Ney Silva e Rachel Pinto
Muito se comenta sobre o resultado das eleições em Feira de Santana, a reeleição do prefeito e a renovação da Câmara de Vereadores. O jornalista e articulista político Glauco Wanderley, em entrevista ao Acorda Cidade, analisou e deu a sua opinião sobre o cenário político na cidade.
Para ele, a vitória de José Ronaldo com mais de 200 mil votos foi impressionante depois de tantos anos no poder. Ele destaca que o prefeito fica politicamente ainda mais forte.
“Uma vitória impressionante, porque depois de tantos anos no poder o desgaste é natural para qualquer político e, na verdade, o prefeito José Ronaldo teve uma vitória maior que em todas as outras eleições que ele disputou para prefeito de Feira de Santana. A gente ouvia muita queixa, muita reclamação. O mandato foi conturbado porque teve toda essa polêmica de BRT e problemas com as empresas de ônibus. A cidade ficou sem ônibus alguns dias e se imaginava que isso tudo desgastasse o prefeito junto à população e certamente desgastou naquele momento, mas não se refletiu na urna. É um resultado extraordinário; o que se configura para mim é que ele fica ainda mais forte. Não tem ninguém fazendo sombra a José Ronaldo na política de Feira de Santana. Os números falam por si porque é incontestável essa situação”, afirmou.
Segundo Glauco, o fato de Zé Neto ter ficado em segundo lugar no resultado das urnas reflete o desgaste que o Partido dos Trabalhadores (PT) tem sofrido em todo o país. Ele pontua que uma surpresa foi o candidato Jhonatas Monteiro, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), ter ficado em terceiro lugar com uma diferença de seis pontos percentuais, principalmente pelo pouco tempo que teve de propaganda política.
“O PT tem um desgaste muito grande no país e certamente Zé Neto seria impactado por isso. Diante do tamanho do desgaste do PT, eu diria até que ele não foi tão impactado assim. Mas, foi uma votação ruim e não se pode negar que Jhonatas muito próximo a ele é uma coisa que impressiona também. Jhonatas repetiu o resultado de 2012. É o caso de se pensar até onde ele conseguiria ir. O PSOL é um partido pequeno, sem estrutura, mas a gente vê que tem um grupo de eleitores consolidados. Porém, isso é insuficiente para constituir uma força de oposição a José Ronaldo que está “reinando” sozinho em Feira de Santana agora mais do que nunca”, completou.
Oposição a José Ronaldo
Glauco considerou ainda que José Ronaldo é a única força política majoritária da cidade. A oposição é muito fraca e isso pode ser visto diante da eleição dos vereadores de oposição.
“O PT elegeu apenas um vereador, que foi Alberto Nery. Edvaldo Lima é o outro opositor que se elegeu na eleição passada. Ele mudou de lado logo após a eleição. Em determinado ponto do mandato em diante ele resolveu fazer oposição ao prefeito. Mas, com um ou com dois na câmara, é uma oposição irrisória”, enfatizou.
Posição privilegiada de Colbert Martins
O jornalista avaliou também a situação do vice-prefeito Colbert Martins. Ele disse que Colbert está em uma posição privilegiada nunca antes vista.
“Mesmo que José Ronaldo governe os quatro anos, se ele vier a ser lançado como candidato em 2020 ele está em uma posição privilegiada. Isso tudo tem que se construir ao longo desses quatro anos que vão se passando. Porque obviamente tem muito mais gente de olho nessa vaga. Se o vice-prefeito agora, Colbert Martins, deitar em berço esplêndido, ele não conseguirá ser o candidato do grupo. O que seria natural nesse momento em que ele é o vice”, afirmou.
Glauco Wanderley pontuou que essa é a primeira vez que José Ronaldo tem um vice-prefeito com tamanha expressão política.
Planejamento da cidade
Sobre o fortalecimento político de José Ronaldo, tantos anos que ele se encontra no poder e o fato de que ele não poderá ser candidato em 2020, Glauco avalia que os próximos quatro anos de mandato do prefeito vão lhe permitir ainda mais autonomia na tomada de decisões, além de ser uma oportunidade de pensar a cidade para o futuro.
“Ele já tem o nome dele na história de Feira de Santana assegurado. Agora ele poderia assegurar ainda mais pensando na cidade para o futuro. Fazendo um planejamento para a cidade e a constituição de diretrizes. Formar isso através de algum tipo de mecanismo, de conselho, que fizesse com que a cidade passasse a seguir uma conduta, tivesse um caminho a trilhar independente do prefeito que ela tivesse. Feira de Santana não tem isso e hoje a coisa é um tanto quanto caótica. A cidade vai crescendo aos trancos e barrancos e no lugar de resolver, acumula problemas. Como a cidade não vai parar de crescer é preciso começar agora a resolver esses problemas. Começar a investir em meios alternativos de transporte, como bicicleta, começar a pensar em coisas mais elevadas como a energia solar, políticas ambientais, fontes alternativas de energia, políticas permanentes de atração de empresas, de vender a cidade para o exterior e de melhorar a educação para a gente ter um nível mais elevado de qualidade de mão de obra. Pensar a longo do prazo. Não é uma coisa que se faz em quatro anos”, finalizou.