Uma medida de baixo custo, mas de grandes resultados, foi apontada pela fonoaudióloga intensivista Patrícia Nogueira da Silva de Magalhães como forma de aprimorar a saúde e o bem-estar de seus pacientes durante o tratamento de diversas enfermidades. O programa Cinema na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) é uma ação que tem feito a diferença na saúde das pessoas.
Pensando nisso, o Acorda Cidade conversou com a médica que explicou detalhes da iniciativa. Apesar de estar implementada em poucos hospitais do país, Patrícia afirma que a prática é excelente para ajudar no desenvolvimento clínico do paciente.
Inicialmente, os pacientes eram transportados para um lugar especial para assistir, mas por conta da demanda atual e as especificidades de cada um, o Cine na UTI foi transformado para atender unicamente cada pessoa.
“Isolamento de contato, pacientes que não podem ter contato com outras pessoas, isolamento respiratório, oscilação de estabilidade clínica, pacientes que não querem ser vistos por outros em seu momento de maior fragilidade, precisamos respeitar essa situação. Então, pensando nisso, resolvemos promover essa experiência do cinema na UTI de forma mais individualizada com escolha não de um grupo, mas sim do próprio paciente para assistir o título que ele saiba que vai fazê-lo sentir-se bem, confortável, estimulando o desempenho da individualidade de cada um desses pacientes nas suas escolhas e mantendo a sua privacidade naquele momento de adoecimento mais grave”.
Para a médica, as escolhas dos pacientes é um momento aguardado pela equipe porque, muitas vezes, o título escolhido traz um pouco de cada um. Ele pode escolher um filme relacionado a sua memória afetiva, algo que lhe traga boas recordações ou que lhe transporte para outros cenários, que ajude a diluir o entendimento do espaço de adoecimento em que ele se encontra.
“É uma ação totalmente dependente do paciente, sem nenhum tipo de interferência da equipe médica, fisioterapêutica, fonoaudiológica, de enfermagem e até mesmo da família. Cada um tem o poder de escolher o filme que quer assistir”.
A primeira paciente que assistiu sua série preferida sem deixar o ambiente hospitalar ficou emocionada diante da sensação de fazer uma das coisas que mais gostava, e estando doente, não podia mais fazer. Portanto, esse foi o principal pontapé para que a iniciativa continuasse.
“Conseguimos modificar seu estado emocional com a medida que não era farmacológica, não era induzida por medicamentos, uma medida não invasiva em uma unidade de atendimento de saúde e então isso nos trouxe um grande resultado maior do que esperávamos na adesão dos pacientes”.
Para ajudar com o Cine UTI é fundamental fazer parte da equipe médica, mas acima de tudo, é preciso empatia para se colocar no lugar do outro em momentos de aflição.
“É necessário o envolvimento de todos, que eles se articulem para fazer a triagem, a mostra da carta de filmes, a escolha do paciente que é o nosso melhor momento, a mudança do posicionamento do paciente para ele assista ao filme da forma mais confortável, precisando de uma pessoa que tem habilidades técnicas para o manuseio desses equipamentos, vigilância para o término do filme com a retirada do equipamento da beira do leito. Nós temos nos distribuído para essas ações e a cooperação de todos da equipe é algo que me faz muito feliz”.
O que impede a expansão do projeto para todos os pacientes é a gravidade de cada caso, assim como uma equipe que abrace a ideia e faça acontecer dentro dos hospitais. Segundo a médica, há um “teto clínico de desempenho” para que os pacientes possam participar.
“O paciente precisa estar em estado de alerta com uma cognição suficiente para ele perceber qual é a proposta que a gente está fazendo. Você quer assistir ao filme? Você quer assistir sua série favorita? Você quer assistir o jornal em formato de filme? Ah, quer ouvir ou assistir a sua oração pelo YouTube neste formato de filme? Então é necessário que ele nos compreenda, além do mínimo de estabilidade hemodinâmica para ser exposto a esse projeto Cinema na UTI, para viver essa experiência”.
A fonoaudióloga ainda destacou que a prática é interessante para o paciente, mas também para a família, os acompanhantes, que podem ter uma percepção de momento feliz e saudável, mesmo diante das dificuldades assustadoras de ter um parente/amigo enfermo.
“As famílias se sentem muito acolhidas em perceber que tem uma equipe que está unida em promover conforto, momentos de alegria para quem está sob nossos cuidados. Eles ficam muito felizes e muitas vezes até participam da sessão. Quando nós temos visitas estendidas ou uma sessão que está acontecendo em horário de visitas. É muito importante a participação da família nesse projeto”.
No futuro, Patrícia espera que a iniciativa alcance mais hospitais públicos e privados, afinal, essa é uma ação de baixo custo, não farmacológica, não invasiva, mas de grandes resultados que favorece muito a saúde e bem estar dos pacientes.
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