Andrea Trindade
O acusado de matar o corretor de imóveis Gil Marques Porto Neto, no dia 21 de maio deste ano, foi encaminhado para o Conjunto Penal de Feira de Santana na noite da última sexta-feira (1) após prestar depoimento aos delegados que formam a força-tarefa criada para investigar vários homicídios ocorridos em Feira de Santana.
Em entrevista exclusiva, o acusado Gregório Santos Teles chorou e afirmou que não matou o empresário e que foi usado como bode expiatório no caso. Ele não citou nomes, mas ressaltou que o crime foi de mando e que o mandante é “gente grande” na cidade. Além disso, o acusado disse que não sabia que os documentos que tinha eram forjados.
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“Eu estou nesta situação devido a um terreno que eu comprei no bairro Sim e porque conversei com Gil Porto em voz alta. Não sei se alguém soube disso e entendeu com maldade, por não gostar de mim, e praticou o crime contra esse pai de família, que deixou dois filhos. Eu quero dizer à família dele que estou sendo preso, mas Deus sabe que não foi eu quem praticou isso. Acabaram com a minha vida, me botaram na cadeia”, declarou chorando.
Gregório disse que já estava prevendo a acusação e que inclusive comentou isso com um repórter. “Eu estive no centro de abastecimento e disse a um repórter que eu iria ser preso, porque fizeram um mal a um empresário e isso iria cair para mim, e aconteceu. Os delegados Ricardo Brito, João Uzzum e Dorean praticamente foram como pais para mim porque me tiraram da boca do leão. Essas pessoas que fizeram isso com Gil iriam me matar e praticamente me mataram porque estou nesta situação”.
O acusado também afirma que não cometeu crimes durante a greve da Polícia Militar, e que no período estava na cidade de Ipecaetá com um colega.
Dia do crime
No dia 21 de maio, quando Gil Porto foi morto, Gregório disse que estava indo para casa. Ele afirmou que estava passando pela Avenida Presidente Dutra, por volta das 17h50, próximo à Praça da Matriz, e que a polícia pode comprovar isto verificando as filmagens nas câmeras de segurança que existem no local e na rua onde ele mora.
“Eu não saio à noite porque já sofri três atentados. Além disso, a polícia encontrou uma pistola em cima do meu guarda-roupa. É uma prova de que eu não andava armado”, declarou. Gregório disse que ele e as outras três pessoas que foram presas estão sendo acusadas injustamente e que há pessoas que querem destruí-lo. “Em um movimento, que participei no bairro Mangabeira, adquiri pela Conder 120 casas para as pessoas pobres e ultimamente eu estava distribuindo cestas. São tantas razões para as pessoas quererem me prejudicar. Comprei um carro e uma moto, e as pessoas com olho grosso tentaram me destruir. Estão condenando quatro pais de família, que nunca praticaram crimes”.
A escritura
“Eu comprei esse terreno no SIM com uma pessoa chamada Joselito. Eu não sabia que a escritura era forjada, porque tinha até IPTU pago e achei que não estava errado. Comprei na época com a transação de uma moto e um valor em dinheiro, em torno de 30 ou 40 mil reais. Não cheguei a vender, porque quando Gil teve no terreno e me mostrou a escritura, eu peguei a cópia e mostrei a uma pessoa no SIM e foi aí que vi que tinha alguma coisa errada. A escritura tinha o nome do bairro Lagoa Salgada e essa pessoa me explicou que antigamente ali era Lagoa Salgada. Eu imediatamente suspendi a construção do muro e falei com Gil que realmente o terreno era dele”.
O último contato que tive com ele foi quando eu estava numa lanchonete perto do Ceaf. Eu estava sentado, ele passou, parou o carro e perguntou se eu já vi se a escritura é verdadeira e eu disse que no terreno dele não havia nada de errado e ele disse: ‘Fique com a escritura e qualquer coisa pode me procurar. Eu disse não tem problema não, pode ficar com seu terreno, ele é seu’.
Gente grande
“[No dia 02 de maio] conversamos em voz alta porque uma pessoa da prefeitura disse que ali era uma área para construção de praça, algo assim, e só depois vi a escritura e que o terreno era dele. Não foram várias escrituras que a polícia encontrou em minha residência, foram duas, além de contratos de casas que vendi. Sempre deixo os comprovantes em minha residência”.
"Esse crime partiu de uma pessoa de influência, uma pessoa acostumada a pegar terreno grande. Viu minha situação e o problema que tive com Gil, se aproveitou e fez isso com Gil, sabendo que não iria cair nada para cima dele e foi o que aconteceu. Será que essa pessoa consegue dormir? Minha família e amigos sabem que eu não fiz isso. Não tinha motivo para matar Gil. Essa pessoa eu até perdoo porque estou preso e não tenho como provar minha inocência, só Deus ou só ele mesmo para vir aqui na delegacia e confessar. Ele me matou praticamente”.
Gregório ressaltou que foi ouvido pelo delegado Ricardo Brito e que ele vai chegar aos autores do crime. “O autor do crime não é pessoa pequena, tem gente grande envolvida e me botaram como bode expiatório. Já tentaram me matar. Se eu tivesse feito alguma coisa eu teria ido embora de Feira, mudaria meu número de celular e não estaria com a escritura em casa”, enfatizou.
Quadrilha
Gregório também afirmou que não faz grilagem de terra (venda ilegal de terrenos que pertencem a outras pessoas com falsificação de documentos de propriedade). “Eu compro uma casa ou terreno e vendo. Se o terreno tiver dono, eu devolvo o dinheiro da pessoa e fico no prejuízo, como já aconteceu. Isso aí não considero como grilagem, se você compra um terreno e vende é grilagem? É crime? Não”.
Quanto às declarações do acusado, os delegados informaram que não passarão novos detalhes para não atrapalhar as investigações. Na última sexta-feira ele apontaram Gregório com mandante e executor do assassinato de Gil Porto.
Informações do repórter Aldo Matos do Acorda Cidade