Política

Sérgio Carneiro assume Sedur com desafio de dar novo gás a pasta que passou quase 20 anos sob o mesmo comando

Ele substitui José Pinheiro, que estava no comanda da pasta nas últimas quatro gestões.

Orisa Gomes

Após quase 20 anos sendo comandada por José Pinheiro, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano de Feira de Santana ganha novo comando. O advogado, ex-deputado federal, ex-presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano e Articulação Municipal (Interurb) e ex-secretário municipal de Relações Interinstitucionais e de Meio Ambiente, Sérgio Carneiro (PV), assume uma das principais pastas da gestão municipal, com o desafio de renovar as ações.

 As demandas são grandes, principalmente no que se refere ao piso da cidade, que já é ruim e tem o estado agravado anualmente nos períodos de chuva, como o de agora. O que não se sabe é se junto com a mudança de secretário, haverá também disponibilidade de recursos e equipe para ampliação do trabalho.

A população de Feira de Santana pode esperar melhorias nesse sentido? Para tentar responder a essa e outras perguntas, o Acorda Cidade entrevistou o secretário Sérgio Carneiro, que também avalia o cenário político municipal, estadual e nacional.

Acorda Cidade – Não dá para a gente falar do currículo agora, porque é amplo, não é? O importante é daqui para frente.

Sérgio Carneiro – O que vale é daqui para frente, o passado é importante como referência de todas essas experiências que você citou, sobretudo na área de obras, como presidente da Inteurb. São obras com mais de 30 anos, que servem ao povo da nossa terra e que muito me orgulha pela qualidade com que elas foram feitas. Acredito que tudo isso, com uma amizade de mais de 29 com o prefeito Colbert Martins, o levou a confiar a mim esse tremendo desafio que é a Secretaria de Desenvolvimento Urbano. Feira de Santana me conhece, eu procurei imprimir uma marca positiva e não quero que se tenha tantas expectativas, porque a gente assume sempre com muita humildade e aos poucos vai imprimindo o ritmo. Espero que a sorte esteja ao meu lado, que eu consiga motivar a equipe que lá vou encontrar para que nós possamos fazer um grande trabalho por nossa querida Feira de Santana.

AC – O senhor já tem um plano para recuperação do piso da cidade?

SC – Eu vou tomar posse, vou esquentar a cadeira e conversar com a equipe que lá está montada, vou ouvir o secretário Pinheiro – fomos colegas no secretariado, eu nas Relações Interinstitucionais, Meio Ambiente e ele no Desenvolvimento Urbano -, vou ouvir meu amigo (ex-prefeito) José Ronaldo, pela experiência de quatro mandatos, e sei que, pela experiência dele, não vai negar me dar conselhos sobre secretaria que ele conhece tão bem. E vou ajustar com o prefeito Colbert, para que a gente possa fazer um melhor serviço possível. Não quero antecipar planos, mas você (Dilton Coutinho) e Feira de Santana me conhecem e vou dar o meu melhor, com muita seriedade. Tem uma equipe boa lá, profissionais com muitos anos na arquitetura, engenharia… Iremos motivar essa equipe para extrair dela o melhor possível. Colbert não me convidaria, se ele não tivesse um olhar muito especial para esta secretaria, então estou confiando nisso: nessa amizade, nesse entrosamento, para que a gente possa fazer o melhor possível para a nossa terra.

AC – O senhor falou aí da Interurb, mas sabe que aqui é diferente, não é? Não vai encontrar no município o que se tinha lá.

SC – Transformamos em uma empresa pública, justamente para captar recursos e conseguir trazer recursos do antigo Banco Nacional de Habitação (BNH), para fazer os canais de macrodrenagens. Conseguimos fazer um trabalho e a empresa mudou de autarquia para empresa pública e deu a condição de atuarmos. Eu vou fazer um diagnóstico da Sedur, vou procurar o Prefeito Colbert, ajudar não apenas nisso, mas estávamos conversando e dei uma sugestão a ele, para que fizesse um levantamento de todo ativo imobilizado da Prefeitura. O que é que a Prefeitura tem e não é utilizado, que pode ser até ocupado irregularmente? Terrenos, imóveis, tudo isso pode ser leiloado, vendido, desde que se tenha autorização da Câmara. Ele gostou de toda a ideia, ficou de fazer o levantamento, então eu vou pegar toda essa experiência que nós temos, sobretudo o que ele tem, um pouco que eu tenho, para a gente somar forças e tentar ajudar da melhor forma possível. O importante é que Feira de Santana tenha o que ela precisa e é isso que vamos fazer. Irei ajudar Colbert o máximo que eu puder, para além das minhas funções como secretário de Desenvolvimento Urbano.

