Eleições 2020

Jhonatas Monteiro será candidato a vereador e Psol lança mulher na disputa pela prefeitura de Feira

o Psol vai mais uma vez participar do pleito principal, lançando a presidente partido, Marcela Prest, como candidata a prefeita.

Orisa Gomes

Com a proximidade das eleições 2020, o cenário político de Feira de Santana está efervescente, mas nem todas as figuras comuns na disputa pelo Paço Municipal tinham aparecido. É o caso do professor Jhonatas Monteiro, conhecido como "O Rasta", frequente candidato pelo Psol. Em entrevista ao Acorda Cidade, nesta terça-feira (11), ele revelou que abriu mão de tentar vaga no Executivo e será candidato a vereador. Mas o Psol vai mais uma vez participar do pleito principal, lançando a presidente partido, Marcela Prest, como candidata a prefeita. Outro nome feminino está no páreo, que é o da deputada federal Dayane Pimentel (PSL) Leia a entrevista na íntegra:

Foto: Arquivo pessoal

Acorda Cidade: Você sempre se candidatou a prefeito. No ano de 2012 ficou, inclusive, à frente do ex-prefeito Tarcízio Pimenta. E esse ano, a população vai contar com você como candidato?

Jhonatas Monteiro – Quando eu fui candidato tanto para prefeito quanto para deputado estadual, felizmente as candidaturas foram bem acolhidas pela população de Feira e isso me deu uma grande responsabilidade. Diferentes setores têm questionado há um tempo, não só a mim diretamente, mas também ao Psol, e isso motivou um diálogo longo, nesse ano com a pandemia. Foi uma escolha e esse assunto das eleições foi um pouco secundarizado. Quem acompanha nas redes sociais a atuação do PSOL aqui no município sabe que nossa prioridade foi organizar uma rede de solidariedade, porque a gente viu de muito perto nesse cenário da crise a fome voltar a ser uma coisa muito visível. Então, nos reunirmos com algumas entidades, organizações da sociedade civil do município, no sentido de dar um apoio imediato às famílias e organizar para enfrentar essa crise que em nossa avaliação é de médio e longo prazo. Nossa segunda prioridade foi denunciar o que para a gente é muito problemático aqui na condução do governo municipal em relação a Covid. A gente avalia que, inicialmente, o prefeito utilizou da crise para tentar melhorar sua imagem. Observamos que teve muito investimento em propaganda e outras coisas menos, mas, a certa altura, cedeu a grande pressão do centro empresarial neste abre e fecha, que virou uma grande confusão na cabeça da população e fez Feira de Santana chegar a quase 8 mil casos. Diante disso, a gente também segurou um pouco esse debate eleitoral, porque a gente avaliou que tem uma prioridade e, efetivamente, a prioridade é enfrentar essa situação. Mas como os prazos eleitorais foram remarcados e, ao que parece, o processo eleitoral está colocado e nossa ausência pode favorecer os de sempre, então retomamos o nosso processo de diálogo. É nesse sentido também que estamos anunciando nesta semana uma candidatura para vereador por uma série de razões.

AC -Eu tenho aqui um relatório. Você obteve para deputado estadual, em 2014, 23.291 votos; em 2016, subiu para prefeito, com 27.503; novamente para deputado, em 2018, 26.385 votos; e agora anuncia que não vai disputar a prefeitura e sim uma vaga na câmara. Por quê?

JM – Eu tenho quatro razões. A primeira é que aqui em Feira de Santana, pelo trabalho de construção do Psol, a gente localiza um problema, que é a ausência do espaço institucional e isso tem causado uma série de outros problemas, mas não para o Psol. Um exemplo que dou: no ano passado, no primeiro dia de trabalho no Legislativo aqui do município, nós protocolamos um pedido de investigação acerca das fraudes milionárias nos contratos de saúde do município, o pedido não durou minutos na apreciação e simplesmente não conseguimos fazer uma pressão maior, porque não tem vereador ou vereadora que faça um contraponto coerente. Então, a primeira razão tem a ver com isso (…), você tem um pedaço de Feira de Santana que não se vê representado na Câmara Municipal. Suas demandas, seus anseios e tudo mais, não aparecem na Câmara, não são alvos de discussão séria, de proposição de projetos em correspondência com essas necessidades. Uma segunda motivação para as nossas candidaturas para prefeitura é que o mesmo grupo político está há 20 anos controlando o governo municipal e isso tem a ver com um esquema bem montado pelo ex-prefeito José Ronaldo (DEM) e, na minha avaliação, é um esquema prejudicial a população de Feira de Santana. Acho que a grande maioria da população e sua adversidade não tem seu direito efetivamente garantido e não é por falta de recurso, porque a cidade tem um orçamento em torno de um bilhão e meio e, geralmente, a estimativa de receita habitual e está entre os 100 municípios mais ricos do Brasil. Mas quando você conversa com as pessoas, não é essa a impressão pelos problemas que a gente vivencia, basta ver agora essa situação de chuva.

