A função de um perito criminal, a princípio, é a realização da análise, vestígios e evidências que podem chegar à resolução de um caso ou crime. Porém, a profissão vai muito além da verificação de um homicídio, mas também atua em áreas como crimes cibernéticos, contra o patrimônio e meio ambiente.
Além da responsabilidade na coleta de dados que pode auxiliar na conclusão de casos criminais, o profissional também pode contribuir com a identificação de criminosos.
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Mas, como é ser um perito criminal? Qual a sua rotina? Há 17 anos na Polícia Civil e atual Coordenador Regional de Polícia Técnica de Feira de Santana (CRPT), o perito Flávio Gonçalves, descreveu a profissão como instigante e responsável.
“A função de um perito criminal é uma ‘cachaça’ no bom sentido. É algo que vicia, principalmente nas elucidações de crime, em tentar desvendar com base nos vestígios que coletamos, uma possível autoria de um crime com base nos estudos científicos feitos durante a perícia. Isso, no popular, é uma cachaça para os peritos. É um trabalho de grande responsabilidade, pois em nossa análise, pode tanto apontar um culpado, como também pode tirar a responsabilidade das costas de um inocente”, disse.
Atividades Periciais e Prova Material
Na profissão de um perito criminal, é possível realizar diversas atividades. A coleta de dados, por exemplo, permite ao profissional a função de descrever aquilo que vê. De acordo com o Coordenador Regional, na perícia, a conclusão de um caso só é realizada através de provas materiais.
“O perito atua nos mais diversos campos da criminalística, indo desde um crime ao patrimônio, causado por uma briga entre vizinhos até casos mais complexos, como assaltos a bancos, crimes cibernéticos, falsificação de documento, a balística, crimes ambientais, identificação de veículos adulterados, e mortes violentas de todas as espécies. O trabalho do perito que o pessoal mais vê, é onde ele está atuando nas ruas, que são os homicídios, suicídios, acidentes de trabalho, trânsito, etc. Porém, e de grande importância, também fazemos as perícias complementares, perícias de bancada, de laboratório e das mais diversas naturezas, à exemplo da identificação de DNA, identificação de drogas, de abuso, de substâncias a partir de biologia forense, química forense e por aí vai. O perito na verdade, tem a função de descrever o que ele observa, o que ele vê. No latim é o ‘Vide Repeat’”, declarou.
Ao Acorda Cidade, Flávio também destacou que no campo profissional, não há espaço para subjetividade.
“Coletamos vestígios, analisamos os vestígios, fazemos relação com o fato. Além de todas essas análises, complementações, podemos emitir o laudo pericial, onde expomos as conclusões, somos peritos oficiais do estado e nosso compromisso nesse momento tem que ser com a verdade. Não temos espaço para subjetividade, para imaginação, simplesmente com base nos vestígios e na prova material a gente vai através do conhecimento científico, fazer a conclusão do nosso trabalho. É como eu disse, uma ‘cachaça’, nos dá satisfação em saber que podemos contribuir de forma decisiva na elucidação de um crime. É por isso que é tão gratificante atuar nesse campo”, frisou.
Rotina de um perito
Nascido em Paulo Afonso, mas criado em Feira de Santana, Flávio Gonçalves se interessou pela profissão no ano de 2007, quando resolveu prestar um concurso público. Atualmente, como Coordenador Geral de Polícia Técnica, realiza a cobertura do trabalho não só em Feira de Santana, como municípios vizinhos. Por isso, a rotina de um perito criminal dispõe de muito trabalho e dedicação.
“Sou filho adotivo de Feira de Santana, amo essa cidade, me identifico aqui apesar de não ter nascido aqui. Nasci em Paulo Afonso, fui criado aqui, fiz o segundo grau no Colégio Estadual de Feira de Santana e de lá fui para a UFFS onde cursei Engenharia Civil. Em 2007, prestei concurso e entrei para o estado na função de perito criminal da Polícia Civil. Atualmente, estou coordenador da CRPT, mas enquanto perito de campo também tinha uma rotina puxada, até porque [rotina] de coordenador é puxada também”, disse.
De acordo com Flávio, uma única equipe atende toda a região de Feira de Santana.