AC – Aconteceu algum ajuste político? As informações eram que o senhor poderia ser vice de Zé Neto (PT), então a equipe puxou o senhor para cá, teve isso?

SC – Não. Me dou bem com Zé Neto, temos um trato bastante amistoso, cheguei a almoçar com ele, mas não houve nenhuma tratativa. Zé Ronaldo e Colbert, que sempre mantiveram esse contato comigo, nunca perderam essa comunicação. Ronaldo, inclusive, teve no escritório de advocacia e, as vezes, a gente se falava. Colbert também. E como eu tenho relação com (deputado estadual) Ângelo Almeida, com (vereador Roberto) Tourinho…Ttodo mundo sabe, eu estava muito desencantado com a política, mas em 2018 eu fiz uma tentativa e eu estava achando que o Brasil estava vivendo um novo momento, desde 2013, quando o povo foi às ruas, pedia ética, seriedade na política, ocuparam a Getúlio Vargas, Farol da Barra… e eu acreditei nisso, naquele momento. Eu acordo todos os dias para ser um militante na construção de um mundo melhor e quando foi em 2014, vi o povo eleger no Congresso Eduardo Cunha, então eu disse: “Vai ter que aprofundar essa coisa”, mas, infelizmente, não deu certo, paciência, eu não entendi direito o que faltou. Então, a gente levanta, sacode a poeira e Colbert está me dando uma chance aí de atuar na vida pública, não necessariamente em cargo eletivo, mas é uma forma de servir ao povo de Feira, o que tenho enorme prazer, algo que aprendi com meu pai (ex-governador João Durval Carneiro). O amor que a gente tem por essa Feira nos faz enfrentar qualquer desafio e é justamente esse amor que tenho por Feira e sua gente, que vai me levar a me dedicar todos os dias que eu estiver a frente dessa secretaria. Como eu fiz quando estive com outros cargos e que pude ajudar o lugar onde nasci.

AC – Chegou-se a criar um grupo alternativo com Roberto Tourinho. O senhor cogitou, no momento, que poderia ser o candidato pelo grupo? O senhor desistiu ou não teve nenhuma possibilidade disso acontecer?

SC – Já, tanto que disse que não tinha interesse em ser candidato esse ano. Eu acho que o grande momento era em 2018 e, infelizmente, não aconteceu. Houve um erro de avaliação da minha parte ou eu não soube articular direito o que imaginei. Mas não tem problema, como eu disse: quando ganho, divido a vitória com muita gente; quando perco, a culpa é só minha. Eu não soube fazer, não soube construir, enfim, não deu certo. Nós pensamos, mas aí o PCdoB recuou e eu tive esse convite e eu já participei desse governo em duas secretarias e mantenho as relações pessoais com todos, inclusive com Zé Neto, com (Roberto Tourinho) Beto, com Ângelo, com todos. Quem me conhece sabe que eu faço política disputando ideias, eu não discuto pessoas. Me lembro muito bem quando Ronaldo me deu posse pela primeira vez na secretaria de Relações Interinstitucionais, ele disse que uma das condições de me convidar era que, apesar da gente ter disputado sempre a política, eu no PT e ele no DEM, eu nunca tinha feito uma crítica pessoal a ele e aquilo marcou muito. Para mim, traduziu muito bem a minha postura, o que eu sempre imaginei em termo de política. Quem tem que brigar são as ideias, não são as pessoas. Nós temos que manter todo o nível de urbanidade, respeito e educação para com o próximo. Você pode ter concorrentes na política, mas não que sejam irreconciliáveis.

AC – A equipe me perguntou aqui, foram as secretarias Interinstitucionais e de Meio ambiente, não foram?

SC – Ronaldo me convidou. Fizemos ali uma trabalho que ele entendeu que eu poderia contribuir mais, me passou para a Secretaria de Meio Ambiente, demos a nossa colaboração, mas terminamos deixando, para fazer uma tentativa de voltar à Brasília e ajudar ainda mais a nossa terra. Infelizmente não deu certo, paciência. Agora, o Governo me resgata para um novo desafio e irei me esforçar para fazer o melhor possível.

AC – O senhor vai voltar a morar em Feira de Santana, não é isso?

