Covid-19

'Ainda não atingimos o pico', diz infectologista sobre a Ômicron no Brasil

Segundo ele, pesquisas recentes indicam que a curva de contaminação deve atingir níveis mais altos nos próximos 30 dias.

Atualizada em: 21h30

Laiane Cruz

Nesta sexta-feira (28), Feira de Santana registrou 1.168 novos casos da covid-19. Nos últimos dias, os números vêm aumentando de forma exponencial e os efeitos da proliferação da variante Ômicron entre os feirenses já podem ser claramente observados pelo aumento das filas por atendimento em laboratórios particulares, postos de coleta da secretaria de saúde e unidades de pronto atendimento do município. Além disso, órgãos públicos e empresas privadas têm feitos malabarismos para manter o funcionamento, devido à grande quantidade de funcionários pedindo afastamento do trabalho por conta da infecção.

Em entrevista ao Acorda Cidade, na manhã desta sexta-feira (28), o médico infectologista Robson Reis, que atua em diversos hospitais de Salvador, a exemplo do Hospital Geral do Estado (HGE) e o Hospital Aliança, alertou para o fato de que a Bahia e demais estados do Brasil ainda não atingiram” o pico de contaminações pela nova variante Ômicron.

Segundo ele, pesquisas recentes indicam que a curva de contaminação deve atingir níveis mais altos nos próximos 30 dias.

“Infelizmente, ainda não estamos no pico da doença. Quando você pega as publicações científicas e dados dos outros países, o pico da pandemia da covid-19 em relação à Ômicron pode acontecer em média entre 33 dias e 64 dias. O artigo editorial mais recente da revista Lancet, que é uma das mais importantes revistas médicas, coloca que boa parte dos países acaba atingindo o pico da Ômicron com cinco semanas. Aqui no Brasil, a gente costuma ter esse pico, essa manutenção do volume mais alto, de casos diagnosticados por um pouco mais de tempo. Se a gente colocar uma média, a gente pode ter esse pico entre a primeira semana de fevereiro até a primeira semana de março. Mas analisando as outras curvas aqui no Brasil, possivelmente deve acontecer na primeira ou segunda semana de fevereiro”, avaliou.

Para o infectologista, o país está vivenciando um momento crítico da pandemia. No entanto, o avanço da vacinação tem contribuído para que muitos casos sejam leves.

“Nós estamos vivenciando mais uma vez um momento crítico da pandemia da Covid-19, com um aumento muito grande do número de casos e alguns locais batendo recordes diários. E esse número seria muito maior se as pessoas conseguissem realizar o teste de maneira mais fácil, mas alguns locais públicos estão lotados e os laboratórios privados também. Esse número de casos não é real até, e isso é preocupante. Temos visto o aumento das internações hospitalares e também no número de óbitos. Agora o que tem acontecido é que não está havendo uma relação direta do número de casos de internações e óbitos. A Ômicron vai ter realmente um efeito mais leve, mas não devemos subestimar. E o efeito da vacinação que está protegendo nosso país”, observou.

Conforme o especialista, já está comprovado que a Ômicron é extremamente contagiosa, porém sem o mesmo grau de virulência e baixa taxa de letalidade. Ele explicou que o grau de virulência está relacionado à agressividade do vírus.

“Os trabalhos científicos conseguiram demonstrar isso, e o que já tinha acontecendo na prática do comportamento do vírus e a vacinação foi importante para que os números hospitalares e de óbitos não acompanhassem o quantitativo de casos. A vacinação foi extremamente importante para proteger contra as formas graves da doença. A variante Ômicron possui boa parte de suas mutações em uma proteína chamada S (Spike) e a vacina age nessa proteína. Então a pessoa pode ser contaminada, porém a vacina é excelente para evitar internamentos e casos graves, e isso foi comprovado nos país onde a variante explodiu.”

As pesquisas recentes indicam também que nos Estados Unidos, 99% dos pacientes internados graves foram pessoas que não se vacinaram. Aqui no Brasil, acredita-se que 90% dos pacientes que precisaram internar são aqueles que também não se vacinaram. E em meio às incertezas da pandemia, já se fala em quarta dose das vacinas.

