Eleições 2018

Quem ganha com a prisão de Lula? Entenda como fica a disputa pela Presidência

Entre os partidos de esquerda, a briga pela herança eleitoral de Lula já começou.

João Paulo Machado

Com Lula preso e fora do páreo, o cenário para as eleições deste ano fica extremamente fragmentado. A avaliação é de Leonardo Barreto, doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB). De acordo com o analista, a prisão do ex-presidente deve dar fôlego a candidaturas que antes não viam espaço para crescer.

“A saída do presidente Lula retira um vetor de polarização do processo eleitoral. Então, você vai ter uma pulverização de candidaturas, um número maior de candidaturas que passa a acreditar que possa ter algum tipo de viabilidade política”.

Leonardo Barreto considera que, entre os partidos de esquerda, a briga pela herança eleitoral de Lula já começou. Ele destaca quatro nomes na disputa pelo voto “lulista”.

“À esquerda, você vai ter vários partidos brigando pelo espólio eleitoral do Lula. Eu acho que Manuela d'Ávila e Guilherme Boulos, do PC do B e do Psol, foram ungidos como herdeiros do Lula, mas você também tem, acho que mais duas outras opções, que são Joaquim Barbosa, que se filiou ao PSB, que ainda tem que viabilizar sua candidatura, mas está colocado, e Ciro Gomes (PDT)”.

Leonado Barreto destaca que Ciro Gomes não esteve presente nos atos em defesa de Lula, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo. Segundo ele, o ex-governador do Ceará, que postou nota defendendo Lula, pode estar buscando um eleitorado mais moderado.

“Nesse aspecto chama muito a atenção o fato de Ciro Gomes não estar presente no palanque do Lula. Ele, então, de repente vai trabalhar uma posição mais moderada e aí então fez questão de ter algum distanciamento de Lula naquele momento”.

Para o cientista político, o voto de Lula não está exclusivamente condicionado a eleitores de esquerda. Segundo ele, nomes como Geraldo Alckmin (PSDB) e Jair Bolsonaro (PSL) também podem ser beneficiados pelo vazio eleitoral deixado pelo ex-presidente.

“Você vai ter, talvez, eleitores do Lula mais ao centro que podem caminhar para uma candidatura, por exemplo, como Geraldo Alckmin, que sinalizou que vai ser ortodoxo, liberal na economia, mas que manterá a direção progressista nos valores. Você tem um voto que pode ir para o Bolsonaro, sim, que é um voto de natureza mais populista, mas também tem um voto antissistema. Eu acho que você vai ter muitos eleitores do Lula que vão dizer assim: ‘olha, se eu não puder votar no Lula, então eu vou sabotar o sistema’. E você vai ter o pessoal que vai tentar manter a coerência em termos de política econômica. ‘Não, eu quero votar em um candidato que tem orientação econômica de esquerda’”.

Na última pesquisa Datafolha, divulgada em Janeiro, o deputado Jair Bolsonaro liderava o cenário, com 20% das intenções de voto, tecnicamente empatado com Marina Silva (REDE), que pontuou 16%. A ex-senadora, de acordo com Barreto, também pode se beneficiar com a saída de Lula da eleição. No entanto, o especialista aponta para as dificuldades da pré-candidata, desgastada por duas eleições consecutivas.

“Há um ceticismo muito grande em relação à Marina por um desgaste acumulado durante as campanhas anteriores. A Marina nunca conseguiu se posicionar à esquerda ou à direita, mesmo ela defendendo que essas categorias de posicionamento não são importantes. Mas o fato é que ela acabou ficando sem identidade e isso cobra um preço, sempre cobrou”.

Leonardo Barreto destaca que a análise é momentânea, já que as eleições ainda estão distantes e muita coisa pode acontecer. O PT, por exemplo, pode tentar registrar a candidatura de Lula, mesmo que o político esteja preso. A investida pode ser uma alternativa para ganhar tempo, aproveitando o espólio eleitoral de Lula, enquanto o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) analisa o pedido do partido. A solicitação, no entanto, deve ser negada, uma vez que o petista foi condenado em segunda instância e por isso esbarra na Lei da Ficha Limpa.

Preso desde o último sábado, o ex-presidente teve, em janeiro, a condenação dada pelo juiz Sérgio Moro em primeiro grau confirmada pela 8ª turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre. Na ocasião, os desembargadores aumentaram a pena de Lula: de nove anos e meio para 12 anos e um mês de prisão.

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