E esses 20 anos só foram possíveis, porque a câmara deu amém, viveu para baixar a cabeça para tudo isso e deixou de lado o seu papel de fiscalização principalmente do que a prefeitura faz ou deixa de fazer. Então, é estratégico para disputa de longo e médio prazo ter um contraponto na Câmara Municipal, que enfrente essa situação e tudo mais, que ajude a desmontar esse esquema. Por fim, existe uma questão mais nacional, mas que também influencia em nossa avaliação. O governo federal que nós temos além de ser um desastre é um risco, porque, de fato, é uma ameaça a poucas e frágeis conquistas democráticas que nós temos no Brasil. Isso a gente já percebe em um aumento de violência, um impacto muito grande, inclusive, na violência política mesmo, sobre diferentes grupos vulneráveis, na intimidação… Os mais perversos possíveis tomou conta da política brasileira e isso também precisa ser enfrentado. Na prática, isso significa reforçar toda a trincheira que a gente puder ocupar nessa luta e, nesse sentido, reforçar a presença institucional, passa também pela possibilidade de ocupar uma vaga na Câmara. Evidente que considerando essas votações, como você mesmo disse, meu nome passa a cumprir a tarefa, agora como pré-candidato a vereador, de ajudar na possibilidade do pessoal eleger não só um mandato como até mais de um e isso seria muito importante em nossa avaliação, para luta pessoal em Feira de Santana.

AC – O Psol não conseguia fazer nenhum vereador, porque não conseguia atingir um coeficiente eleitoral. O senhor acha que agora, sem coligação, é possível fazer isso?

JM – Todos os partidos disputarão do mesmo modo que o pessoal disputou até então. Nós, no quadro das eleições anteriores, tivemos uma opção e não foi por falta de procura de outras forças políticas, mas fizemos a opção de não fazer coligação naquele momento, porque tem até aquela expressão popular: “antes só do que mal acompanhado”. Ao mesmo tempo, as leis eleitorais mudaram e hoje não é mais possível coligação para a disputas de vagas nas Câmaras Municipais, é a primeira eleição onde isso acontece. Na verdade, todos os partidos agora vão ser forçados a disputar como o Psol disputa. Na eleição passada, nós apresentamos seis candidaturas. A expectativa é apresentar uma chapa, um conjunto de nomes mais amplo do que esse e a avaliação é que sim, que a gente tem condições, que é viável, neste momento, ocupar o espaço da Câmara a partir de mandatos e tudo mais. Que não só é viável, como é uma questão necessária. Me parece que esse é um sentimento bastante espalhado no município. Principalmente neste momento agora, onde a gente vive numa situação muito séria de pandemia com efeitos evidentes na saúde, onde uma boa parte da população foi afetada, agora com o número crescente de vítimas, especialmente entre a população negra e pobre ou comunidades mais desassistidas pelas autoridades, junto com isso, você tem efeitos sociais e econômicos muito graves também. Parece que a gente tem um poder legislativo de costas para essa realidade, que prefere discutir e aprovar moção de repúdio contra apresentadora de TV ou marca de cosméticos ao invés de tratar questões muito graves, que afetam e fazem as pessoas que sofrerem muito no dia-a-dia. A nossa avaliação não é só viável como avaliamos principalmente que há uma necessidade colocada.

AC – Para prefeito, o Psol apoia qual candidato?

JM – Isso tem sido bastante perguntado, até porque assim como a questão sobre a minha pré-candidatura, nós também demoramos a apresentar um nome para o processo de disputa para a prefeitura. Isso se deveu, como eu disse, ao fato que nós priorizamos o enfretamento da crise nesses últimos meses, o que realmente tomou bastante tempo nosso. Quem puder dar uma olhada nas nossas redes, acompanhar nossa página no Facebook, no Instagram, vai perceber que essa movimentação está lá. Então, dá para observar o que estou dizendo, mas ao mesmo tempo a gente faz devagar o debate eleitoral para não ter atropelo, para não reproduzir problemas que a gente vê em outros partidos, inclusive no município.

