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Pesquisa DataPoder360 realizada nos últimos dias de julho indica que Jair Bolsonaro (PSL) segue líder na corrida pelo Planalto num cenário em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não é apresentado como candidato. O capitão do Exército na reserva tem 20% das intenções de voto, mas enfrenta uma rejeição de 65%.
No mês passado, Bolsonaro tinha 21%. Sua variação foi dentro da margem de erro do levantamento.
O principal adversário de Bolsonaro neste momento é Geraldo Alckmin (PSDB), pois ambos disputam o eleitorado do centro para a direita. Desde maio o tucano agregou 1 ponto percentual por mês à sua taxa de intenção de voto. Tinha 7% em maio. Passou a 8% em junho. Em julho, foi a 9%.
São mudanças percentuais dentro da margem de erro da pesquisa, mas que indicam uma possível –embora ainda incerta– tendência de crescimento do tucano. Alckmin também tem 1 problema semelhante ao de Bolsonaro: 62% rejeitam o candidato do PSDB.
No mais, esta rodada do DataPoder360 continua a indicar uma alta taxa de “não voto”, com 43% dos pesquisados dizendo que vão escolher branco, nulo, nenhum candidato ou que ainda estão indecisos.
O levantamento do DataPoder360, divisão de pesquisas do portal Poder360, realizou 3.000 entrevistas por meio de telefones fixos e celulares de 25 a 28 de julho. Foram atingidas 182 cidades em todas as regiões do país. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, para mais ou para menos. O registro do estudo no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) é BR-09828/2018.
Há uma grande estabilidade no cenário da sucessão presidencial.
Nesta rodada, o DataPoder360 testou apenas 1 cenário de candidatos (com 6 nomes). Não foram testados cenários de 2º turno:
Quando se observa o quadro acima é necessário levar em conta os momentos em que foram realizadas cada uma das 3 pesquisas listadas.
Em maio de 2018, o DataPoder360 já estava programado para pesquisar quando eclodiu o movimento de paralisação de caminhoneiros em todo o país. Jair Bolsonaro foi beneficiado. Ele sempre tinha perto de 20% e foi a 25% em maio. Agora, aparentemente voltou para o seu patamar tradicional no eleitorado.
Já no caso de Geraldo Alckmin, a pesquisa atual foi realizada no momento em que o tucano experimentou sua maior exposição espontânea e positiva na mídia em geral –após formar uma megacoalizão com o grupo de partidos autodenominado Centrão. A maioria das análises nos meios de comunicação foi no sentido de dizer que o tucano passou a ser mais competitivo.
Não há ainda como afirmar, com segurança, se existe mesmo uma tendência de crescimento sustentável do candidato do PSDB –o que será possível aferir no final de agosto.
A prioridade desta rodada do DataPoder360 foi testar o potencial de voto, a taxa de rejeição, a certeza do voto e o grau de conhecimento que o eleitorado tem de cada candidato. É o cruzamento desses 4 dados que permite, de alguma forma, identificar tendências do que poderá se passar nas próximas semanas até o 1º turno em 7 de outubro.
REJEIÇÃO: TODOS ACIMA DE 50%
Como se observa no quadro sobre potencial de votos dos candidatos a presidente, todos têm rejeição acima de 50%.
Cada empresa testa a rejeição dos políticos com uma metodologia específica. No caso do DataPoder360, optou-se por fazer perguntas separadamente para cada 1 dos nomes na corrida presidencial.
O enunciado da pergunta foi este: “Você diria que votaria com certeza, poderia votar, ou não votaria de jeito nenhum em [nome do candidato]?
Chama a atenção a taxa de rejeição de Jair Bolsonaro (PSL), que puxa a fila com 65%. Mas Geraldo Alckmin (PSD) vem logo a seguir, com 62% (empatado na margem de erro com Bolsonaro). Depois, bem próximos, estão Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede), ambos com 60%.
Os petistas Haddad e Wagner têm 57% e 55% de taxa de rejeição, respectivamente.
Isso tudo significa que dificilmente algum político –salvo numa mudança enorme do cenário– possa vencer já no 1º turno. A Constituição brasileira determina que só ganha no 1º turno o candidato que conseguir, pelo menos, 50% mais 1 dos votos válidos.
POTENCIAL DE VOTO
Essa é soma dos que dizem votar com certeza ou que poderiam votar num determinado candidato.
O campeão isolado de potencial de voto é Lula, com 38%. É importante dizer que as perguntas sobre o petista foram todas feitas pelo DataPoder360 ao final do questionário aplicado para não influenciar as respostas a respeito dos demais candidatos.
Depois de Lula, vêm Ciro e Alckmin, ambos com 35%. Marina Silva (Rede) aparece a seguir, com 33%. Haddad tem 28%; Bolsonaro, 26%; e Wagner, 21%.
