Eleições 2014

Candidato do PSOL destaca fortalecimento do semiárido baiano entre suas propostas

o Acorda Cidade entrevistou nesta terça-feira (12) o candidato ao governo da Bahia pelo PSOL, Marcos Mendes

Daniela Cardoso

Dando sequência à série de entrevistas que faz parte do projeto Eleições 2014, o Acorda Cidade entrevistou nesta terça-feira (12) o candidato ao governo da Bahia pelo PSOL, Marcos Mendes. A candidata Renata Mallet (PSTU), que seria entrevistada ontem, não compareceu por problemas de saúde, segundo a assessoria da mesma. Pela ordem sorteada, na quarta, será entrevistado o candidato do PT, Rui Costa; na quinta, Rogério da Luz, do PRTB; na sexta, Paulo Souto, do DEM; e, no sábado, Lídice da Mata, do PSB.

Acorda Cidade: Quem é Marcos Mendes?

Marcos Mendes:Sou nascido em um bairro bem popular de Salvador, o Liberdade, que é também um dos mais negros da Bahia. Estudei em escolas públicas durante toda a minha vida e passei na Escola Técnica Federal da Bahia, onde verdadeiramente começei a entender o que é o processo político. Naquela época o PT (Partido dos Trabalhadores) tinha uma formação muito diferente do que é hoje. Era muito forte o movimento de trabalhadores e movimentos sociais, então eu comecei a militar no PT. Não era filiado, pois gostava de militar na base e entendia que se a gente tivesse fortalecendo a base, estaria reproduzindo tudo aquilo que estaria na linha programática. Saí da escola técnica, onde me formei em Instrumentação e passei no vestibular na Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde me formei em Geologia. Depois fiz pós-graduação em Gestão Pública Municipal e Governamental, cujo foco foi orçamento participativo, por entender que a participação popular tem que ser um braço ao lado de qualquer gestor. Depois eu fiz uma pós-graduação em Profissional do Meio Ambiente com uma característica muito forte na questão ambiental e, por fim, fiz mestrado em Geologia Ambiental e pude contribuir com a sociedade ensinando por dois anos no Instituto de Geociência da UFBA. Fui presidente do DA no Instituto de Geociência, dentro do movimento estudantil, então toda essa militância política começou aí. Quando aconteceu o primeiro ano do governo Lula houve um total arrefecimento da minha força e vontade de construção política dentro do PT. O primeiro ato foi quando Meireles assumiu o Banco Central. O grande representante dos banqueiros internacionais não poderia jamais assumir um governo do PT, pelo menos pensávamos assim. Logo depois teve a defesa de Sarney com vários indícios de corrupção e eu comecei a pensar que aquele não era o partido que eu ajudei a construir. Então eu pedi para sair no início de 2004, pois não acreditava mais no projeto do PT. Foi quando teve a reforma da previdência e alguns nomes como Heloisa Helena, Babá, João Fontes e Luciana Genro, que hoje é nossa candidata a presidente, se contrapôs a tudo isso. Eles foram orientados a votar a favor, mas eles se rebelaram e votaram contra. Por conta disso, eles foram expulsos do PT, se juntaram e formaram o PSOL. Eu estava afastado da política e a partir daí comecei a fazer parte de uma linha de frente. Em 2006 fui candidato a deputado federal, depois fui candidato a vereador, em 2010 candidato a governador, em 2012 candidato a vereador e agora candidato a governador de novo.

AC: Por que essa insistência à candidatura ao governo?

Marcos Mendes: Quem é o PSOL hoje? Temos somente três deputados federais (Chico Alencar, Jean Wyllys e Ivan Valente). Apesar disso, por nove anos, somos os melhores do Congresso. Temos somente um senador, que foi o mais atuante desde 2011. As Assembleias Legislativas agradecem aos candidatos do PSOL, que têm posturas em destaque. A exemplo de Marcelo Freixa, do Rio de Janeiro, que é considerado o melhor desse país. Ele presidiu a CPI das Milícias, que colocou mais de 800 pessoas na cadeia. Então eu acho que a Bahia precisa entender e dar uma oportunidade ao PSOL, que tem independência e autonomia, não recebe financiamento privado e não está na mão de nenhuma empresa. Pagamos um preço por isso. Nossa estrutura é a menor de todos os partidos. Temos declarados 200 mil reais, mas não sei se vamos chegar a 100 mil reais de gasto e isso incluindo o programa de televisão.

