Eleições 2020

Proposta eleitoral de Zé Neto defende conciliação entre trabalhadores e empresários

Pelo que se desenha nas articulações, a ideia do deputado é tentar algo semelhante ao que Lula fez em 2002.

Orisa Gomes

Está na definição da sigla: Partido dos Trabalhadores. E, tradicionalmente, o PT levantou a bandeira dos trabalhadores brasileiros, mas, de uns tempos para cá, a ideia é desenvolver conciliação com a classe empresarial. O experimento não é novo. Em 2002, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito ao lado do vice, o empresário José Alencar. Agora, pelo que se desenha nas articulações, a ideia do deputado federal José Neto, pré-candidato a prefeito de Feira de Santana pelo PT, é tentar algo semelhante.

Não é por acaso que entre os nomes mais cotados para compor a chapa com ele é do empresário Roque Eudes, presidente da Associação dos Agentes de Distribuição da Bahia (Asdab). Em uma live do deputado no final de semana, com participação do governador Rui Costa (PT), o vice João Leão (PP) e o senador Jaques Wagner (PT), Leão acabou soltando que Roque será o pré-candidato a vice de Zé Neto. Em entrevista ao Acorda Cidade nesta quarta-feira (18), Neto disse que o nome ainda será definido entre os partidos que o estão apoiando e divulgado na próxima segunda-feira (24), mas confirmou que o de Roque está entre os preferidos.

A articulação em torno do que Zé Neto chama de “caminho da conciliação” entre trabalhadores e empresários já é tamanha, que, recentemente, ele, junto com o colega de parlamento, Daniel Almeida (PCdoB), e o deputado estadual Robinson Almeida (PT), intermediaram uma parceria entre a Asdab e a Secretaria Estadual da Fazenda. Nessa entrevista, ele fala sobre este e outros assuntos. Leia na íntegra:

Acorda Cidade – Qual é o acordo que está sendo firmado entre a Asdab e a secretaria da fazenda?

José Neto – A Asdab, para simplificar, é Associação dos Atacadistas, principalmente atacadistas de alimentos, e Feira tem um crescimento extraordinário de atacadistas de alimentos. O presidente dessa Associação é feirense, o Roque Eudes, do atacadão São Roque. Tanto eu quanto Robson estamos há 16 anos trabalhando com eles nas interlocuções com o Estado, em que sentido? A parte fiscal, a parte de infraestrutura e a parte de desenvolvimento econômico dessa categoria, esse convênio com a Secretaria da Fazenda melhora o diálogo com Estado, o que é muito importante. O estado, daqui para frente, tem uma relação direta e fizeram uma câmara para dialogar permanentemente sobre os assuntos que dizem respeito a proteção do mercado. A gente tem, infelizmente, uma ação grande de outros estados que lidera importação com redução de ICMS e aqui a gente vive com dificuldade, às vezes sai de lá do Piauí e vai para o Espírito Santo, passa pela Bahia e a receita fica no nosso estado. E modernizando o setor é preciso o diálogo permanentemente com a Secretaria da Fazenda e o objetivo desse convênio é exatamente modernizar as relações entre o Estado e o setor produtivo.

AC – O que é que muda?

JN – Muda porque você melhora atenção em muitas regiões, principalmente onde há a evasão.

AC – Nesse caso, é fiscalizar?

JN – Melhorar a condição principalmente desses outros estados, para que a gente possa proteger a nossa economia. Se há evasão por parte desses estados e a gente está vendo que as coisas estão funcionando de forma inadequada, então haverá por parte da Asdab uma sintonia melhor para corrigir no dia-a-dia situações que por muitas vezes são discrepantes na economia. A parte fiscal é muito complexa. Você tem dúvidas, a empresa age de um jeito e não é daquele jeito, muitas vezes por falta de informação, melhora essa informação direta do empreendedor com o estado que uma parte dos bens do empreendedor não é fraude, essa parte dos bens do empreendedor é falta de informação, é uma interpretação inadequada e tudo isso melhora na medida que você tem uma relação mais direta convênio dessa operação.

AC – O senhor teve uma live com participação do governador Rui Costa (PT), o vice João Leão (PP) e o senador Jaques Wagner (PT) e mais outros políticos. Na oportunidade, João Leão lhe entregou e disse que você está bem aí na fita, com Roque Eudes compondo a sua chapa como vice. O senhor não combinou com João Leão e ele anunciou. O nome está confirmado?

