Eleições 2020

Orlando Andrade defende estatização da saúde, municipalização da polícia e diz que requalificação do Centro é 'higienização social'

Ele é o sexto candidato à prefeitura municipal entrevistado pelo Acorda Cidade

Orisa Gomes

Carteiro, trabalhador dos Correios, nascido e criado no Bairro da Rua Nova, em Feira de Santana. Assim se apresenta Orlando Andrade (PCO), sexto candidato à prefeitura municipal entrevistado pelo Acorda Cidade.

Nos Correios, ele pertence a corrente ligada ao Partido da Causa Operária e também integra o coletivo João Cândido, voltado para defesa da população negra e é como representante dessas duas frentes que propôs a participar das eleições 2020.

Na entrevista, o candidato defendeu a estatização de todo o sistema da saúde, municipalização da polícia e disse que o projeto de requalificação do Centro é, na verdade, tentativa de "higienização" social. Confira abaixo na íntegra:

Acorda Cidade – Quais são as suas propostas de governo?

Orlando Andrade – Quero falar muito mais do nosso programa e do nosso partido. Primeiro porque não participamos das eleições meramente por um sonho meu ou um projeto individual, mas sim para defender um programa do partido que é feito pelos próprios militantes, por discussões, estudos e pelo processo histórico, o conhecimento vem daí.

O Partido da Causa Operária não participa das eleições como os demais partidos, tanto de esquerda como de direita. É mais para apresentar um programa de gestão, do que estar por estar, como eles se representam. Apresentamos um programa de luta, não um programa de governo, porque um programa de governo, na verdade, se formos observar como o estado é organizado, todos os problemas de governo vão defender os interesses em particular dos grandes empresários e da elite que domina todo o estado.

Nesse sentido, o PCO não vem para as eleições defender e vender ilusões, não estamos aqui para isso. No entanto, devido a questão do regimento atual que a cada dia está antidemocrático de um estado praticamente de barbárie, onde a condição de vida das pessoas, da classe trabalhadora está cada dia mais sofrida, mais difícil, não é à toa a lei de congelamento de gastos que congelou por 20 anos, é uma lei forjada, para segurarem por 20 anos o investimento em saúde e educação e já é percebido as deficiências e olha que temos vários problemas com o SUS e com as escolas públicas.

Nós chamamos os trabalhadores para lutarem, para combater essa política genocida, fascista, essa política que só interessa aos empresários e deixa a classe trabalhadora abandonada, jogada à própria sorte. Chamamos os homens, mulheres, negros, a juventude, o movimento LGBT e todo mundo, para se organizar em seus locais de trabalho e seus bairros que venham possibilitar uma mudança social profunda.

Temos um programa de luta, não venho aqui só para falar dos problemas, mas também apontamos soluções. Essas soluções só serão conquistadas com organização e com a luta. Faço parte da classe trabalhadora. Na questão da saúde, exigimos primeiramente o fim dessa lei genocida que quer destruir todo serviço público, o aumento imediato de verbas para a saúde, o teste para toda a população nessa questão do coronavírus agora, que é um problema. Estamos batendo as 200 mil de mortes e isso é terrível.

É necessário contratar pessoas e no intuito daqui de Feira de Santana tem o concurso de desde 2012, o pessoal está querendo trabalhar, lutar, a justiça já determinou a contratação e a prefeitura não contrata. Enquanto isso, os capitalistas ganham muito dinheiro em cooperativas e terceirizações, isso é um absurdo.

Queremos o fim do lucro com a doença. A saúde não deve ser lucro, não deve ser vendida. As pessoas morrem, porque não têm dinheiro para fazer um exame ou porque não tem um padrinho para conseguir exame, uma consulta, um tratamento. Na cidade hoje, a gente sabe que ou você tem dinheiro, tem plano de saúde e quem não tem precisa correr atrás de padrinho, vereador tal, cabo eleitoral tal, para conseguir seu tratamento e muita gente não consegue e morre. Queremos a estatização de todo o sistema de saúde, lutamos por isso, dos laboratórios, clínicas, escalação de equipamentos dos bairros que deem um atendimento de qualidade aos trabalhadores. Por que não tem uma clínica nos bairros? Laboratórios estatais que atendam população? É só por falta de interesse, não é questão de dinheiro, é interesse de classe.

A gente tem que entender e nós entendemos e levantamos a bandeira, como alguns partidos de esquerda já abandonaram e isso é lamentável, a bandeira da luta de classe. Vivemos em classes no Brasil e infelizmente existem classes no Brasil e no mundo. Existe uma luta de quem vive no suor do trabalho e existem os que sugam o suor e o sangue do trabalhador.

Somos contra o desemprego e rebaixamento salarial. Com a nova reforma trabalhista, acabaram os direitos do trabalhador. O pessoal está a cada dia vivendo em situação de subemprego e, mesmo assim, não tem emprego para todo mundo. Isso é uma revelação de como a política fascista funciona. Vendendo a ilusão de que com a reforma trabalhista e com menos direitos teríamos mais empregos e estamos vendo aí mais da metade da população sem ocupação ou desempregada.