AC: Por que o PSOL não emplaca na Bahia?

Marcos Mendes: A população precisa começar a compreender esse processo. Já tivemos um deputado e vereador mais votados no Rio. Temos quebrado paradigmas. Passou no Fantástico que um candidato a deputado federal para se eleger precisa de 5 mil reais, mas o nosso candidato não teve esse valor. Acho que a população começa a reconhecer que o PSOL é um partido totalmente diferente dos outros, pois estamos tendo uma boa repercussão em todos os locais em que chegamos.

AC: Quais são as propostas do senhor para Feira de Santana?

Marcos Mende: Não só Feira de Santana como as cidades circunvizinhas sempre foram deixadas de lado, por serem semiárido. Estamos inseridos dentro do semiárido baiano, que é responsável por 390 mil quilômetros quadrados. Ele é maior que o semiárido da região Nordeste. A disponibilidade hídrica que temos nesse semiárido é de 1 bilhão de metros cúbicos de água. Determinados projetos não são feitos para beneficiar o nosso semiárido, a exemplo da transposição do Rio São Francisco, que estava completamente degradado e circunda em torno de 105 municípios. Aquela obra só beneficiaria grandes empreiteiras e o agronegócio. A gente precisa favorecer os pequenos agricultores e é isso que queremos para Feira e região. Um dos grandes problemas daqui é a falta de disponibilidade de água. Temos coisas importantes para fazer, como barragens subterrâneas, pois o semiárido tem a característica de chover durante alguns meses e depois para. Só que essa água tem um escoamento superficial e ela vai embora. A água tem uma direção preferencial e com a barragem, essa água é barrada e teremos disponibilidade para retirá-la quando estivermos com a seca. Outra proposta é a questão dos poços artesianos. Existe um método chamado Guimarães Duque, onde tem a parte para plantar e outra para acumular água. Tem outro, que deve ser feito a longo e médio prazo, que é a questão dos açudes. Não temos nem 10 açudes na nossa região. É necessário também recuperar a EBDA (Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola), que dá suporte aos agricultores familiares.

AC: Saúde, segurança e educação continuam sendo áreas com maiores demandas. Quais são as propostas do senhor para esses setores?

Educação – Os professores não têm um plano de carreira decente, não tem plano de cargos e salários, aumentaram o Reda e o PST, que é serviço temporário. Precisamos de concurso público para dar dignidade aos professores. A lei do piso não é respeitada até hoje. Temos que fazer um plano de carreira para os profissionais da área de educação.

Saúde – Atualmente quem ganha com a saúde são empresas médicas, planos de saúde e indústrias farmacêuticas. Temos empresas privadas que administram unidades de saúde, a exemplo do Hospital Estadual da Criança. Essas empresas lucram com a miséria das pessoas, que ficam nos corredores do hospital aguardando atendimento. O nosso projeto é fazer carreira estatal dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) para fortalecer o sistema, que é um projeto maravilhoso.

Segurança – Hoje lutamos pela PEC 300, que defende um salário igualitário para todos os policiais, baseado na polícia do Distrito Federal, que é igual à Polícia Federal. É um trabalho árduo que esses policiais fazem. Eles enfrentam a criminalidade e a formação deles é como se tivessem que ir para a guerra. Hoje quando a polícia chega, as pessoas ficam com medo, pois eles são formados desse modo. É como se eles enxergassem a população como inimiga. Queremos uma polícia cidadã, com ouvidorias externas. O segundo ponto é a PEC 51, que lida com a desmilitarização das polícias, que precisa ter autonomia e a população precisa controlar. Dentre as medidas está a carreira única. Também queremos um novo regime, um código de ética próprio para os policiais.

AC: Que avaliação o senhor faz das pesquisas de intenções de voto para candidatos ao governo?

Essas pesquisas eleitorais são para domesticar as pessoas. Existe uma cultura que diz que os resultados das pesquisas fazem com que as pessoas pensem em ‘não perder o voto’. Não existe uma consciência política. É importante que as pessoas saibam que existe segundo turno para isso. A pessoa vota na melhor proposta, no melhor candidato. No segundo turno, se não tiver jeito, a pessoa escolhe outra opção. Eu tenho uma resistência grande em relação a pesquisas. Acho que se alguém tivesse que fazer pesquisa, deveria ser o TRE (Tribunal Regional Tribunal) para ter mais legitimidade. 

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