Política

Temer e Kassab podem pegar o vácuo de Quércia

A morte do Quércia deixa o maior partido do País sem representante na maior unidade da federação", avalia Leonardo Barreto, cientista político da Universidade de Brasília (UNB).

A importância histórica de Orestes Quércia não é questionada por nenhum estudioso da política paulista. O ex-governador teve papel fundamental na formação e estruturação do maior partido do País, o PMDB, na redemocratização do Brasil e na formação daquele que se tornaria um dos dois polos da política nacional, o PSDB. Para cientistas políticos ouvidos pela reportagem, a morte de Quércia deixa um vácuo no peemedebismo de São Paulo, que deverá ser preenchido pelo vice-presidente eleito, Michel Temer, ou pelo prefeito paulistano, Gilberto Kassab (DEM), cuja migração para o PMDB é dada como certa por muitos.

"O Quércia foi eleito senador em 1974, em um momento em que ele encarnou o processo contra a ditadura militar", diz o cientista político Marco Antônio Teixeira, professor da Fundação Getúlio Vargas. "Era um ilustre desconhecido, mas grande parte da população de São Paulo viu nele a possibilidade de mostrar sua insatisfação com o regime, que naquele momento mostrava sua face mais dura."

"Neste período, o Quércia tem um papel fundamental na formação do MDB em São Paulo. Ele parte para o interior do Estado e vai estruturando vários diretórios locais do partido", conta Carlos Melo, cientista político do Insper. "Isto lhe dá, no longo prazo, o controle do partido. "Este controle, avalia Melo, permitiu que Quércia impusesse seu nome como candidato a vice-governador na chapa vitoriosa liderada por Franco Montoro em 1982. "Tal era a força dele no MDB e depois no PMDB, que ele conseguiu impor o seu nome à sucessão do Montoro, em 1986."

Foi na gestão de Quércia no Palácio dos Bandeirantes que o PMDB se dividiu, dando origem ao PSDB. Lideranças como Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Geraldo Alckmin declararam-se decepcionadas com o que consideravam leniência do então governador com a corrupção. "A administração de Quércia está intrinsecamente ligada à formação do PSDB", explica Marco Antônio Teixeira.

Para Carlos Melo, o então governador paulista poderia ter se tornado o presidenciável do PMDB nas eleições de 1989 – e com sucesso. "Mas, talvez por um cálculo errado, ele respeitou a fila interna e cedeu o lugar para o Ulysses Guimarães. Se o Quércia tivesse sido o candidato, talvez o Collor não fosse eleito."
O governo de Luiz Antônio Fleury Filho – secretário da Segurança na gestão quercista e escolhido pelo próprio à sua sucessão – enfraqueceu politicamente o ex-governador. "O governo Fleury foi um fracasso sob vários aspectos, e depois disso o Quércia nunca mais conseguiu se eleger. Mas ele manteve o controle da máquina partidária", diz Melo.

Um controle que se manteve intacto até 2010, quando o ex-governador articulou o apoio do PMDB paulista à candidatura de José Serra à Presidência. Com o agravamento de sua doença, porém, muitas lideranças do partido – entre elas, três dos quatro deputados peemedebistas na Assembleia Legislativa – passaram a dar sustentação a Dilma Rousseff.

"O PMDB estava dividido em São Paulo entre o grupo quercista e o grupo do Michel Temer (vice-presidente eleito). A morte do Quércia deixa o maior partido do País sem representante na maior unidade da federação", avalia Leonardo Barreto, cientista político da Universidade de Brasília (UNB). Para ele, Temer deverá assumir a liderança no Estado, mas terá dificuldade de agregar os grupos quercistas. "Se o Gilberto Kassab quiser se colocar como líder regional do partido, precisará se filiar ao PMDB o mais rápido possível, antes que alguém assuma esse papel."

Para Marco Antônio Teixeira, "não há dúvidas" de que Temer ganhará força na direção estadual do PMDB. Ele aponta, porém, que ainda há lideranças fiéis a Quércia em posição de destaque, como a vice-prefeita de São Paulo, Alda Marco Antônio. "A verdade é que o quercismo continua, só não está claro por meio de quem", diz.

( As informações são do Estadão)

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