Exigimos e lutamos há muito tempo pela redução da jornada de trabalho para 35 horas. trabalhar menos, para que todos tenham o direito de trabalhar. Fim das demissões. Como no meio de uma pandemia, uma empresa ou próprio estado demite um trabalhador que não tem onde tirar seu recurso, vai viver de quê? Vai morrer de coronavírus ou de fome. Isso é uma loucura.

Na questão da área da saúde, defendemos o ensino público de qualidade. Somos contra a destruição do ensino público e a reforma que eu falei, a PEC da morte e de gastos. Somos contrários à volta às aulas neste período de pandemia, defendemos a volta apenas com a vacina e com o fim da pandemia. Muitos já declararam que é necessário a volta às àulas e não queremos a morte de nossas crianças e que essas crianças também não tragam a morte de seus pais e seus avós, idosos.

O ensino público tem que ser gratuito e de qualidade para todos os níveis. Exigimos o livre acesso ao ensino superior. É importante, é necessário. Se falta médico é porque se formam poucos médicos. Se faltam outros profissionais, é porque se formam poucos profissionais. O estado que quer atender as demandas da sua população não pode funcionar dessa maneira.

Temos como formar e devemos formar e pra que ter uma forma de barrar as pessoas nos estudos? Defendemos também, como na questão da covid, a garantia alimentar das crianças. Fecharam-se as escolas, não garantiram nenhuma situação de alimentação das crianças, a merenda foi suspensa, o dinheiro não sei onde foi parar e porque não cestas básicas para a população? Para a juventude, estudantes, crianças…

Defendemos a criação de creches, que é um direito da criança, mas também é garantia das mães poderem trabalhar com tranquilidade e isso vem ligado a redução da jornada de trabalho. Se você tem uma jornada de trabalho reduzida, o pai e a mãe podem trabalhar em turnos opostos e os dois cuidarem das crianças. Exigimos a manutenção do auxílio emergencial.

AC – Que problemas o senhor identifica em Feira de Santana que te motivaram a ser candidato nessas eleições?

OA – Os problemas são os mais variados. Não só em Feira, mas no Brasil como um todo. Feira de Santana é uma cidade que tem características comerciais, é um centro comercial, centro de aglutinação de muita gente de fora, vejo isso porque na minha família todos os integrantes são pessoas que vieram de outras cidades. Meus pais são filhos de Feira, mas quase todas as famílias são desse jeito.

Temos nos principais problemas a questão do trabalho. As pessoas precisam de trabalho. As pessoas precisam de uma forma de sobreviver e, enquanto isso, os grandes empresários e a classe dominante de Feira de Santana empurram os trabalhadores ao desemprego e as condições sub-humanas.

Não é à toa que a gente evidencia a questão do centro de abastecimento, que foi abandonado, entregue ao descaso e agora está sendo loteado para atender aos interesses de empresários e especuladores imobiliários. O Shopping Popular não tem nada de popular, é um empreendimento empresarial para dar lucro a gente que nem é da cidade.

AC – O senhor é do movimento negro. Que projetos tem nessa área como candidato?

OA – Nós do Coletivo João Cândido debatemos e discutimos muito sobre a questão do negro no Brasil e especialmente na Bahia. Não obstante, eu sou o único candidato negro a participar das eleições em Feira de Santana e o companheiro do meu partido também, Rodrigo Pereira, em Salvador, ele é negro. Nós do coletivo, chamamos os trabalhadores negros, a população negra a se organizar, a discutir os seus problemas e construir as soluções necessária para a população negra. É nítido e perceptível que o monopólio da violência ataca diretamente os negros. Somos contrários a esse extermínio do povo negro, tanto em Feira quanto no Brasil. Uma das reivindicações da causa operária é a dissolução da Polícia Militar, por se tratar de um aparelho repressor e exterminador de gente pobre e negra. Defendemos a municipalização da polícia. Uma polícia formada por milícias populares, formada nos bairros e com o controle da própria população.

AC – Como o senhor avalia o projeto de requalificação do Centro comercial?

OA – O projeto de requalificação do Centro não é um projeto de requalificação, mas de higienização social. É tirar o povo do centro da cidade, entregar o Centro aos empresários e a classe dominante. Não é à toa que tiraram todos os barraqueiros, trabalhadores, camelôs, ambulantes, do Centro. Eles não estão no Centro da cidade, porque eles querem não, estão procurando a forma de sobreviver. Se não tem emprego, se a classe dominante não produz nada, só suga dos trabalhadores e não apresenta nenhuma solução para a vida cotidiana deles, para a manutenção das pessoas, elas vão procurar alternativas e a alternativas, às vezes, é colocar uma barraquinha, colocar um carrinho de mão, vender sua fruta e isso a gente não tem como ser contrário.

Não dá para querer fazer higienização social, querer limpar, entre aspas, jogar o povo sofrido, pobre, no subúrbio, na periferia, não dá. O Centro da cidade é de todos, sempre foi uma área comercial e deve se manter assim. Dá pra pensar em um projeto e esse projeto é simples, é fácil. É organizar em conselhos populares com as pessoas que necessitam de sobreviverem e que assim utilizam-se do Centro da cidade, para venderem suas mercadorias. Formar esses conselhos e discutir o que é melhor para todo mundo. É assim.

