A estatura ideal da cama, que deve resultar na melhor ergonomia para o morador, é resultante da análise que compreende as questões individuais do morador para conciliar com estilos decorativos. À esquerda, a arquiteta Cristiane Schiavoni imergiu na cultura japonesa para definir uma cama mais baixa, concebida com sua base em madeira, enquanto o dormitório à direita considerou uma altura padrão.
Ao pensar em um dormitório, é muito comum que nossas mentes logo se conectem com uma cama que afague nosso emocional, principalmente em ocasiões em que não nos sentimos tão bem, e que propicie o bem-estar para o descanso físico e mental. Nos projetos de arquitetura de interiores, sua definição é determinante para estabelecer os demais móveis que estarão no seu entorno.
“Quando estou conversando com o cliente para entender como ele almeja, é muito comum que o conforto esteja associado às dimensões que envolvem largura e comprimento”, diz a arquiteta Cristiane Schiavoni, à frente do seu escritório homônimo, citando as referências sobre camas queen ou king size (essa última, maior que a anterior).
Entretanto, a profissional faz um alerta: a grande maioria das pessoas se esquece da questão altura, que é fundamental para a ergonomia no dia a dia. De acordo com ela, com o advento das camas box, composta por uma caixa de madeira que recebe o colchão, o item tornou-se muito mais alto.
“O mercado passou a impulsionar e naturalizar os modelos cada vez maiores e que chegam a ter entre 75 e 80 cm, que pasme, é a referência de uma mesa”, diz. Essa medida acontece devido à somatória entre o box e os colchões de mola, que embora sejam extremamente agradáveis, são mais elevados, e a espessura do pillow top, que gira entre 5 e 10 cm.
Estatura da cama tem relação direta com a saúde
Quando a altura da cama ultrapassa o limite recomendado, o simples ato de se levantar exige esforço extra para apoiar as pontas dos pés no piso ou “dar um pulinho” para subir, movimentos esses que, conforme analisa a arquiteta, comprometem a postura e podem causar, a longo prazo, dores nas costas e nos joelhos.
“É uma questão funcional que as pessoas não estão se dando conta, mas é fato que as camas estão ficando mais altas e isso está passando como normal”, observa Cristiane. “Em detrimento às tendências da indústria moveleira, a comodidade e a segurança estão ficando em segundo plano”, complementa.
Então não devo considerar a cama box?
“Não estou demonizando a cama box, mas sua medida média não acompanha um princípio básico do usuário, que é de acessá-la sem nenhuma dificuldade e, ao sentar-se, poder apoiar os pés no chão para o movimento de levantar”, aponta Cristiane. Todavia, ela reconhece que, por outro lado, essa versão tem o seu benefício, ainda mais quando é possível utilizar o seu interior como baú. “Em dormitórios mais compactos, quando não há a possibilidade de executar uma cama de marcenaria planejada, sem dúvidas se trata de uma mão na roda para guardar aquilo que não precisa ser acessado frequentemente, deixando espaço nos armários para aquilo que for realmente necessário”, relata.
Altura adequada para cada fase da vida
Segundo a arquiteta, as recomendações ergonômicas indicam que a altura da cama deve respeitar o biotipo e a faixa etária dos moradores. Para adultos, o recomendado é que esteja entre 45 e 55 cm, facilitando a mobilidade para levantar-se sem sobrecarregar coluna. Todavia, ela adiciona que, em casos específicos, é possível chegar até 60 cm, desde que ainda haja o apoio firme dos pés no chão enquanto o morador está na posição sentada.
Para crianças pequenas, o excesso de altura representa não só um desafio no acesso, mas também um risco potencial de acidentes. Como solução, Cristiane considera que 40 cm é a referência máxima para garantir a integridade física dos pequenos e ainda acrescenta a importância de considerar a inclusão de proteções laterais. “Esse cuidado é interessante até, aproximadamente os 5 anos, e eu ainda gosto de incluir um tapete, almofadas ou outros itens que ajudem a minimizar os impactos de uma possível queda”, orienta. Acima dos 8 anos, ela indica que já é possível considerar a utilização de uma cama de solteiro com a altura tradicional.
Dois projetos infantis realizados pela arquiteta Cristiane Schiavoni: à esquerda, o modelo
lúdico apresenta grade de proteção e o enxoval forma um ‘U’ almofado atua como um ninho para resguardar o sono da criança. Para pré ou adolescentes, como o dormitório à direta, já é possível especificar uma altura padrão.
Já para idosos, a atenção deve ser redobrada. “Nem pensar uma cama box, pois é normal que no processo de envelhecimento tenhamos uma redução em nossa mobilidade”, argumenta a profissional. Na realização de projetos, ela enfatiza seu cuidado em observar as características do morador para entender qual deve ser a melhor medida a ser especificada.
Sobre a arquiteta Cristiane Schiavoni
Formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (FAU-USP), Cristiane Schiavoni atua na área de arquitetura, decoração e reforma desde 1996 e hoje, o escritório que leva seu nome, tem mais de 20 anos de história, reunindo centenas de projetos dentro e fora do Estado de São Paulo. Em suas criações residenciais e comerciais, publicadas em importantes veículos brasileiros, elementos-surpresa e toques de cor se misturam aos recursos que garantem o conforto e o aconchego dos moradores.
Acabamentos aplicados de maneira incomum e materiais versáteis também são presenças constantes nos trabalhos de Cristiane Schiavoni. O resultado se reflete na concepção de ambientes modernos, humanizados e dinâmicos, que convidam ao bem-estar e, principalmente, traduzem a essência de cada cliente.
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