O ator e diretor Hilton Cobra, criador de uma das primeiras companhias de teatro negro do Brasil, a Cia dos Comuns, bateu um papo com o Acorda Cidade para falar sobre sua vida e trajetória dentro da produção audiovisual brasileira. Atualmente ele está atuando na novela, Fuzuê, da Rede Globo, como o personagem ‘Cata Ouro’. Há mais de 30 anos ele não fazia dramaturgia na televisão.
Feirense orgulhoso da cultura da terra, antes de se apaixonar pela atuação trabalhou nas feiras da avenida Getúlio Vargas, em Feira de Santana, com seu pai e sua avó e foi encarregado do departamento pessoal na construção civil de um dos hotéis mais antigos da cidade, o Palace Hotel.
Após se mudar para Salvador (BA), por volta de 1976, ele fez amigos no curso de administração da Universidade Federal da Bahia (UFBA), enquanto trabalhava como vendedor. A partir desse contato começou a circular por trás das câmeras. Em entrevista, Cobra contou como surgiu a ideia de criar a Cia dos Comuns.
“Eu fiz muitos espetáculos de teatro, mas eu não via pessoas negras no palco, aquilo me acendeu um desejo de montar uma companhia de atores e atrizes no Rio de Janeiro. Por muito tempo eu batalhei muito para entrar na Rede Globo, na década de 80 e 90. Fiz algumas novelas, papéis não centrais, mais importantes evidentemente, porque trabalho é trabalho. Até que criei a Companhia de Teatro Cia dos comuns, em 2001, com ajuda de Márcio Meirelles do Vila Velha, Zebrinha do Bando de Teatro Olodum, Jarbas Bittencourt, Jorge Carvalho, José Viana, e fizemos quatro espetáculos de absoluto sucesso no Rio”, contou o ator ao Acorda Cidade.
O ator conta que era um ‘Rato de Teatro’, que por muito tempo batalhou iluminando os palcos, trabalhando na produção, até que tivesse a oportunidade de subir para se apresentar. Ele fala com muito orgulho que o teatro é o que lhe alimenta no audiovisual.
Com uma carreira há mais de 40 anos, o ator dedicou sua vida à produção teatral negra. Por escolha própria, decidiu sair da televisão para fazer teatro e se tornar um dos atores teatrais mais importantes do cenário nacional. Saindo em grande estilo, ele conta que na época de 2005 encerrou a carreira na televisão ao lado de grandes nomes como Lázaro Ramos e Fernanda Montenegro.
“Eu pedi a Rede Globo que me tirasse do sistema, que eu não queria fazer televisão, eu não gosto daquilo. Eu queria galgar coisas mais importantes que era minha companhia de teatro. Eu não queria mais fazer papéis subalternos, delegado de polícia, de bandido, de jagunço. Eu encerrei na televisão naquela época trabalhando com os Pastores da Noite com essas duas feras”, declarou.
Segundo o diretor, seu papel como ‘Cata Ouro’, surgiu do seu destaque em um monólogo que fez em todo país, chamado ‘Tragam-me a cabeça de Lima Barreto’, que levanta uma discussão atemporal do racismo e da eugenia. Neste espetáculo ele se apresentou mais de 300 vezes, inclusive na Festa Literária Internacional de Paraty, no Rio de Janeiro.
Segundo Hilton, o personagem ‘Cata Ouro’ , que está brilhando na novela das sete, foi inspirado no Profeta Gentileza, que se destacou pregando a empatia entre os viadutos do Gasômetro no Rio de Janeiro.
“Hoje estamos vivendo no planeta uma degradação absurda, então eu estou contribuindo nessa coisa da limpeza do planeta, uma vez que eu cato e reciclo. Um personagem totalmente enigmático”, disse Hilton ao Acorda Cidade.
Ele ainda brincou que se falar o segredo da chave para achar o tesouro, a Globo demite ele amanhã.
Em sua carreira, ele ainda atuou por dois anos como presidente da Fundação Palmares, durante o governo Dilma. Em janeiro deste ano, ele contou que esteve em Feira e percebeu que, do ponto de vista dele, há uma desvalorização da cultura e da arte na região.
“Você não tem mais a cultura sertaneja, aquele museu a pleno vapor, tem poucos teatros, parece que não tem mais cinema. Aquele mercado do centro é para ser restaurado, para ser degustado pela cidade de Feira de Santana. Tenho orgulho de ser feirense, então vamos recuperar essa cultura feirense, nordestina e sertaneja”, pontuou.
Segundo Cobra, no futuro é um desejo seu fazer um monólogo sobre o personagem feirense Lucas da Feira, que viveu em Feira de Santana, no período escravista.
O ator participou do Festival Literário de Feira de Santana (Flifs) na mesa de lançamento do livro ‘Luiza Bairros: pensamento e compromisso político’ ao lado de outras personalidades (veja aqui).
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