A questão da candidatura não é só escolher um nome, mas escolher alguém que seja coerente com aquilo que o Psol defende e que tenha uma trajetória, uma caminhada que seja enraizada na luta mesmo, porque é um perfil de uma candidatura que a gente tem apresentado. Respondendo diretamente, a gente não apoia nenhuma das outras candidaturas postas, a gente avalia que aquilo que está colocando de continuidade aí no governo municipal não responde, visto que é um modelo que está desbotado.

Evidentemente, a gente vê problemas como transporte coletivo no município, que entra ano e sai ano e é esse transtorno diário. E não é por falta de conhecimento, você está há 20 anos no governo, em casos de secretários do município mesmo, e não é por falta de conhecimento que o problema não foi resolvido. Quer dizer, têm interesses que fazem com que o modelo seja esse e na nossa avaliação esse modelo está desbotado. Ao mesmo tempo, evidente que temos diferenças com as outras candidaturas que se colocam no campo da oposição como dissemos. Não adianta ter oposição pela oposição, ela precisa estar ali cessada numa prática que seja diferente, num projeto político que tenha de fato uma diferença verdadeira.

A gente tem uma candidatura própria desde o Congresso Municipal do ano passado, nós definimos que era uma diretriz de candidatura própria e essa candidatura, o peso que está posto da direção executiva municipal hoje, ela está concretizada, a partir do nome da nossa companheira Marcela Prest, como pré-candidata a prefeita de Feira de Santana. Tivemos uma discussão no executivo, temos uma plenária eleitoral, faço até o convite para todos da reunião previstas para sábado agora, às 15h. É evidente que a discussão continua, é uma pré-candidatura, mas me parece que a direção executiva já vem amadurecendo isso há algum tempo.

Não só é importante de partida ter uma companheira, é importante para a história política do município, para o momento que a sociedade brasileira atravessa, que seja uma mulher candidata e é importante, porque vez por outra aparece um discurso que diz: “Não, é porque as mulheres são minoria”. É minoria no ponto de vista da presença no espaço político, mas é a maioria da sociedade brasileira, inclusive pelos dados do IBGE. Estou falando de uma parte muito expressiva da sociedade feirense, inclusive, e que encontra pouco espaço da política tradicional. Para começar, é importante nesse sentido. Segundo, porque é uma companheira, tem uma trajetória de luta, que, inclusive, hoje é presidente municipal do partido. Obedece àqueles critérios que são de coerência em torno do que o Psol tem apresentado de ter uma caminhada, uma trajetória que é comprometida, não no momento das eleições, porque é fácil se apresentar neste momento de eleições de modo comprometido, mas olhando a caminhada da pessoa, o que ela tem feito fora do momento eleitoral.

Quem me conhece, acompanha as minhas andanças, sabe que sou uma pessoa aberta ao diálogo e tudo mais. Me coloco a disposição, não é da boca pra fora e, sem dúvida, que esse processo eleitoral em Feira vai ser marcado não só pela diferença do ponto de vista das propostas, que é uma continuidade daquilo que o Psol tem feito, mas por uma mudança de rumos. Acredito que a gente vive um cenário de muita enfatização de uma política que está imposta e, às vezes, isso pode ser um tiro no próprio pé. A gente viu em 2018, mas às vezes pode ser trabalhado para construir de fato, alternativas que garantam direito para a maior parte da população. Sempre digo que garanta de fato lugar na política para quem sente na pele a exploração, opressão e negação de direitos todo dia, que é a maioria do nosso povo. 

AC – O senhor ainda não tinha falado em lugar nenhum que não é candidato a prefeito?

JM – Não. Na verdade, esse é o marco em pronunciamento público, mas estamos aguardando e tiramos coletivamente essa semana para apresentar essa posição. Me sinto na responsabilidade de informar, até porque a votação é expressiva de um apoio das pessoas em torno daquilo que foi apresentado e nunca fui candidato de mim mesmo. Tenho outras atividades, enquanto historiador, professor, pai, morador do meu bairro, que é a Queimadinha, então eu não dependo da atividade política no sentido eleitoral. Se estou me dispondo a essa tarefa, é porque de fato acredito que tenho um papel a cumprir numa tarefa que é coletiva e, se é coletiva, eu preciso prestar contas.

Colaboraram os estudantes de jornalismo Gabriel Gonçalves e Maylla Nunes.  

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