Feira de Santana

Feira de Santana registra aumento no índice de homicídios no período da quarentena

Desde o início da quarentena 54 assassinatos foram registrados na cidade.

Andrea Trindade

Neste período de quarentena, iniciado no dia 21 de março em Feira de Santana para controle da disseminação da Covid-19, foram registrados 54 assassinatos no município, até ontem (28). O número é maior que no mesmo período do ano passado, quando ocorreram 36 Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs), ou seja, homicídios, feminicídios, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte. 

Partindo da conjectura sobre a forma como os homicídios são praticados em via pública, supõe-se que isolamento social ajudaria a reduzir esses índices, e que o aumento aponta o descumprimento da recomendação de ficar em casa. Por outro lado, é preciso uma análise mais aprofundada para associar ou não esse aumento, neste período, ao contexto da pandemia, principalmente porque esse índice já vinha aumentando desde 2019.

Foto: Aldo Matos/Acorda Cidade

Para o delegado Roberto Leal, coordenador regional de polícia (1ª Coorpin), esse número de CVLIs é preocupante, e a polícia tem realizado ações para reduzir esse índice. Segundo ele, a presença das pessoas nas ruas favorecem os homicídios, porém não vai explicar toda a complexidade que envolve o aumento da criminalidade em Feira.

“Alguns desses homicídios, como a gente diz aqui, é o momento da oportunidade. Um desafeto já o procura e aproveitou aquele momento que foi visto em via pública e acabou cometendo o crime. Eu acredito que sim [que o descumprimento do isolamento social tenha favorecido]. É um dos fatores que acaba contribuindo, mas não vai exclusivamente explicar todo um fenômeno do aumento aqui da criminalidade”, informou em entrevista ao Acorda Cidade.

Liberação do conjunto penal

Questionado sobre o fato de ter detentos do Conjunto Penal de Feira de Santana liberados do presídio por conta da pandemia, possa ser um dos fatores motivadores deste aumento, o delegado indicou que sim.

“Um fato só não vai explicar a motivação de tantos casos em Feira de Santana, mas sim, a gente entende que a liberação pode ter ocasionado esses meios necessários para o cometimento do crime. A gente sabe que essas pessoas são inseridas em alguns grupos de criminosos. Quando elas saem – sabendo que recebem alguma determinação ou têm problemas que ocorreram durante a permanência no presídio ou mesmo rixas anteriores -, vão para a rua e acabam cometendo novamente os crimes. São criminosos, pessoas que estão à margem da lei. A saída é um dos itens que a gente pontua pelo aumento da criminalidade”, destacou.

Combate aos homicídios e tráfico de drogas

Ainda segundo o delegado, o combate aos homicídios envolve ações contra o tráfico de drogas, motivação da maioria dos crimes praticados na cidade.

“Este índice é extremamente preocupante, tão preocupante que a própria Secretaria de Segurança Pública, delegado-geral e diretor do Derpin estão nos auxiliando aqui em todos os meios necessários para que a gente consiga aqui reduzi-lo. Sabemos que o envolvimento com o tráfico de drogas em Feira de Santana é a maior motivação dos homicídios. Temos a verificação dos bairros, temos a identificação dos criminosos, inclusive, a área de atuação desses grupos que atuam com entorpecentes, mas isso só não nos fornece meios para que a gente combata da melhor forma possível. A gente precisa sair desse caminho e ir para o enfrentamento direto, e isso está sendo feito. Precisamos enfrentar diretamente o tráfico de entorpecentes porque é a mola mestre de toda essa criminalidade e a gente precisa fazer isso. O que eu posso dizer é o seguinte: estamos aqui nos empenhando de todas as formas, mas ciente de que a gente precisa fazer o enfrentamento”, afirmou ao Acorda Cidade.

Feira de Santana já tem registrados 144 CVLIs neste ano, 10,12% a mais que no ano passado, no mesmo período.

“Vamos ter que trabalhar diariamente no enfrentamento direto ao tráfico de entorpecente e a essas pessoas que estão matando. Identificar e prender quem está na rua matando, se há vinculação com esses grupos organizados, se há um mando superior…esse trabalho deve ser feito de forma eficaz. A gente precisa fazer o trabalho e sentir o resultado, estamos aqui e se precisar mudar o rumo do barco, vamos mudar no momento certo. Mas o primordial hoje é o combate contra o tráfico. Precisamos fazer isso de forma acintosa, precisamos prender mentores, lideranças do tráfico, apreender entorpecentes, o patrimônio desse pessoal, e identificar as rotas dessa droga”.

A Polícia Civil já cumpriu, neste mês, mais de 11 mandados de prisão de envolvidos com o homicídios. O delegado também destacou o trabalho das polícias Militar, Federal e Rodoviária Federal na apreensão de drogas e prisões de criminosos. 

Bahia

O índice de assassinatos cresceu em todo o estado. Segundo dados do Monitor da Violência divulgados nesta quarta-feira (29), a Bahia é o estado com a maior quantidade de CVLIs nos dois primeiros meses de 2020. Segundo a ferramente houve 7.743 mortes violentas no primeiro bimestre de 2020. No mesmo período do ano passado, foram 7.195.
 

Com informações do repórter Aldo Matos do Acorda Cidade

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