JN – Ele, desde o início, defende o nome de Roque para que possa compor a nossa chapa. São cinco partidos e eu defendo também outra coisa chamada de disciplina. Sou um soldado disciplinado e soldado disciplinado tem que ver de perto a parte da hierarquia dos partidos. Os partidos estão discutindo, existe uma discussão bem avançada e como, sou disciplinado, tenho que atender o que, graças a Deus, tem dado certo. Existem cinco partidos conosco: PP, PT, PCdoB, PDT e Avante. Esses cinco partidos têm dialogado há 3 meses e fez uma coordenação de partidos, discutindo todos os temas. Oficialmente, o anúncio vai ser feito na segunda-feira (24). A gente vai definir e, como eu disse no começo, (Roque Eudes é) um dos nomes mais cotados dos partidos e João Leão se antecipou sim com uma discussão que já vinha sendo feita. Mas, por uma questão de disciplina e de organização, porque Roque é presidente da Asdab e sendo ele vai ter que se afastar, tem várias questões legais que estão sendo trabalhadas, então é bom a gente esperar. Na segunda-feira, a gente vai fazer uma live e dar uma coletiva para imprensa para todo mundo, falar um pouco sobre isso, dar uma definição para o tema e também falar sobre “E Agora, Feira?”. É uma plataforma que lançamos no domingo, junto com o governador Rui Costa, inclusive foi um momento muito especial, porque se você for no Facebook, são três horas de reunião, aparece muito, mas se você for lá você vai encontrar todas as pessoas de todos os partidos discutindo a cidade, conversando sobre o dia a dia. Inclusive, Rui Costa fez um depoimento até um pouco longo e deu uma demonstração grande de conhecimento do dia a dia das pessoas da cidade e das necessidades que nós temos e precisamos avançar do ponto de vista, principalmente, da saúde e cuidado com as pessoas.

Foi um momento especial essa plataforma. Já temos quase 200 opiniões, as pessoas estão opinando e passando o que pensam para os partidos. A gente pode ter linhas gerais do que é a cidade, do que são os problemas, então a gente tem que conversar com as pessoas. Acho importante demais que a gente abra, em Feira de Santana, um diálogo franco. Acho que a gente tem que ter dois concelhos aqui, um econômico e outro social. Esses concelhos tem que trabalhar no dia a dia da cidade para dar opiniões e serem ouvidos, porque o grande problema não é só ouvir, entrar por um ouvido e sair pelo outro, é ouvir a sociedade, ouvir o setor produtivo, ouvir os trabalhadores e daí tirar conclusões para a gente avançar no dia a dia. Pelos estudos que a gente fez nos últimos anos em Feira, o município parece que não quer ouvir e te digo, com muita humildade, com muita sinceridade, o que mais aprendi na política, e agradeço muito a Wagner, ao depoimento que ele faz lá na plataforma, ele fala muito sobre isso e me disse um dia: “Zé Neto, você é caceteiro, você é competente, advogado sabe onde bota a cara. Agora, está na hora de você aprender a ouvir mais, dialogar mais e entender mais como funciona a política, para agregar ao seu redor”. Por isso eu fui líder de governo por 8 anos, o que me deu uma demonstração clara dele comigo de carinho, mas, acima de mim para mim, de aprendizado. Eu venho conversando, construindo câmaras técnicas, como a gente construiu do frango, do leite, da carne, do atacado, do varejo, fazendo com que esses que participam do dia a dia. Com pessoal de van, mototáxi, de sindicato rural, trabalhadores, empresários, fazendo com que o diálogo seja a pedra de toque para a gente construir as políticas públicas.

Feira de Santana, não tenho dúvida nenhuma, não sei quem vai ser prefeito, porque aqui a gente não tem nenhuma prepotência para nenhum momento está fazendo campanha, agora eu tenho certeza de uma coisa, é preciso mudar o conceito da administração da política na cidade, principalmente do ponto de vista de respeitar o que está lá na ponta, querendo participar no dia a dia da cidade. Muitas vezes, por não ser ouvido, faz o quê? Dar as costas e vai embora, não quer nem saber o que se passa na cidade, vai para o baba volta para casa e cada um que cuide da sua vida. A cidade se tornando cada dia mais distanciada do convívio entre as pessoas e do cuidado dos seres humanos que são principal fator de quem está na vida pública.

AC – O senhor, com a indicação do empresário Roque Eudes, está pretendendo entrar mais no empresariado da cidade, a ideia é essa?

JN – A ideia confinada à indicação de Roque… a gente acha que teve uma coisa que deu certo no Brasil, quando Lula disse: “A gente tem diferenças ideológicas entre os trabalhadores e empreendedores”. Muita gente sabe, porque é histórico no mundo. Agora, a gente não pode nortear uma administração apenas com ideologia. Tem um parâmetro em cuidar de pessoas e não cuidar, cuidar de economia de uma forma e cuidar de outra, mas, no geral, tem que conciliar. Lá atrás, quando ele escolheu um empresário para ser o vice dele, é claro que foi fruto de uma conciliação do país. Não é apresentação do setor empresarial, é classe média. A gente vê a eleição de 2016, agora mesmo saiu a delação de Palocci, que mais agrediu o PT. Todo aquele depoimento agora caiu por água abaixo, porque não era um depoimento verdadeiro, tudo falso. A Polícia Federal disse, essa semana, mas ali desgastava o PT e afastava o partido dos setores médios da sociedade, o que Palácio disse que tinha acontecido, sendo que não tinha acontecido.