“Aqui no interior, chamamos popularmente o perito de clínico geral, já que de tudo faz um pouco. Além disso, a gente tem uma equipe que atende todas as solicitações de perícias externas, seja para atender um patrimônio, seja para atender um homicídio, um acidente de trânsito, somos uma equipe única que vai atender toda essa região. Para se ter uma ideia de toda extensão territorial, nossa área de cobertura aqui em Feira de Santana vai de Rafael Jambeiro a Irará, imagine que essa equipe esteja atendendo um homicídio Rafael Jambeiro e no mesmo tempo é chamado para um crime Irará? Há todo esse deslocamento de um campo para outro, então, nossa rotina acaba sendo puxada. Trabalhamos em regime de plantão de 24h e ficamos de prontidão na sede da CRPT”, explicou.
Ao Acorda Cidade, o coordenador também frisou sobre o trabalho que é desenvolvido pela equipe, principalmente, após realização da perícia na rua.
“Somos acionados, solicitados, formamos a equipe de rua e nos deslocamos para o local do fato. Realizamos o trabalho inicial da perícia, já que perícia não se encerra na rua. Depois registramos essa perícia no sistema, pegamos os vestígios que coletamos no local do crime para também catalogar, fazemos toda análise do material, podemos solicitar exames complementares, dependendo da natureza do fato, e depois disso tudo que leva um certo tempo, após estudar todo o caso, é que nós podemos concluir nosso trabalho mediante emissão de um laudo pericial. Não há nada simples nem fácil, trabalhamos com a prova material, não existe espaço para subjetividade. Temos os mais diversos desafios, cada perícia é uma novidade principalmente para crimes de rua, são situações diferentes, são pessoas diferentes, são casos diferentes, então cada perícia tem sua dificuldade, suas características e suas periculosidade”, ressaltou.
Principais dificuldades
Um dos principais desafios dos profissionais de perícia criminal em Feira de Santana, é a preservação do local em crimes externos. Segundo o Coordenador da CRPT, nestes casos, a contaminação de vestígios pode comprometer na conclusão de um crime.
“O que mais prejudica a perícia e gera dificuldade ao nosso trabalho é a dificuldade de preservação do local. É complicado o perito chegar no local e ele não estiver preservado. Se o local for manipulado, ele prejudica de forma crucial a perícia, contamina os vestígios, os técnicos não conseguem coletar um DNA confiável naquela peça, prejudica o entendimento da dinâmica do crime e consequentemente compromete o com o resultado. Essa é a nossa maior dificuldade. Mas, além disso, também encontramos outras dificuldades como locais escuros quando vamos à noite em matagal, onde não necessariamente conseguimos visualizar tudo ao redor, há também uma dificuldade de iluminação nesses aspectos”.
Como se tornar um perito criminal
Na Bahia, um dos requisitos para se tornar um perito criminal é o diploma de ensino superior.
“Há peritos de todas as profissões já que os crimes são diversificados. Por isso, exige um determinado conhecimento para cada natureza de um crime. Então, é essencial ter um curso superior e prestar o concurso público para essa função. Após o concurso, aprovado, é necessário também passar por um curso de intensivo, que é bastante intenso de capacitação, onde aprendemos de fato o que o trabalho pericial. Como qualquer profissão, temos que seguir as leis, a nossa principal responsabilidade é com a verdade, temos que realizar um bom trabalho, já que também temos que ter responsabilidade com a sociedade. Temos condições difíceis da própria natureza do trabalho, dependendo do ambiente que são até inibidores de um bom trabalho, mas a gente tenta fazer o nosso melhor. O perito tem que estar comprometido com a verdade. Quando entrei para a polícia, não era muito ligado as questões policiais, um amigo meu advogado que me falou da profissão de perito, então comecei assistir alguns filmes americanos que envolviam perícias e me apaixonei por esse ramo, fui criando interesse, me familiarizando e prestei concurso em 2006 para a polícia. Naquela época, não tinha esse foco todo na perícia como se tem hoje, não havia tanta divulgação como se tem hoje, mas, foi um concurso bem concorrido. E o meu conselho para quem quer entrar na carreira de perito, é que estude, estude bastante, e quando você achar que já estudou suficiente, estude mais um pouco. Pegue outras provas de concursos anteriores, analise as questões que te dará ao norte para que você saiba que eles cobram determinado assunto”, finalizou.
Com informações da jornalista Iasmim Santos do Acorda Cidade
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