“Em relação à quarta dose da vacina, eu ouvi alguns comentários em forma de brincadeira, que era um looping infinito. Nenhum governo tem interesse em gastar dinheiro com vacinas, mobilizando a população se isso não fosse necessário. Infelizmente, é um vírus novo e as vacinas tiveram que entrar no mercado de forma mais rápida, passaram por todos os testes de segurança e eficácia, e no acompanhamento dos pacientes percebe-se que a imunidade, principalmente de pacientes com comorbidades, doenças autoimunes e idosos, encontra-se mais baixa. Então com o passar do tempo a eficácia da vacina vai diminuindo fazendo-se necessária a aplicação de outras doses. O que nós acreditamos é que a vacina contra a covid-19 será durante como a vacina contra a gripe, anualmente a pessoa precisará tomar. A vacina não é um medicamento da imortalidade, não vai te garantir que não terá complicações em relação à covid. Ela traz uma alta taxa de proteção, mas em nenhum momento é garantido que ninguém irá morrer pela doença.”

As festas de final de ano e o relaxamento das medidas de proteção contra o vírus contribuíram para que houvesse um espalhamento mais rápido da nova variante entre a população. Favorecendo também a proliferação de outras síndromes respiratórias, como a Influenza A H3N2.

“Eu sempre sinalizei sobre isso em entrevistas nos meios de comunicação, sobre o aumento do movimento nos centros de compras, e como a pandemia estava em um momento mais tranquilo, as pessoas deixaram de utilizar máscaras, deixaram de manter o distanciamento físico, as confraternizações, em que famílias que vinham se cuidando no final de 2020, em 2021 acabaram relaxando, e aí realmente muita gente cansada da pandemia, saturados, acabaram relaxando nas festas de família, de amigos, empresas, esquecendo das máscaras, distanciamento, e isso contribuiu sim para o aumento de casos e principalmente da variante Ômicron. E os casos de H3N2 acabaram surgindo em um momento em que não costuma surgir. Ele é mais um subtipo do vírus da gripe”, destacou.

Com essa nova variante da gripe também circulando entre a população, a atenção dos profissionais de saúde que lidam com pacientes também precisa ser redobrada, uma vez que os sintomas são semelhantes.

Os vírus mais comuns da gripe são a Influenza A H1N1, Influenza A H2N1 e Influenza B, que costumam surgir no inverno, em um momento mais propício ao surgimento deles, porém eles começaram a surgir entre nós no verão, e possivelmente esse aumento de casos deve ter acontecido por conta baixa vacinação, pois as pessoas focaram na vacina contra a covid-19 e esqueceram a da Influenza. Além disso, essa vacina atual traz uma baixa proteção contra o vírus circulante H3N2 e isso é importante chamar a atenção. Os quadros de gripe e covid se assemelham muito. O paciente com um resfriado comum vai ter dor de garganta, tosse, espirro, febre baixa e, às vezes, uma fraqueza. O paciente com gripe vai ter tosse, dor de garganta, febre alta geralmente de 38,5, fica mais prostrado. Já os casos de covid aparecem de várias formas: pode ser um quadro assintomático, um resfriado comum, pode ser mais sintomático como num quadro de influenza, então é um paciente que a gente tem que tomar bastante cuidado em investigar.”

Quando a pandemia finalmente irá acabar é a pergunta que prevalece entre a população. Para Robson Reis, essa uma questão difícil de equacionar por se tratar de algo global.

“Em uma pandemia é mais difícil de responder porque ocorre no mundo inteiro e podem acontecer o que acabamos de ver com o surgimento de uma variante, como a Ômicron que é extremamente contagiosa e se o vírus encontra um ambiente propício para se propagar onde as pessoas não estão vacinadas, pode ocorrer o risco de o vírus se multiplicar e aparecerem novas variantes. O diretor da OMS disse que no ano de 2022 saíremos da fase aguda da Ômicron, isso já é um alento. As máscaras, muitos colocam que no nosso novo normal, algumas pessoas continuarão a utilizar, em locais com muitas pessoas, a exemplo de transporte público, centros de compras muitos cheios. Em alguns países já se utiliza isso como forma de proteção. E em relação à vacina é preciso aguardar um tempo para que possa definir se essa vacina fará parte do calendário vacinal anual”.

 

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