Eu acho que estamos fazendo o caminho da conciliação com os setores médios, sem esquecer nossas obrigações com os trabalhadores, sem esquecer nossas obrigações sociais com a cultura, com o esporte, com as mulheres, com os negros, com os índios, com os informais, camelôs, com aqueles que precisam de mais ajuda. Mas, não vamos construir isso sozinhos. Ninguém consegue nada sozinho, tudo tem que dialogar com os setores médios da sociedade, com o setor empresarial. Lá em Brasília, são o desenvolvimento econômico. Converso com todo mundo, converso com o Serviço que representa a Construção Civil e que é um setor importante e estratégico para o país, principalmente em Feira, onde a gente tem um investimento de 52 mil casas do Minha Casa, Minha Vida; R$ 3,4 bilhões circularam na cidade…

Temos que dialogar com os setores comerciais, tenho conversado muito com esse setor. A indústria é importante, a gente tem que fazer esse debate, tem que fazer esse diálogo. Aqui do outro lado, os informais, os taxistas, motoristas de ônibus… isso aí a gente precisa fazer bem. Graças a Deus, o meu DNA é daí. Acho que a gente tem que contratar eixos para construir a cidade e avançar no sentido de que as pessoas estejam mais presentes no dia a dia e mais cúmplices. Ninguém vai tirar Feira do buraco, se não tiver cumplicidade, tanto dos setores sociais, como dos setores positivos, para tentarmos encontrar um eixo e voltar a ter a cidade que conhecemos. Eu, assistindo a um jogo de futebol no Joia (da Princesa), porque sempre gostei de assistir jogos ali, e você de mobilete indo fazer o seu acompanhamento esportivo. A gente seguia na Feira de Santana, seguia na Kalilândia, tinha o Tênis, tinha a Euterpe, tinha pra todo gosto, a cidade era mais prazerosa, as pessoas amavam mais a cidade, viviam mais nela e defendiam mais ela. Acho que essa falta de autoestima da cidade… a Micareta mal administrada, a festa da exposição…

No comércio, há um esforço agora do município de tentar resolver e também não resolve, porque não vai ser na truculência, em plena pandemia, fazendo o que fizeram sábado com a questão dos camelôs. Acho que a gente tem que baixar um pouco a poeira, ouvir mais a cidade, conciliar mais e fazer com que as coisas aconteçam e se sintam mais pertencentes no dia a dia, na decisão da cidade, para que a gente tenha mais sintonia e legitimidade, para que as coisas funcionem melhor.

AC – O senhor não está contando com o apoio do ex-deputado Carlos Geilson, que é da base do governador Rui Costa, o vereador Roberto Tourinho, que também vai ser candidato e Ângelo Almeida. José Ronaldo, cabo eleitoral, como o pessoal chama, já anunciou apoio a Colbert. Como o senhor montou a sua estrutura pra enfrentar José Ronaldo, Colbert e Geilson ?

JN – Só lembrando, nas eleições para deputado Ângelo esteve comigo e fizemos junto uma tabelinha aí de alguns bairros, respeito muito ele. Mas ele disse na eleição de prefeito o contrário, de candidatura própria, e é bom lembrar. Roberto Tourinho e Geilson eu não perdi nada, calma. Eles vieram de lá. As últimas eleições, que eu me lembre, Roberto Tourinho e Carlos Geilson estavam no time de lá. Saíram de lá e vieram para o time de cá. Quem perdeu e muito foi o time de lá. Perdeu Geilson, perdeu Beto, perdeu Targino e vem perdendo outros. Então, quem perdeu não fomos nós, ao contrário. Nós avançamos. A gente tem um número de candidatos a vereador, que chega a ser quase quatro vezes mais o que nós tínhamos no passado. Nessa história, queria esclarecer, porque sou muito amigo de Geilson, desejo sorte para ele, não tenho problema nenhum com ele, com Ângelo também não tenho, tivemos algumas divergências, mas acabamos todas e Targino sempre tive respeito por ele. De uns tempos para cá a gente não dialoga mais. Mesmo quando ele estava na oposição ao governo do estado, quando se falava em Feira, a gente tinha uma percepção e diálogo. O mais importante agora não é minha relação individual, pessoal ou até partidária com outro grupo, acho que temos que dialogar com todo mundo.

