Gabriel Gonçalves
Após quatro internos do Conjunto Penal de Feira de Santana terem fugido da unidade prisional na madrugada desta quinta-feira (24), policiais militares da Companhia Independente de Polícia de Guarda, recapturaram um dos quatro detentos por volta das 8h de hoje, na Avenida Eduardo Fróes da Mota, próximo do Conjunto Feira X.
Em entrevista ao Acorda Cidade, o presidente do Sindicato dos Servidores da Polícia Penal do Estado da Bahia (Sinsppeb), Reivon Pimentel, destacou que não se surpreende mais com fugas da unidade prisional de Feira de Santana, e sim, pelo fato de ainda ter detentos presos em uma unidade que não possui mais estrutura. Ele disse ainda que já foi feito um pedido de interdição do Conjunto Penal.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
"Eu quero dizer que não me surpreendi pelo fato de ter tido uma fuga, o que me surpreende, é o fato de ter presos ainda nesta unidade porque nós temos um mix de problemas que facilitam a fuga e o ingresso e de materiais ilícitos na unidade. A primeira delas, é a redução do efetivo de policiais penais, nós temos cerca de 1.800 presos. Tem plantões que temos apenas nove policiais penais, lembrando que nós temos 11 pavilhões, um mini presídio, um pavilhão feminino e inúmeros postos de serviço que a grande maioria já foi abandonada, aliado a isso, nós temos ausência de sistema de monitoramento por câmeras, não dispomos de sistemas de bloqueios de telefonia móvel, o que facilita a comunicação dos criminosos. Eles podem se articular e eu acho que no momento tão grave quanto ao efetivo reduzido, ainda tem o abandono das guaritas por parte da Polícia Militar. Eu não estou falando que os propostos estão abandonando, existe uma determinação do comando da PM de abandonarem essas guaritas e para a sociedade ter uma ideia, nós temos 17 guaritas no Conjunto Penal de Feira de Santana, dessas 17, quando muito, três estão sendo ocupadas pela Polícia Militar que alegam falta de efetivo, falta de segurança. O fato é que apenas três guaritas estão sendo ocupadas", relatou.
De acordo com o presidente do Sindicato, no momento da fuga houve alguns disparos de arma de fogo.
"Por volta de 2h10 da madrugada se ouviu tiros que chamaram a atenção dos policiais penais, plantonistas e é bom que se frise, que nós temos dois blocos de pavilhões no Conjunto Penal de Feira de Santana. Um bloco que vai de 1 a 5 com presos provisórios e o outro que vai de 6 a 11 são presos sentenciados que é da própria penitenciária. Nesse bloco de 6 a 11 ontem à noite nós só tínhamos três policiais penais, ou seja, eram três policiais penais para fazer a segurança de seis módulos e nesses seis módulos nós temos cerca de 900 apenados. Não chegou ao nosso conhecimento sobre a situação dos disparos, pode ter sido a Polícia Militar em uma das guaritas, pode ter sido tiro de dentro para fora e isso só a perícia da Polícia civil poderá identificar", explicou.
Os presos conseguiram serrar a parte inferior de uma grade da cela e com o uso de lençóis, pularam o muro do pavilhão, e em seguida, o muro externo. De acordo com o presidente, 'portas de acesso', é o que não faltam para a entrada de produtos ilícitos.
"Portas é o que não faltam. A primeira porta é o arremesso se as guaritas estão desativadas, os criminosos podem chegar nas proximidades do muro e arremessar para dentro dos pavilhões, seja o pavilhão 10 onde ocorreu ou seja o pavilhão 11. Nós temos também diversas categorias de profissionais terceirizadas que trabalham, eu não estou aqui culpando nenhum profissional terceirizado, mas o fato é que, os presos saem da cozinha do refeitório sozinhos porque nós não temos policiais penais para escoltar, percorrem todos os módulos fazendo a distribuição da alimentação sem nenhum tipo de fiscalização. Os alimentos não são inspecionados justamente porque não temos policiais suficientes. Temos 11 pavilhões e o máximo que eles podem fazer, é ficar na parte superior observando os pavilhões. Acredito que perguntar como uma serra entrou no Conjunto Penal, seria de menos, a pergunta que deve ser feita ao Comandante Geral da PM, como é que presos fugiram do presídio pelas guaritas onde os policiais militares deveriam estar trabalhando? Já passamos o caso para o Ministério Público, onde novamente citamos a interdição do Conjunto Penal de Feira de Santana, já que o estado não cumpriu os termos de ajustamento da conduta. Não resolveram a questão da estrutura do local, não resolveram o baixo efetivo, e simplesmente, o judiciário entendeu que deveria liberar para recebimento de novos presos. Com isso, a situação se agravou e esperamos que o Ministério Público possa votar pela interdição do Conjunto Penal de Feira de Santana para que uma tragédia maior, não venha a acontecer", concluiu.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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