Saúde

Dia de Combate ao Tabagismo: dos 10 mil cadastrados no Caps, somente 2 mil estão ativos no tratamento

O Caps AD em Feira de Santana fica na Rua Paris, bairro Santa Mônica, nº 41.

Não fume
Foto: Myriams/ Pixabay

Fumante desde os 17 anos, o pedreiro Nilson Santos, de 50 anos, têm um longo caminho pela frente na tentativa de abandonar o vício causado pela nicotina, mas também outros tipos de substâncias como a pacaia ou fumo de corda, como é conhecido, a maconha e a dependência do álcool.

Em entrevista ao Acorda Cidade, ele revelou que em breve irá completar 51 anos e há algum tempo decidiu procurar tratamento no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas Gutemberg Almeida (Caps AD), localizado no bairro Santa Mônica.

“Eu não parei ainda, estou tentando. É difícil, porque o corpo da pessoa fica dependente da nicotina, do cigarro, e quando não fuma a gente se sente nervoso, agoniado, e quando fuma fica mais calmo e relaxado. A ansiedade melhora. Às vezes, eu estou nervoso e para. Eu decidi parar de fumar, mas não estou conseguindo, por isso estou pedindo ajuda aqui ao Caps. Às vezes, eu paro um mês ou dois meses, mas depois eu volto de novo. Não suporto ficar sem fumar. Eu fumo pacaia, cigarro branco e maconha, que é pior ainda. A maconha me deixa mais calmo, mas é pior que o cigarro, a dependência é bem maior. E faço uso de cachaça também, mas quero me libertar”, relatou o paciente.

Conforme o pedreiro, a dependência do cigarro, da maconha e da bebida tem prejudicado muito sua vida profissional. “Isso influencia muito no meu trabalho, as pessoas perdem a confiança, a pessoa fica sem crédito, é muito complicado”, completou.

Caps AD

Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

De acordo com o médico psiquiatra João Gama Júnior, que atende os pacientes no Caps AD, o dia 29 de agosto foi escolhido como Dia Nacional de Combate ao Tabagismo devido o problema ser uma doença crônica, causada pela dependência da nicotina, que é uma droga lícita e a principal base do cigarro.

Segundo ele, atualmente, quase 10 mil pessoas estão cadastradas no Caps AD, porém apenas 2 mil pacientes estão ativos no tratamento. Além disso, diariamente, muitas pessoas buscam o acolhimento para tentar deixar a dependência de álcool e outras drogas.

“A pessoa que fuma, depois de um determinado tempo, cria uma dependência, que é de difícil resolução. Precisamos de um trabalho muito criterioso junto com o paciente. A maioria dos cigarros é à base de nicotina. Existem muitos tipos de cigarros, porém os que as pessoas mais usam são os industrializados. Mas também vemos muitos cigarros de fumo”, informou o médico ao Acorda Cidade.

Malefícios do cigarro

O psiquiatra esclareceu que o tabagismo provoca vários tipos de doenças, como o câncer de laringe, faringe, de pulmão, doenças respiratórias, como a enfermidade pulmonar obstrutiva crônica, infarto, angina, AVC, aneurismas, doenças cardiovasculares e neurológicas, então são muitos malefícios provocados pelo uso contínuo do cigarro.

“O ato de fumar produz uma melhora da ansiedade, traz prazer para quem usa o cigarro, porque ele afeta o sistema nervoso central, liberando dopamina, que é um neurotransmissor, que gera prazer e satisfação. E isso ajuda no processo da dependência, pois quando a pessoa fuma, melhora o estado de ansiedade, deixa mais tranquila, calma, mas essa é uma falsa resolução da ansiedade”, observou.

Perfil dos pacientes

Quanto ao perfil dos pacientes que buscam o tratamento no local, o psiquiatra afirmou que variam as idades.

“O perfil dos pacientes é muito variado, a partir de 18 até pessoas mais idosas, não existe uma faixa etária predominante. O tratamento também não é feito por um tempo determinado, quem vai dizer é o paciente junto com o profissional. A gente traça um plano terapêutico individual, e dentro desse plano, quando a gente vai alcançando os objetivos e o paciente está apto para ter alta, nós em conjunto com a equipe multidisciplinar damos alta a esse paciente, então tem pessoas que estão aqui há um ano, dois, três e a depender da evolução é que determinamos a alta”, explicou o médico João Gama Júnior.

Ele pontuou ainda que muitas pessoas deixam o tratamento em curso, por isso existe no centro um serviço de busca ativa desses pacientes, para que retornem e abandonem o vício.

“Como é um tratamento de porta aberta, não estamos em um ambiente fechado, como um hospital psiquiátrico, clínica ou centro de recuperação, o paciente pode entrar e sair da unidade a hora que ele desejar, e tem casos de pacientes que deixam o tratamento. E por isso temos o serviço de busca ativa desses pacientes que desistiram para que retornem à unidade e deem continuidade. E a família é fundamental e sempre quando os pacientes vêm aqui é acompanhado de familiares. Quando a gente vê a necessidade também, a gente convoca o familiar para que possa fazer parte do tratamento, pois deve estar incluído nessa rede que nos ajude a tirar esse paciente desta situação de dependência”, salientou o psiquiatra em entrevista ao Acorda Cidade.

Cigarros eletrônicos

cigarros eletrônicos
Foto: Divulgação/ Ministério da Saúde

O especialista fez ainda um alerta para a mudança de comportamento dos jovens em relação ao cigarro. De acordo com ele, muitos estão deixando de usar o cigarro comum para utilizar os cigarros eletrônicos, que também trazem riscos para a saúde.

“Na década de 70 ou 80 víamos propagandas de homens bem sucedidos com o cigarro, mas hoje estamos em uma geração saúde, e os jovens têm muito essa questão de cuidar do corpo, do bem estar, e a gente vê que houve uma diminuição entre os jovens do cigarro, porém a gente vê novos estilos, como o vaiper, o cigarro eletrônico, que também é prejudicial e causa dependência. A droga entra no ser humano como um ser de falta, e a gente busca nisso um preenchimento. Então a prevenção é atividade física, um bom relacionamento social, evitar fazer uso experimental ou ocasional dessa substância, porque pode causar dependência”, ressaltou o profissional.

Procure ajuda

Fachada do Caps AD Feira de Santana
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

O Caps AD em Feira de Santana fica na Rua Paris, bairro Santa Mônica, nº 41, próximo à panificadora Progresso da Getúlio Vargas. O funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 7h às 18h, sem intervalo para almoço.

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade.

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