Lançado pré-candidato à Presidência da República pelo encontro do PSDB-DEM-PPS, realizado neste sábado, 10, em Brasília, o ex-governador José Serra apresentou-se como o "pós-Lula" que se propõe a trabalhar pela união do Brasil; não para dividi-lo. Por nove vezes, Serra insistiu que o Brasil "pode mais", dando assim o mote de sua campanha. "Não queremos pobres contra ricos, sul contra norte, somos todos uma Nação só", disse Serra.
Ele prometeu combater o crime organizado e investir na segurança pública. "Qual pai ou mãe de família não se sente ameaçado pela violência, pelo tráfico e pela difusão do uso das drogas? O governo tem de investir em clínicas e programas de recuperação para quem precisa e não pode ser tolerante com traficantes de morte. Mais ainda se o narcotráfico se esconde atrás da ideologia ou da política". Serra disse que é preciso construir mais presídios, porque quem comete crimes tem de ser punido e preso.
Num contraponto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que costuma agir como se o Brasil só tivesse passado a existir depois de 2003, Serra lembrou que nos últimos 25 anos – exatamente da eleição de Tancredo Neves para cá – o povo brasileiro alcançou muitas conquistas, como o direito de votar no presidente, o fim da censura, uma imprensa livre, o Estado democrático de direito, a nova Constituição, o Plano Real, o controle da inflação, a responsabilidade fiscal dos governos, o Sistema Único de Saúde (SUS).
"Não foram conquistas de um só homem ou de um só governo, muito menos de um único partido. Todas são resultado de 25 anos de estabilidade democrática, luta e trabalho. E nós somos militantes dessa transformação, protagonistas mesmo, contribuímos para essa história de progresso e de avanços do nosso País. Nós podemos nos orgulhar disso", disse Serra, posicionando-se, com seu partido, o PSDB, como protagonistas da História dos últimos 25 anos, em que ocorreram as conquistas democráticas, assim como o são o PT, o PMDB e os demais partidos.
O tucano afirmou que hoje o Brasil é carente de infraestrutura e tem de fazer grandes investimentos no setor. "No geral as estradas não estão boas, faltam armazéns, os aeroportos vivem à beira do caos, os portos há muito deixaram de atendes às necessidades." Ele lembrou que o PIB pode crescer muito mais se a infraestrutura for adequada.
José Serra fez críticas à política externa adotada pelo Brasil. Afirmou que o País não pode tolerar aqueles que mantêm prisioneiros políticos ou os fuzilam, numa alusão ao apoio que o Brasil dá a Cuba e ao Irã. Sobre às relações econômicas do Brasil com outros países, ele lembrou que enquanto no mundo foram assinados mais de 100 acordos de livre comércio, o Brasil, junto com o Mercosul, assinou apenas um, com Israel, ainda não implementado.
Quanto à campanha política que virá, Serra disse que às provocações, responderá com serenidade. "Às falanges de ódio que insistem em dividir a Nação vamos responder com trabalho presente e nossa crença no futuro. Vamos responder sempre dizendo a verdade. Aliás, quanto mais mentiras os adversários disserem sobre nós, mais verdades diremos sobre eles".
O tucano cutucou os petistas. Disse que o Brasil não tem dono. Pertence a todos os brasileiros que trabalham, que estudam, que querem subir na vida, que acreditam no esforço, que não se deixam corromper, que não toleram os malfeitos. E, numa alusão velada ao apoio do ex-governador Anthony Garotinho (PR) à candidatura de Dilma Rousseff, que no passado chamou o PT de "partido da boquinha", Serra afirmou que o Brasil é também dos brasileiros que não dispõem de uma "boquinha", dos que exigem ética na vida pública porque são decentes, dos que não contam com um partido ou alguma maracutaia para subir na vida.
Houve alusão também ao excesso de conferências sobre os mais diferentes assuntos adotadas no governo de Lula, que remetem a uma espécie de democracia direta, sem a necessidade do Congresso. Nesses conferências, sempre se aprovam propostas totalitárias, como o controle social da mídia e censura aos meios de comunicação. "É bom reafirmarmos nossos valores", disse Serra. "Começando pelo apreço à democracia representativa, fundamental para chegarmos onde chegamos. Devemos respeitá-la, defendê-la, fortalecê-la. Jamais afrontá-la".
Serra lembrou que na Constituinte (1987/88) fez as emendas que permitiram criar o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), financiar e fortalecer o BNDES e tirar do papel o seguro-desemprego. No Ministério da Saúde de Fernando Henrique conseguiu implantar os genéricos, proibir o fumo nos aviões e a propaganda de cigarros, a regulamentação dos planos de saúde, o combate à falsificação de medicamentos e a aprovação da chamada PEC 29, que vinculou recursos à saúde nas três esferas da Federação. Tudo aprovado por parlamentares de todos os partidos, disse o ex-governador, sempre na linha de que defende um Brasil unido e não dividido.As informações são do Estadão.