Pra mim, a maior liderança que tem no estado e em Feira de Santana também, as pesquisas até mostram, o nome de maior destaque na cidade se chama Rui Costa. Todas as pesquisas que foram feitas ultimamente apontam como a maior liderança na cidade, com expressão política, Rui Costa. Outros, que tinham expressão importante na cidade, hoje não têm como antes. Acho importante a gente dizer que Lula deu uma declaração assim: “Zé Neto, estou com você. Rui vai estar te ajudando também, todo mundo. Mas o mais importante neste processo não é a ajuda que vamos dar. Se melhorar o tempo, vou aí de perto. O que mais vai contar no processo eleitoral é exatamente o que você vai dizer para sua cidade. Se você está preparado, tranquilo para conduzir as dificuldades, que não vão ser poucas, principalmente depois de uma pandemia”. No processo eleitoral, as pessoas querem saber o que você tem a dizer para elas, para as famílias delas, para o dia a dia delas, para a rua esburacada, para o transporte coletivo, que está péssimo, para a saúde, que tem uma dificuldade terrível, para o comércio, para o Centro de Abastecimento, que está com uma situação lastimável, que cada dia vai piorando e só aparece alguma coisa perto da eleição.

As pessoas vão querer saber de Zé Neto o que ele tem a dizer para essas situações e qual é a perspectiva. O mais importante nesse processo vai ser esse debate, aqui no cotidiano da cidade. É claro, é importantíssima a presença do governador. Vou publicar hoje à tarde as falas completadas de Wagner e Rui de união, para que vocês tenham acesso nas redes sociais. São falas extremamente equilibradas, principalmente quando Rui diz que um gestor não tem que olhar partido, tem que olhar as questões que são postas como desafios para melhorar a vida das pessoas, como dialogar com todo mundo. É claro que você vai ter um laço de suporte que são os partidos que estão ao seu redor, mas isso não impede de fazer o que ele fez, por exemplo, em Salvador e tentou em Feira, mas não conseguiu, que foi dialogar com ACM Neto, para deixar as diferenças de lado e enfrentar juntos a questão do coronavírus. Acho que esse consenso é o que prevalece no debate político, agora que vai se dar nesse momento de eleição.

Vamos montar um trabalho consistente contra fake News e tem um com seis ações contra algumas pessoas que pensam que divulgar Fake News não é crime e eu vou pra cima. Não tem conversa. Cheguei para minha filha de 14 anos e ela sabe de tudo. Eu disse: “Ó pai, está aqui a certidão de seu pai. Seu pai não tem uma ação na justiça na polícia, nunca teve queixa de polícia, está tudo limpinho aqui, filha. Quero te dizer que seu pai honra demais a educação que teve da sua avó e de sua família e a gente vai enfrentar isso com humildade.” Quem quiser debater política, até o conhecimento das nossas vidas, basta chegar ali no TRE e pegar minha declaração de bens. Tem meus recursos, coisas do meu escritório, minha vida pessoal, minha vida pública, está tudo transparente. Esse desafio vai ser um desafio de todos nós. Fazer com que a Fake News não seja a tônica de uma campanha, para não ver as disputas pessoais e as mentiras vigorando mais que os objetivos e trabalhar, para que todos que estão participando desse processo político tenham debate em Feira de Santana. O que nós queremos para Feira? O que ela deseja? O que nós podemos construir juntos para a cidade? E ouvir as pessoas. Tem gente que tem muito a dar para construir um projeto e sair da situação em que vive. As pessoas pensam: “Feira cresceu muito”, mas poderia crescer mais; “Feira é uma cidade grande”, mas poderia estar com muito mais conforto para sua população. Agora chegou a hora de corrigir onde erramos. Não vou dizer que não fizeram nada, mas no que acertou, vamos manter. No que errou, vamos consertar e fazer isso com um bom diálogo.

A nossa cidade é uma cidade de gente trabalhadora, uma cidade de gente retada, esse povo sertanejo, misturado com o povo do recôncavo. Costumo dizer que ali no Amélio Amorim há um divisor: você olha pra frente e vê Humildes, que está no recôncavo; você olha pra trás e vê o nosso sertão lindo, São José, aquela parte toda. Somos uma cidade com muita cultura, resistência e você é um exemplo claro desses feirenses e dessa cidade que eu amo demais. Vou fazer o meu melhor, para participar desse processo eleitoral, podendo contribuir para que ela possa realmente, neste momento, um momento de debate, discussão e que a gente possa acrescentar ainda mais a essa Princesa do Sertão.

Colaboram os estudantes de jornalismo Gabriel Gonçalves e Mayla Nunes.

Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais recentes
mais antigos Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários