Bahia

Biblioterapia: enfermeira baiana é pioneira no uso da literatura como prática de cuidado a idosos

Os encontros costumam ser leves, mas capazes de aflorar as emoções, estimular reflexões, aliviar angústias e promover um espaço de escuta.

Ler, Leitura
Foto: Freepik

O poder de um livro é gigante e não importa a idade. Desde as antigas civilizações, a leitura é percebida como capaz de proporcionar alívio às enfermidades, seja do corpo ou da alma. E essa crença só vem se confirmando com a ‘Biblioterapia’. O termo surgiu apenas no século 20. Mesmo recente, os estudos e pesquisas só crescem.

Na Bahia, a enfermeira Adriana Freitas tem se dedicado ao estudo da Biblioterapia com o público idoso.

“É gratificante demais ver como eles saem mais leves e ativos depois de uma roda de Biblioterapia. Querem pegar no livro, ver as ilustrações de perto… São tocados pelas palavras”, define a profissional que divide a vasta atuação na área de saúde com estudos sobre o poder de transformação dos livros.
Especialista em Gerontologia e Doutora em Saúde Pública pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Adriana decidiu estudar Biblioterapia depois que iniciou a carreira paralela como escritora.

A estreia na cena literária foi em 2016 com o livro Crônicas no Asilo, que traz dez histórias, entre realidade e ficção, de personagens que vivem dilemas existenciais em instituições de longa permanência para idosos. Depois, a escritora publicou mais quatro livros infantis. Ao concluir a pós-graduação em Biblioterapia, emendou com outra formação em Arteterapia.

“Quanto mais a gente estuda, mais encontramos lacunas e necessidade de aprofundar”, comenta a especialista que une a ampla bagagem de conhecimento acadêmico e científico sobre questões relacionadas ao processo de envelhecimento ao universo das palavras, dos poemas e contos.

Foto: Ricardo Prado

A Biblioterapia tem a finalidade de usar a literatura como suporte no desenvolvimento pessoal e na prática de autoconhecimento. O uso das narrativas a serviço do cuidado é uma prática que abre possibilidades de mobilização efetiva e afetiva entre leitores, ouvintes e participantes das rodas. Os encontros costumam ser leves mas capazes de aflorar as emoções, estimular reflexões, aliviar angústias e promover um espaço de escuta sensível e empática entre os participantes, contribuindo para o exercício de um novo olhar sobre si, o outro e o mundo.

“Um dos momentos mais marcantes para mim foi quando duas senhoras, que viviam na mesma instituição de longa permanência e mal se falavam, se reconheceram ao final da atividade de Biblioterapia como amigas. A literatura foi capaz de criar um laço entre elas que, mesmo morando no mesmo espaço por anos, não enxergavam esse vínculo”, relembra Freitas que coleciona momentos singulares na vasta bagagem que reúne conhecimento acadêmico e científico sobre questões relacionadas ao processo de envelhecimento a contos, poemas e outras narrativas literárias.

Cuidado além das palavras

Em sua prática com pessoas de mais idade, Adriana dá preferência aos livros infantis, que têm mensagens mais curtas e ilustrações mais atrativas. Com uma dose generosa de sensibilidade e empatia, a especialista associa a Biblioterapia com a Arteterapia, promovendo, ao final da roda de mediação de leitura, técnicas de colagem, pintura, atividades coletivas complementares e relacionadas ao tema que foi trabalhado naquele dia.

“A gente pode trabalhar com massa de modelar, pintura, colagem, usando materiais diversos. É lindo ver as pessoas resgatando habilidades que estavam adormecidas”, acrescenta.

Adriana Freitas, que inovou ao coordenar ano passado ao lançar uma atividade de extensão sobre Biblioterapia e Maturidade chancelada pela UFBA, tem o plano de abrir um grupo de estudo sobre a temática permanente na universidade. Além disso, ela coordena também uma disciplina extensionista na UFBA, que tem a Biblioterapia como referencial teórico, embasando as discussões em sala de aula e dando suporte às práticas que são realizadas em Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI) e Biblioteca.

A especialista baiana participa, neste mês de julho, do I Fórum de Biblioterapia no Brasil, ministrando uma oficina on-line sobre Biblioterapia para Idosos no dia 12 de julho, das 14 às 17 horas. O investimento para interessados em participar é de R$ 50. Mais informações através do link: https://eventos.unochapeco.edu.br/biblioterapiacompessoasidosas/

Sobre a autora:
Adriana Freitas nasceu em Feira de Santana. É enfermeira, especialista em Gerontologia e Doutora em Saúde Pública pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atua nas áreas de ensino, pesquisa e extensão mas estende o olhar sobre o envelhecimento humano para a literatura. A produção literária despertada na adolescência aumentou com o passar dos anos, fruto da necessidade de tornar o conhecimento acadêmico mais acessível em outras linguagens. Mergulhou em estudos da literatura infantil e juvenil através e – mais recente – em cursos também de especialização sobre Biblioterapia, mediação de leitura e Arteterapia. Na prateleira das obras já lançadas estão Crônicas no Asilo (2016, Editora Albatroz), A menina que queria ser… (2018, Editora Albatroz), Luli, a bailarina (2018, Editora Chiado Kids) e As velhices de Berenice (2019, Editora Perfil Editorial), Sem Retoque (2021, Editora Inverso), Pronta, filha? (2022, Editora Inverso) e O mar me contou (2023, Perfil Editorial)

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