A mesma coisa do Centro de Abastecimento. Eles falam de renovar, de modificar, de fazer isso, aquilo não. Na verdade, o que eles querem é fazer higienização, pegar o Centro de Abastecimento, que é o único terreno central e grande, valoroso, porque vale muito, e entregar a especulação, entregar aos grandes empresários e deixar o povo, que precisa do Centro de Abastecimento para sobreviver, que trabalha muito, que acorda cedo para trabalhar, eu sei dessa realidade, porque eu tenho familiares que são feirantes, meus avós também foram. Eles querem pegar, tirar esse povo, jogar bem distante, o mais longe possível, para não se aproximarem do Centro e pegarem um terreno que vale muito e entregar na mão de meia dúzia de empresários, que só vão sugar da nossa cidade os recursos e depois abandonar tudo.

AC – O senhor tem ações específicas para a Guarda Municipal, agentes de saúde e endemias?

OA – A questão da Guarda Municipal, ela tem que ser revista. Para gente, a Guarda tem que ser controlada pela população. O comando tem que ser escolhido pela própria tropa. Por que tem que ser um cargo político? Isso é errado.

Sobre os agentes de saúde, é o passe inicial da saúde. Não dá pra falar em saúde sem a saúde preventiva, que é uma questão dos agentes. Eu fiz concurso para agente de saúde há muito tempo, passei e não fui convocado. Até hoje o local que eu morava, não sei se dá para atender. É necessário fazer concursos para agentes de saúde, é necessário aumentar, é necessário investimentos na área de prevenção. Agente de saúde é prevenção de doenças. É para acabar com essa questão de enriquecimento com a doença. Vivemos e as pessoas ficam doentes só para enriquecer clínicas, laboratórios e farmácias.

AC – O senhor tem noção do tamanho de Feira de Santana? Se sente preparado para administrar o município?

OA – Como já falei antes, a gente tem que colocar a solução dos problemas nas mãos dos trabalhadores. Quem entende mais e melhor do bairro onde mora são moradores que moram em locais de trabalho. Nesse sentido, nós do Partido da Causa Operária defendemos a formação de conselhos populares, em locais de trabalho, de moradia. Assembleia populares para tirarem esses delegados dos conselhos e que essa forma de governar tenha participação popular e que as pessoas decidam sobre seus problemas. Às vezes, a pessoa, o governante diz que vai calçar tal rua e que vai fazer isso e aquilo. As pessoas têm que decidir. Têm bairros que têm demandas distintas. Têm bairros que precisam de calçamento e têm outros que entre um calçamento e uma creche as pessoas vão preferir uma creche. Nesse sentido, convocamos as pessoas, os trabalhadores para se organizarem e assim atuarem politicamente, não só nas eleições, mas todo o tempo possível estar disponível para lutar para garantir as suas necessidades.

AC – Se houver um segundo turno e o senhor não participar, apoiará algum candidato? E tem algum que não apoiaria de jeito nenhum?

OA – Nós do Partido da Causa Operária não temos candidatura própria, não é um sonho de Orlando, como já falei, tudo é feito em conjunto, discutido e debatido. Tenho aqui em mãos o documento da 30ª conferência nacional do partido. Essa conferência deu tom, determinou como seria a nossa política diante dessas eleições. É claro, vamos convocar uma nova conferência após o dia 15, nos organizarmos, juntarmos para debater sobre a situação e a nossa posição perante o segundo turno.

AC – Quais são as considerações finais do senhor?

OA – Nós, do Partido da Causa Operária, entendemos que o mundo não acaba e nem a solução de todos os problemas vai ocorrer depois do dia 15 de novembro e nem do segundo turno. Portanto, temos uma demanda de luta muito grande para o próximo período, até porque temos que lutar contra o governo federal, um governo fascista, que tenta acabar e destruir a classe trabalhadora de todas as formas.

Convocamos todos os trabalhadores, estudantes, pessoal do povo negro, povo LGBT, as mulheres e homens a se organizarem, conhecerem o PCO , a se filiarem ao PCO e a militarem no partido. Pedimos o voto, mas o importante pra gente não é só o voto, é a organização da classe trabalhadora. Precisamos e o tempo exige a nossa organização.

Lutamos pelo fim da exploração do homem pelo homem, por um governo do trabalhador da cidade e do campo. Vimos aí a questão dos trabalhadores do campo de Feira de Santana, uma situação lamentável, abandonados pelo município e passando grandes dificuldade até de locomoção, transporte e isso é o mínimo. Falta até condições de se manter e sobreviver no campo.

Chamamos para juntar os operários e camponeses na luta pelo socialismo e pelo fora Bolsonaro. Passamos todo o ano organizando e fazendo a luta, exigimos eleições gerais, democráticas, verdadeiramente democráticas e não como essas eleições que parecem um show de horrores e o direito do ex-presidente Lula ser candidato, porque exigimos o fim desse processo de perseguição contra todos os presos políticos e o direito democráticos de todos.

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Colaborou a estudante de jornalismo Maylla Nunes.

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