A diferença entre Lula e os demais candidatos é que o petista tem 27% de eleitores dizendo que poderiam votar nele com certeza. Nenhum dos demais concorrentes fica perto desse desempenho.
Ao mesmo tempo, Lula desperta a fúria de 60% dos eleitores brasileiros, que dizem não votar nele de jeito nenhum.
INCERTEZA GRANDE
Metade do eleitorado (51%) não sabe ainda em quem votar para presidente ou pode mudar de opinião até o dia da eleição.
Isso significa que candidatos empacados podem conseguir pescar votos nesse oceano de indecisos? Depende.
Se nada relevante acontecer até o dia da eleição (1 grande escândalo político, por exemplo), a tendência que se viu em todas as eleições recentes é o voto dos indecisos se dividir proporcionalmente à taxa que cada candidato já tem nas pesquisas. Nessa hipótese, quem está na frente acaba seguindo na liderança do mesmo jeito.
Além de 1 escândalo de grandes proporções, há o sempre repetido “efeito da TV quando começar o horário eleitoral”. É possível que isso ocorra, mas em eleições presidenciais passadas nunca houve reviravoltas nesse tipo de disputa nacional por causa da TV –diferentemente de pleitos municipais ou estaduais.
Por fim, o atual nível de eleitores indecisos pode levar a 1 recorde de “não voto”. O número de brasileiros desanimados com a política enseja 1 possível número alto de brancos e nulos, além de abstenções. Esse fenômeno já foi registrado em eleições suplementares recentes no Amazonas e no Tocantins.
Há muitas análises precipitadas a respeito desse possível “não voto” recorde.
Algumas interpretações atribuem esse desinteresse do eleitor a uma certa falência do sistema democrático brasileiro. Não é bem assim. Ocorre que há 3 décadas o país convive com o atual modelo de democracia representativa. Muitos cidadãos perceberam que o voto não é, de fato, obrigatório. A multa por passar o domingo na praia e não votar equivale a, aproximadamente, US$ 1.
Em democracias representativas mais desenvolvidas e longevas do que a brasileira, é natural que quase metade dos eleitores não se dê ao trabalho de votar. É assim nos Estados Unidos e lá a democracia existe há mais de 200 anos.
Tudo indica que o Brasil está entrando nessa quadra: uma parte relevante do eleitorado poderá preferir não opinar durante o processo eleitoral de 2018. Se isso ocorrer, será motivo de muitos estudos sócio-político-eleitorais no futuro –até porque o “não voto” favorece quem está hoje já na frente nas pesquisas.
PETISTAS DESCONHECIDOS
Os 2 mais prováveis substitutos de Lula na disputa (quando o ex-presidente eventualmente ficar impedido de concorrer por ser condenado em 2ª Instância), Fernando Haddad e Jaques Wagner, são pouco conhecidos nacionalmente –23% e 18%, respectivamente.
Todos os demais candidatos competitivos têm uma taxa acima de 50%.
Em algumas pesquisas recentes foram testados nomes de petistas com a identificação de “candidato do Lula” ou “apoiado pelo Lula”. Nessas hipóteses, Haddad chega à redondeza dos 10%. Há, portanto, uma possibilidade de transferência de votos.
A pergunta a ser feita é: “Qual é o momento ideal para começar a fazer de fato essa eventual transferência de votos de Lula para Haddad ou Wagner?”. O PT e Lula não admitem discutir isso em público. Tudo indica que a decisão tomada é a de levar Lula com uma candidatura precária até por volta de 15 de setembro –quando a Justiça Eleitoral possivelmente decida interditá-lo de maneira definitiva.
Nesse cenário do parágrafo anterior, o PT teria cerca de 20 dias para inocular os votos lulistas no substituto. Esse tempo será suficiente? Ninguém sabe e não existem parâmetros de eleições anteriores que permitam comparações ou vaticínios minimamente científicos.
O ex-prefeito do Rio de Janeiro Cesar Maia, arguto analista de pesquisas de intenção de voto, escreveu a respeito da transferência de votos de Lula para algum outro petista. O artigo está aqui.
VOTO MAIS CERTO: BOLSONARO
O eleitor em geral tem muita incerteza (só 49% dizem já ter decidido com certeza em quem votar), mas os bolsonaristas se comportam de maneira diferente. Entre os que votam no candidato do PSL, 76% dizem que não mudam mais de opinião até o dia da eleição.
É claro que essa é uma “fotografia” do momento da pesquisa. O cenário pode se alterar. Mas é melhor ter esse tipo de voto mais cristalizado agora do que não ter. O 2º candidato com mais eleitores definidos é Ciro Gomes, com 65% dizendo que votam no nome do PDT com certeza.
Todos os demais candidatos ficam perto de 50% (nível de voto com certeza) ou abaixo.