SC – Eu sempre morei em Feira. Criaram aí uma lenda com minha residência. Vou fazer 60 anos e morei em 11 lugares em Feira. Não seria possível ficar fora da cidade por tanto tempo. O que acho engraçado é que outras pessoas efetivamente passam mais tempo fora de Feira do que eu e não são cobradas. Eu dou risada e digo isso a minha esposa que se tem um lado positivo, que depois de virarem minha vida de cabeça para baixo de um lado para outro, não descobriram nenhuma mácula com relação a incompetência, falta de honestidade e etc. Então, ser atacado pelo fato de não morar em Feira, além de ridículo, chega a ter esse lado positivo, até porque João Durval fez muito por Feira de Santana e, na época, morava em Salvador, no Palácio de Ondina. A questão não é essa de residência, é o compromisso que você tem com a cidade e acho que já dei provas, em toda minha vida, do compromisso, do amor que tenho por Feira de Santana. Isso é algo que nem diz nada, não importa, o que importa é o trabalho que nós vamos fazer e vamos entregar a Feira de Santana.

AC – Como está ( o ex-governador) João Durval?

SC – Está bem. Com 91 anos, está bem, ele e minha mãe (Yeda Barradas). A medicina está prolongando a vida das pessoas, mas não garante a qualidade, então aí precisamos conviver com isso, mas ele está muito bem assistido.

AC – Me faça uma avaliação: Governo Rui Costa.

SC – Eu não sou julgador, mas as pesquisas de avaliação mostram ele como bem avaliado. Ele pegou uma situação estruturada pelo (ex-governador) Jaques Wagner, esse com uma grande cabeça política, eu convivi com os dois e o Wagner é brilhante. Então, ele deixou algumas coisas que Rui concluiu. Teve o Manoel Vitório também, um grande parceiro naquela recepção que nós vivíamos e agora, que o país está meio agitado, com uma turbulência, veio essa pandemia que vai jogar o PIB mundial no chão. Na Inglaterra mesmo, o PIB caiu 20%, então todas as avaliações são catastróficas, porque as pessoas estão tendo despesas, mas não estão tendo como atualizar a receita. Se as pessoas não fazem receita, não podem sair de casa, o cliente não vai à loja e ninguém compra, você não paga imposto, então vai cair a arrecadação dos impostos também e isso vai dificultar para prefeitos, governadores… Uma situação muito difícil e vai ser um grande problema, mas até aqui, Rui segurou bem o time. Há disputa ideológica do que você faria com os mesmos R$ 10. A esquerda faz uma coisa, a da direita faz outra, o centro faz outra, é uma disputa mesmo do que fazer, sai do bolso de todos nós.

AC – Governo Bolsonaro.

SC – Difícil, ele cria muito tumulto. Embora o defendam, apontem aí na economia, acho que poderia estar melhor. Fui colega dele nos dois mandatos que estive lá e, realmente, acho que agora a instituição da presidência está conseguindo moldá-lo, porque ele chegou com um ímpeto de deputado, e a presidência da República instituição, assim como moldou um pouco o (Donald) Trump, eles são pessoas de personalidades difíceis de se ajustarem, mas vamos ver aí, eu não estou muito nessa de política não, mas como cidadão, cada um tem uma opinião. Eu acho que se o povo não queria o PT, tinha aí umas 14 opções a se fazer, como Marina (Silva), Ciro (Gomes), mas resolveram optar por Bolsonaro. Como o povo sempre tem razão, a gente tem que respeitar e torcer para que tudo dê certo, mas na verdade é muita confusão aí.

AC – E Colbert?

SC – Colbert está bem. Muito bem preparado, ele tem aquela calma como se vê nos médicos, muita tranquilidade, tem experiência política. A prefeitura realmente é muito difícil. Feira de Santana é maior do que 8 capitais brasileiras, entre 5.577 municípios brasileiros, é o maior entroncamento rodoviário do Norte/Nordeste, mas não tem a arrecadação de metrópole e eu lembro do amigo (secretário de Planejamento) Carlos Brito, que todo ano durante o governo de Ronaldo, com o orçamento em bilhão e era difícil de atingir esse bilhão, então eu dizia: “Poxa! Como é que coloca uma valor desse sabendo que não vai alcançar?” E aí ele dizia: “Sérgio, eu coloco como meta, para que a equipe toda busque esse resultado”. Ele estava certo. Você vai aprendendo sempre. Pela experiência dele, eu aprendi essa: põe como meta, se não realizar, paciência. Até que finalmente a meta foi alcançada. Então, Feira de Santana precisa entender que é uma cidade muito difícil de ser administrada, até porque ela precisa dar conta não só da população, mas também da população flutuante que usufrui dela, dos serviços dela. Embora haja contrapartida, deixa muito dinheiro aí nos serviços que usa, mas essa relação faz com que ela ainda tenha um estado de grandeza, o porte de uma metrópole, mas não tem a receita de uma capital, melhor dizendo assim. As oito capitais que Feira é maior, provavelmente deve ter uma receita maior do que ela.   

Colaborou o estagiário Gabriel Gonçalves.

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