Saúde

Após morte de três bebês, Hospital da Mulher anuncia medidas para tentar resolver superlotação

De acordo com Gilbert Lucas, a Fundação Hospitalar vem fazendo investimentos e aumentando seus recursos humano com investimentos próprios.

Daniela Cardoso

Após o registro da morte de três bebês no Hospital da Mulher em menos de uma semana, uma entrevista coletiva foi realizada na manhã desta sexta-feira (10), onde a diretora da Fundação Hospitalar, Gilberte Lucas, apresentou dados de atendimentos dos últimos anos na unidade, além de informar quais medidas serão adotadas pelo hospital para tentar melhorar os problemas causados pela superlotação. Além disso, também durante a coletiva, a coordenação técnica de obstetrícia pontuou especificamente os casos que ocorrem das três mortes nos últimos dias.

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De acordo com Gilbert Lucas, a Fundação Hospitalar vem fazendo investimentos e aumentando seus recursos humano com investimentos próprios, mas, destacou que a obstetrícia é uma especialidade diferenciada. Ela disse que Feira de Santana não deveria ter só uma unidade porta aberta de entrada de emergência e falou sobre a alta demanda causada por pacientes de outros municípios.

“Feira de Santana é um município atípico que atende todas as regiões próximas e algumas pacientes que às vezes são até reguladas para Salvador, mas ficam aqui em trabalho de parto, por ser caminho. Nossa demanda vem aumentando cada vez mais em gestantes de alto risco, que tem que ter uma atenção redobrada. Às vezes essa gestante tem que ficar entubada no centro obstétrico para depois estabilizar, fazer o parto, estabilizar novamente para tentar a vaga em outras unidades de alto risco. Isso é uma dificuldade e uma realidade”, afirmou.

Atendimentos

Gilberte apresentou alguns números que mostra o aumento da demanda nos últimos anos no Hospital da Mulher. Em 2013, por exemplo, foram 18.335 atendimentos com 7.805 internamentos pra parto. Em 2018 esse atendimento na emergência já pulou para 40.494 com 9.871 partos. Em 2019, nos três primeiros meses, já são 14.642 gestantes avaliadas na emergência, com 3.684 partos. Desse modo, de acordo com Gilberte, o Hospital da Mulher vem fazendo praticamente de 30 a 35 partos por dia, além de outros procedimentos como curetagem.

A diretora da Fundação Hospitalar destacou que o problema da obstetrícia não é só em Feira de Santana, mas em todo o estado e também a nível nacional, devido a falta de leitos para acompanhar a demanda. Ela lembrou que a maioria das Santas Casas fechou os leitos para o SUS, a maioria dos hospitais particulares que tinha leitos credenciados pro SUS em Feira fechou esses leitos, o que, segundo ela, dificulta o atendimento do Hospital da Mulher.

Além disso, conforme Gilberte, o Hospital da Mulher tem uma estatística muito grande de pacientes gestantes que fazem o pré-natal na rede particular e procuram atendimento para o parto na rede pública, pois o plano não cobre. Ela acrescentou que também há um aumento grande de gestantes que não conseguem manter o plano de saúde e acabam migrando para o SUS.

Medidas para melhorar a superlotação

Gilbert Lucas informou algumas medidas que a Fundação Hospitalar deve tomar para tentar melhorar a situação da superlotação na unidade. Segundo ela, a equipe técnica será reforçada, além da realização de reforma de leitos, construção da casa de parto externa e ampliação da enfermaria.

“Hoje a nossa equipe já é qualificada para nosso número de leitos e estamos reforçando acima da nossa assistência. Estamos fazendo um reforço para o extra leito. Também já tem reforma de quatro leitos de parto normal, exclusivamente para Feira de Santana, que vai dá a média de quase 20 partos por semana, vamos ampliar a enfermaria com mais quatro leitos de parto normal e já fomos autorizados, inclusive já houve a licitação, para iniciar a construção da casa de parto externa, com cinco leitos, que vai dá uma média de 25 partos normais por mês”, informou.

Termo de responsabilidade

A diretora da Fundação Hospitalar também anunciou que o Hospital da Mulher vai tomar outras medidas com relação a falta de vagas na emergência. Uma delas é a criação do termo de responsabilidade que, segundo ela, será implantado de imediato.

