Eleições 2012

Vice negra é passo para valorizar liderança feminina

A escolha de uma representante do sexo feminino e afrodescendente para a função é um marco, sobretudo em uma capital cuja maioria da população é negra, mas ainda registra casos de preconceito racial, e onde as oportunidades de emprego e renda são desiguais para os gêneros, principalmente na área política.

 

Acorda Cidade
 
Independente do resultado das urnas no dia 28 de outubro, Salvador terá pela primeira vez em sua história uma mulher negra ocupando o cargo de vice-prefeita, o segundo mais importante da cidade. A escolha de uma representante do sexo feminino e afrodescendente para a função é um marco, sobretudo em uma capital cuja maioria da população é negra, mas ainda registra casos de preconceito racial, e onde as oportunidades de emprego e renda são desiguais para os gêneros, principalmente na área política.
 
Embora a composição da chapa dos candidatos com vices-negrasCélia Sacramento do PV compõe com ACM Neto do DEM e Olívia Santana do PC do B, com Pelegrino (PT) – seja considerada uma avanço, sobretudo simbolicamente, a escolha, por outro lado, suscita questionamentos. Primeiro, pelo papel de "meras coadjuvantes" desempenhado pelas vices, o que, para a socióloga e presidente do Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra, Vilma Reis, é uma "imagem usada para compor, ao lado de machos brancos".
 
Segundo, pelas escolhas de Célia e Olívia serem encaradas como uma tentativa dos partidos de ampliar sua base eleitoral. Coligando-se a mulheres negras, as chapas resignificam sua marca junto ao eleitorado, de acordo com o cientista político Cloves Oliveira. Tentam, dessa forma, se alinhar às bandeiras da diversidade e da igualdade de direitos para contrabalançar a hegemonia de homens brancos, de classe média, suavizando, assim, o perfil duro das legendas.
 
Em vez de ocupar a função de vices, Vilma Reis acredita que as legendas deveriam tê-las colocado como candidatas titulares. A socióloga usa como exemplo a candidatura de Benedita da Silva, mulher e negra, à prefeitura do Rio de Janeiro, em 1992, como um ponto positivo para a conquista dos direitos dos afrodescendentes. Salvador, para a presidente do Conselho, ainda tem muito a avançar nesse sentido.
 
"O poder aqui ainda é macho, branco e heterossexual, e não são pensadas outras possibilidades. Por incompreensão e por projeto político de uma classe dominante, simplesmente as mulheres negras não são apresentadas como possibilidade", afirma Vilma Reis.
 
Histórico de lutas As duas candidatas, Célia Sacramento e Olívia Santana rebatem a ideia de um papel secundário atribuído a elas. Argumentam que possuem histórico de luta para a autonomia feminina, conhecimento e experiência necessárias em áreas que lhes permitirão trabalhar na implementação de melhorias para a cidade ao lado do prefeito eleito.
 
"Não me vejo como coadjuvante em lugar nenhum. Jamais faria esse papel. Desde a escola até a Ufba e Cairu (onde estudou), sempre fui líder de sala. Sou uma líder nata", garante Célia Sacramento. Olívia Santana afirma que não se contentará com o desempenho de uma vice muda, que estará no cargo apenas para compor. "Serei uma vice-prefeita que pretende ajudar meu candidato a governar a cidade", acrescenta.
 
Com histórias políticas diferentes, mas igualmente engajadas nos movimentos pela luta da afirmação feminina e da conquista de equidade racial, Célia e Olívia comemoram a escolha e sentem-se orgulhosas de participar de um momento inédito para o processo eleitoral e para a luta da igualdade dos direitos sociais em Salvador. Concordam, contudo, que ainda não é uma conquista plena devido a histórica e "gritante" falta de oportunidade para essa parcela da população.
 
"É uma forma de recuperar a autoestima da mulher negra, marcada pela ideia de estar fadada a ser empregada doméstica , servente ou para desempenhar trabalhos de limpeza. Fomos criadas com esse complexo de mucama", afirma a candidata do PC do B. A parceira de chapa de ACM  Neto vai na mesma linha: "Sempre fomos excluídos, e esse é um momento importante para a nossa história, um momento real de inclusão social".
 
Modelo americanoA escolha de políticos negros para encabeçar as chapas, usando como parâmetro os Estados Unidos, nem sempre é feita na primeira participação das candidaturas majoritárias, como explica o cientista político Cloves Oliveira. Nos EUA, entre a década de 60 e 90, muitas oportunidades foram resultado de alianças de candidatos a prefeito brancos, aliados a vices negros, que, logo em seguida, conseguiam apoio político e suporte para concorrer à cadeira de prefeito, e posteriormente, de governador. quatro anos, o país levava à Casa Branca o primeiro presidente negro de sua história.
 
"O grande equivoco é que algumas lideranças falam em termos de '' conquistou a cadeira de vice-prefeito por questões de interesse estratégico de um determinado partido. Ao passo que uma reflexão, seria: ' conquistamos uma cadeira de vice, e podemos trabalhar em prol de uma cadeira de titular'", afirma o professor da Ufba.
 
O sociólogo Ordep Serra concorda com a avaliação de Vilma Reis ao afirmar que a candidatura de Célia e Olívia ainda não correspondem às necessidades de inclusão social e feminina. "Ainda temos poucas mulheres negras ocupando espaços importantes e quem vencer não deve esquecer que em Salvador a violência contra a mulher ainda é muito grande, e que a população negra é ainda mais pobre, marginalizada e desassistida". As informações são do A Tarde.
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