tenho que compartilhar qual a melhor abordagem para ajudá-la a retornar ao convívio social, preservando sempre suas preferências e história. Muitas vezes os idosos são tratados como crianças que precisam obedecer ao que se pede”, enfatiza o médico. Ele ainda acrescenta que a ausência de respeito e comunicação clara pode resultar no etarismo, que é o preconceito com o envelhecimento.

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