O deputado estadual Pablo Roberto, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Segurança Pública da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), informou, nesta quarta-feira (26), em entrevista ao Acorda Cidade, que está fazendo um levantamento de todas as denúncias de agressão e abuso de poder envolvendo policiais militares durante a Micareta de Feira de Santana contra foliões.
A segurança do evento, que foi realizado entre os últimos dias 20 e 23 de abril, além do arrastão pós-festa na segunda-feira (24), contou com um efetivo de aproximadamente 6 mil policiais militares, além de todo o aparato tecnológico montado pelo governo, como o sistema de reconhecimento facial e a integração entre os órgãos.
Apesar de todo o investimento em segurança e a pregação de uma cultura de paz durante a festa, muitas denúncias de agressões praticadas por policiais dentro do circuito surgiram nas redes sociais, com vídeos comprovando determinadas situações.
Conforme o deputado Pablo Roberto, ele recebeu pessoalmente diversos relatos de pessoas que foram vítimas e passou o dia ontem (25) colhendo informações.
“Criamos uma expectativa muito grande com essa Micareta. A prefeitura trabalhou muito, o governo do estado também participou, e a festa acabou praticamente ao meio-dia da segunda-feira, com o arrastão. Então, qualquer comentário ou posicionamento ainda na segunda-feira seria muito irresponsável da nossa parte. Nós passamos o dia ontem ouvindo relatos, colhendo depoimentos, recebemos pessoas daqui de Feira na Assembleia, pela manhã, levando situações que ocorreram na Micareta. Infelizmente, não foi possível essas pessoas falarem ontem, porque tínhamos uma pauta específica sobre a Polícia Penal, mas já está pautado para a próxima terça-feira”, iniciou.
Ele enfatizou o seu respeito em relação à instituição Polícia Militar e a importância da corporação, mas viu com estranheza o posicionamento da Polícia, quando emitiu uma nota falando em casos isolados.
“Casos isolados são um ou dois casos. Estamos falando aí de mais de uma dezena de ocorrências. Nós já temos isso catalogado, de pessoas que alegam ter sido vítimas de algum tipo de violência no circuito da festa. Inicialmente, conversei com alguns deputados da base do governo pela manhã, fiz uma fala na abertura no início dos trabalhos, conversei com o líder do governo, deputado Rosemberg, pedindo a ele que intermedeie um encontro o quanto antes com o Secretário de Segurança Pública e o Comando-geral da PM e enviei uma correspondência ontem mesmo ao gabinete do governador pedindo a ele esclarecimentos, porque já são 48 horas aproximadamente após a festa e até agora nenhum posicionamento foi dado de forma mais concreta sobre o que aconteceu”, informou.
O deputado Pablo Roberto disseao Acorda Cidade, que recebeu pessoalmente diversos relatos de pessoas que foram vítimas.
Respostas à sociedade
“Quem praticou esse tipo de ocorrência no circuito da festa e quais as providências que o estado vai tomar?”. Esses são alguns dos questionamentos feitos pelo deputado.
“Estamos também encaminhando um expediente ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, enfim, todos os mecanismos que acompanham e tratam essas questões, para que possamos dar as respostas à sociedade feirense e que a gente possa usar isso como exemplos negativos que trazem um aspecto muito ruim para todos nós. Nós vivenciamos um período muito longo em Feira, combatendo um comentário muito forte que rodava por aí de que a Micareta de Feira de Santana sempre foi uma festa muito violenta. E esse ano nós pregamos muito a paz, o governo do estado pregou a paz, o governador esteve aqui em vários dias e colocou, inclusive, no circuito da festa, um observatório de direitos humanos, com o objetivo de incentivar a cultura de paz, mas infelizmente tiveram casos exatamente por quem deveria garantir a segurança do folião.”
De acordo com o deputado estadual, que também mantém um bloco na Micareta, chamado Pode Pá, animado este ano pelo grupo Unidos pelo Samba, ele esteve todos os dias na rua durante a festa e ouviu pessoas dizerem que estavam com medo de ir para o circuito por conta da atuação de alguns policiais.
“Estive na rua todos os dias e ouvi muito gente falar que estava com medo de vir, não por conta de brigas, que certamente devem ter ocorrido muitas e em muitos casos também se fez necessária uma intervenção mais forte da Polícia Militar. Mas nós queremos corrigir os excessos que aconteceram e mandamos correspondências ontem tanto para a secretária municipal de saúde quanto para a direção do Hospital Geral Clériston Andrade solicitando informações acerca do número de pessoas que deram entrada com algum tipo de trauma e se essas pessoas no atendimento relataram quem foram seus os agressores, uma vez que foi montado um hospital no circuito da festa e os relatos que chegam é que houve um número muito grande, cresceu muito em cada dia. E queremos ter todas essas informações para que seja feito um debate, uma audiência e possamos corrigir.”
Encontro com as vítimas
O deputado estadual Pablo Roberto afirmou durante a entrevista que marcou para esta quarta-feira (26) um encontro com algumas vítimas para colher mais depoimentos e entender o que aconteceu.
“Queremos encontrar respostas e marcamos encontros com algumas vítimas hoje, para entender de fato o que aconteceu, com o objetivo de dar as respostas que a população baiana precisa. Houve um saldo positivo também da Polícia Militar. Não houve tantas brigas, não apenas por conta da figura do policial, mas também por conta de toda a estrutura de inteligência que foi montada. Entrei no circuito da festa todos os dias e fui abordado, levantei a camisa, passaram o detector de metais, e isso inibiu as pessoas. Outra coisa que foi amplamente divulgada foi o número de 6 mil policiais. O governo criou toda essa estrutura e aqueles com espírito mais perturbador foram inibidos.”
O objetivo destas ações, segundo ele, é suscitar também um debate em torno dos problemas que envolvem a segurança pública no estado da Bahia e as dificuldades enfrentadas pelos policiais militares.
“Outra coisa que quero destacar não é a questão da responsabilização individual, quero falar da instituição, saber qual a orientação que esses policiais recebem, qual é o atendimento que esses policiais recebem. A Polícia Militar na Bahia está adoecendo, temos um número grande de policiais que estão doentes, abalados psicologicamente, enfrentando problemas de depressão, e não podemos deixar de levar em consideração a estrutura salarial, aparato, e nós estamos vivenciando no estado um verdadeiro cenário de guerra. Entre janeiro e fevereiro, em Salvador e região metropolitana, foram mais de 250 tiroteios. Qual é o armamento, a estrutura que o policial tem para enfrentar a criminalidade que está com fuzil, com armamento de ponta”, elencou.
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