Feira de Santana

Meu filho era um menino alegre, brincalhão", diz mãe de adolescente que morreu após "brincadeira de assalto"

O corpo de Matheus foi sepultado no domingo, dia 8 de setembro.

Matheus dos Santos Souza
Foto: Redes Sociais

O adolescente Matheus dos Santos Souza, de 14 anos de idade, morreu na madrugada do último sábado (7), após ser vítima de disparos de arma de fogo no bairro Papagaio, em Feira de Santana, durante uma brincadeira, na qual simulava um assalto.

Conforme o Acorda Cidade divulgou na sexta-feira (6), uma guarnição da Rondesp Leste estava próxima do local, quando presenciou a cena e, efetuou os tiros contra as duas pessoas que estavam a bordo de uma motocicleta.

Ação da PM no bairro Papagaio
Foto: Redes Sociais

O corpo do adolescente foi sepultado no domingo (8), no cemitério Jardim das Flores, em Feira de Santana.

Em entrevista ao Acorda Cidade nesta segunda-feira (9), a mãe do adolescente, Cíntia Silva dos Santos, declarou que ainda não tem conhecimento do que realmente aconteceu no momento da ação policial.

Cíntia Silva dos Santos
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“De fato, eu ainda não tenho noção da real situação, mas o que eu estou sabendo, o que chegou até a mim, foi que ele desceu na contramão, fez a brincadeira com os dois colegas, os policiais vinham pelo outro lado, avistaram a situação e já foram deflagrando os tiros. Foi o que chegou até a mim. Eles não fizeram abordagem, simplesmente eles já foram disparando tiro de fuzil”, contou.

Ao Acorda Cidade, a diarista que reside em um residencial no bairro Alto do Papagaio, contou que o filho sempre foi brincalhão e, segundo ela, foi brincando que perdeu a vida.

“Meu filho era um menino alegre, brincalhão o tempo todo. A vida dele era uma brincadeira. Ele não deixava ninguém triste. Ele dormia e acordava na brincadeira. Não é toa que a fatalidade ocorreu através de quê? De uma brincadeira de mau gosto, mas foi uma brincadeira. Era um menino alegre, extrovertido, conversador, conversava muito, brincava com todo mundo. Era um menino que se você chegasse e falasse assim, ‘Matheus, você pode fazer um favor para mim?’ Prontamente ele estava ali, ele servia para todo mundo. Se ele via alguém chegar com peso, ele ia logo, pedia, ‘quer ajuda tia?’ Pegava a sacola das pessoas, ajudava, levava em casa e voltava. O tempo todo assim, o tempo todo”, disse.

De acordo com Cíntia, o último contato com o filho, foi pelo celular, quando ele informou que já estava se preparando para almoçar.

“Ele tinha arrumado um trabalho na oficina. Ligou pra mim e falou: ‘mãe, tô aqui, daqui a pouco eu vou pra casa almoçar’. Eu falei, ‘ô mãe, guarda o celular, vai trabalhar, aproveita a oportunidade que você tá tendo, deixa de brincadeira’. Ele disse, ‘não mãe, só estou ouvindo uma música e vou para casa almoçar’. Foi o último dia que eu falei com o meu filho”, relembrou.

Cíntia contou que recebeu a notícia através da filha.

“Vieram em casa falar com minha filha, deram a notícia, ela prontamente ligou para mim, ‘minha mãe atiraram em Matheus’, eu ainda falei com ela: ‘oh mãe para de brincadeira pelo amor de Deus’. Ela disse: ‘não mãe, é verdade’. Eu fui ligar para uma vizinha minha, para pedir confirmação, porque foi o marido de uma vizinha que trabalhava também por lá, que veio e avisou minha filha. Eu fui ligar para a esposa do rapaz que avisou, e ele me confirmou. Aí foi que eu tive a confirmação, mas ainda não tinha a informação correta, eu só sabia que tinham atirado nele. Eu saí do trabalho, fui para o hospital, acho que eles viram o erro e prontamente pegaram meu filho e levaram para o hospital”, disse a mãe de Matheus ao Acorda Cidade.

Questionada, Cíntia informou que a Polícia Militar ainda não procurou a família.

“Matheus não tinha convênio nenhum. Eles que pegaram e levaram para o hospital. Minha filha que foi procurando, porque eles não avisaram. As vizinhas que foram procurar o Clériston, foram para a UPA e não estavam lá. O colega que estava na moto com ele, foi que avisou que os policiais tinham levado para o Emec. Até agora não tenho conhecimento de nenhum deles, ninguém me procurou, ninguém me disse nada, só o que está ocorrendo é isso, a reportagem vindo, me procurando, só isso”, afirmou.

Ainda de acordo com a mãe do adolescente, as despesas do sepultamento foram pagas pelos próprios moradores do residencial, que ajudaram a família.

“Quem arcou foi o bairro, o bairro se mobilizou, todo mundo se uniu, pois sabiam que ele era muito querido. Eu quero justiça, meu filho era uma criança de 14 anos, meu filho não era vagabundo, e mesmo que fosse, os policiais são treinados para fazer a averiguação, não é chegar do jeito que chegou, atirando, meu filho não merecia isso, eu quero justiça”, afirmou.

O que o Comando de Policiamento Regional Leste (CPR-L) diz

Em entrevista ao Acorda Cidade, o comandante do CPR-L, coronel PM Antônio Lopes, informou que os policiais envolvidos na ação, foram afastados das atividades externas e passarão por acompanhamento psicológico.

Coronel Antônio Lopes
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Para nós é um momento de tristeza, um jovem, uma criança de 14 anos, infelizmente veio a falecer logo depois daquela triste brincadeira. Nós estamos muito abalados com essa situação, nós estamos sensíveis e sensibilizados não só com a família do garoto Matheus, mas também com os próprios policiais que são seres humanos, que estão sentidos com essa tragédia. Nós tiramos eles da área, eles estão agora em uma escala administrativa e serão encaminhados para um acompanhamento psicológico, porque todos os quatro policiais têm filhos, são pais e têm crianças também, estão sensibilizados com essa situação. Conversei com eles, que nós iríamos tirá-los da área para preservá-los e colocá-los para fazer um acompanhamento psicológico”, afirmou.

Assim que ficou ciente da situação, o coronel determinou que a vítima fosse encaminhada para a unidade hospitalar mais próxima do local do fato.

“Logo que nós tomamos conhecimento do fato, quando o major Denis me ligou, nós demos toda a atenção à família, ao jovem Mateus, mandamos para o melhor hospital daqui, um dos melhores hospitais e o mais próximo para dar o primeiro atendimento. Em coincidência, foi um hospital particular, mas a orientação que fosse logo para o mais próximo e eles assim fizeram, inclusive nessa guarnição, eles possuem treinamento de primeiros socorros, tentou fazer um dos procedimentos, mas sem êxito, eles tomaram a decisão de ir para o hospital mais próximo, que foi o Emec”, explicou.

Pedido de Justiça

Ao Acorda Cidade, o comandante informou que todo processo seguirá com base nas apurações do fato.

“Deu para perceber que a mãe também bastante abalada, porque é filho, isso é normal. Nós que somos pais, a gente pensa logo em nossos filhos, e a Polícia Civil já abriu o inquérito para apurar todos os fatos, depois dessa apuração, vai para a justiça para ter o julgamento, mas nós estamos dando todo apoio à Polícia Civil para fazer uma apuração séria, como eles sempre fizeram. E, paralelo a isso, nós estamos abrindo um procedimento administrativo para verificar a circunstância dos fatos”, concluiu.

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade

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