Acorda Cidade
A "1ª Parada Gay de Queimadas", em 2014, foi um rebuliço. Houve preconceito, a madrinha do evento mudou de endereço, e o movimento LGBT da cidade centenária e de rotina pacata no sertão baiano, a 300 km de Salvador, acabou. Inconformada com a situação, a jovem transsexual Bruna Pavanelly, 21 anos, agora só pensa no futuro. E o futuro passa pela segunda edição da Parada, em fevereiro de 2020, da qual é a organizadora, e por sua inédita pré-candidatura a vereadora pelo PT.
Até se imaginar ocupando uma cadeira na Câmara Municipal de Queimadas, no Território do Sisal, Bruna Pavanelly foi auxiliar de cozinha, cabeleireira e funcionária da Prefeitura. Enfrentou o medo da lgbtfobia e a vergonha de não ser aceita pela família ou pelos estranhos. Uma dúvida nunca teve: "Sempre fui mulher, sempre gostei de short curto, de vestido no joelho. Quando passei a pensar mais em mim, aí me desbandeirei".
Desempregada, Bruna afirma que lutar pelos direitos dos LGBT é o seu grande objetivo, e, caso seja eleita, pretende trabalhar em parceria com a Prefeitura, criando uma casa de apoio para essas pessoas, normalmente esquecidas do poder público. "Estamos num momento crítico do País. Tem gente na minha cidade que está sem receber porque o presidente cortou as verbas. Não quero subir no palanque só para me eleger, mas trabalhar por quem mais precisa de visibilidade", diz a aspirante a vereadora.
Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), o número de candidatos trans e travestis nas eleições de 2018 foi dez vezes maior que o do pleito de 2014. Ao todo, foram 52 concorrentes a um cargo no Legislativo. Foi a primeira eleição no país a aceitar o uso do nome social, forma como transexuais e travestis querem ser reconhecidos socialmente.