“Na segunda já temos uma reunião com o pessoal da equipe técnica dos obstetras para resolver essa questão. Para exemplificar, temos uma classificação de risco, que atende uma média de 90 gestantes por dia. Com a implantação desse termo, as mães serão avaliadas e se tiverem com quatro ou cinco centímetros de dilatação e não tiver vaga, mas ela tiver condição de ir para outra unidade, e mesmo assim se recusar a ir, ela vai assinar um termo de responsabilidade. A gente tem que entender que o problema de obstetrícia é do estado da Bahia, não é o Hospital da Mulher”, destacou.

Quantidade de leitos

Gilberte Lucas informou que o Hospital da Mulher tem uma quantidade de leitos acima do que é credenciado pelo Sistema Único de Saúde. Segundo ela, atualmente são nove leitos de UTI neonatal e o hospital só recebe por seis pelo SUS. São sete leitos de berçário, sendo que a unidade não recebe nenhum pelo SUS. A diretora disse que o hospital abriu 12 leitos da mãe canguru e também não recebe do SUS. Ainda assim, Gilberte informou que a Fundação Hospitalar está aumentando os leitos para atender a essa demanda.

“A gente é credenciado para 74 leitos de obstetrícia e temos 100 leitos em funcionamento. Se a gente for a Salvador, são nove unidades estaduais com mais de 200 leitos. Feira tem o Hospital da Mulher com 100 leitos e o Hospital Estadual da Criança (HEC) com 44 leitos de alto risco, que não atende a demanda. Isso é uma dificuldade”, afirmou.

Com relação a pactuação, Gilberte disse que essa também é uma situação complicada, já que o os números de atendimento ultrapassam a estabelecida. Ela afirma que é impossível atender a demanda de Feira e de outros municípios.

“A gente, por ser uma unidade porta aberta, não podemos deixar de atender uma gestante que vem de um município em uma ambulância com o bebê já praticamente saindo. A gente trabalha hoje com regulação, mas a maioria dos municípios já tem hospitais que poderia se qualificar para pelo menos fazer parto normal. A gente recebe paciente de Jacobina em trabalho de parto normal, há 300 quilômetros de Feira. A gente vem fazendo o possível e vamos continuar nos reunindo para tentar chegar a um posicionamento em relação a unidade”, declarou.

Gilberte destacou ainda o empenho da Fundação Hospitalar no sentido de qualificar os profissionais que trabalham no Hospital da Mulher e também o bom desempenho da unidade de saúde. Ela afirma que as mulheres que têm bebês aqui no Hospital da Mulher sabem da qualidade da assistência médica da unidade.

Coordenador da obstetrícia fala sobre as três mortes

O médico Francisco Mota, coordenador da obstetrícia do Hospital da Mulher, pontuou os casos das três mortes que ocorrerem na unidade hospitalar em menos de uma semana. Ele disse que caso a caso está sendo avaliado e observou que o hospital está trabalhando em superlotação. Francisco Mota assegurou ainda que não houve desassistência para essas mulheres.

“Em um dos casos a mãe chegou e foi informada que não tinha condição de ser internada devido a superlotação, mas a paciente insistiu em ficar. Em relação ao último caso, o hospital também estava trabalhando em regime de superlotação, tivemos uma urgência grande em que uma paciente foi operada, foi feita a retirada do útero após a cesárea e essa paciente ficou internada no centro cirúrgico, bloqueando a sala de cirurgia e deixando o anestesista acompanhando essa paciente. O atendimento ficou mais lento, pois só tínhamos uma sala de cirurgia. Tínhamos duas urgências para operar, sendo que uma era risco iminente de morte para a mãe. A paciente foi operada e na sequência, a outra paciente seria operada, só que num intervalo de mais ou menos 40 minutos entre a indicação da cesárea e a hora que tínhamos sala para ela ser operada, infelizmente aconteceu o óbito fetal”, explicou.

O coordenador da obstetrícia disse que esse último caso foi uma fatalidade e informou que o bebê tinha uma circular de cordão, que é quando o cordão umbilical está ao redor do pescoço, e isso pode ter sido uma das causas do óbito fetal.

Ele frisou que todas as mães que passaram por essas perdas estão tendo apoio psicológico e o hospital está fazendo o possível no auxílio para as pacientes e para a família.

O médico Francisco Mota destacou também que toda paciente tem que ser atendida no Hospital da Mulher, que é porta aberta. Porém nos casos de superlotação, o que é baixo risco, segundo ele, não tem como a mulher ser internada na unidade, por não ter onde colocar a paciente.

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Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade 

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