O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu disse, em agosto de 2005, auge do escândalo do mensalão, que não acreditava na vitória do presidente Luiz Inácio da Silva na eleição que seria realizada um ano depois. A revelação está em um telegrama da diplomacia americana obtido pela organização WikiLeaks e divulgado nesta segunda-feira (20).
O relato se baseia em um diálogo que Dirceu teve com Bill Perry, assessor especial do Departamento de Estado americano, durante um café da manhã no apartamento do petista em Brasília.
A conversa ocorreu no dia 17 de agosto de 2005, cerca de dois meses após Dirceu ter deixado a Casa Civil sob a acusação de envolvimento com o mensalão. De acordo com o documento, Perry e Dirceu se conhecem pessoalmente há vários anos.
No diálogo, após se referir ao esquema e tecer críticas a seu próprio partido, Dirceu admitiu não acreditar na reeleição de Lula em 2006.
Para ele, àquela altura, quem tinha mais chances de vencer a disputa era o candidato do PSDB. De acordo com o documento, Dirceu apostava em José Serra, mas considerava que os tucanos, se eleitos, não conseguiriam fazer uma administração eficiente.
Em 2006, quem disputou a eleição – e perdeu para Lula no segundo turno – foi Geraldo Alckmin, então governador do Estado de São Paulo, e não Serra, derrotado neste ano por Dilma Rousseff.
Em outro trecho, o ex-ministro da Casa Civil, que em dezembro de 2005 teve o mandato de deputado cassado também por causa do mensalão, afirmou que Lula não age muito “por iniciativa própria” e disse que o presidente deveria ter trabalhado para garantir ao PT uma base legítima de financiamento para a campanha de 2002.
De acordo o relato da diplomacia americana que está em outro despacho vazado hoje pelo WikiLeaks, de outubro de 2005, Dirceu parecia mais otimista com a eleição presidencial de 2006. Naquele momento, ele já não previa mais a derrota de Lula, mas uma “disputa competitiva”, cujos resultados eram ainda “imprevisíveis”.
Mensalão
Na conversa ocorrida em agosto, segundo o relato, Dirceu criticou o comando do PT na época pelo que chamou de um esquema “louco” e “perverso” de financiamento ilegal.
O despacho de outubro, por sua vez, indica que Dirceu, quando questionado sobre a realização de uma reforma política no Brasil, demonstrou-se pouco interessado no tema, mas falou de irregularidades relacionadas ao financiamento de campanhas políticas.
O ex-ministro admitiu, inclusive, que ele próprio já havia gastado o dobro do que declarou em suas campanhas e afirmou que todos os políticos brasileiros fazem uso de alguma forma de caixa dois.
Sobre a “hipocrisia dos adversários quanto ao tema”, Dirceu afirmou que se trata de “algo natural e inevitável em um país no qual políticos não gostam de ser vistos recebendo dinheiro e doadores não gostam de ser vistos entregando dinheiro”.
Outro lado
Procurada, a assessoria de imprensa do ex-ministro informou que ele está neste momento voltando de uma viagem que fez a Portugal e disse que uma nota será divulgada com seu posicionamento.
( As informações são do R7)