Laiane Cruz
"Ah, é uma revisão com um neurocirurgião. Paciente com cirurgia na cabeça, cheia de comorbidade, provavelmente acamada ou dependente de outras pessoas. Paciente que faz uso de fralda geriátrica. Com certeza tomou café muito cedo pra conseguir chegar a tempo devido o deslocamento, podendo estar até mijada. Mas não. Fazem essa paciente aguardar 4 horas de relógio, para um atendimento que durou 10 minutos”, escreveu o estudante universitário Caio Luz, após a mãe Zenaide Luz enfrentar longas e cansativas horas à espera de uma revisão no Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA), em Feira de Santana.
O desabafo de Caio foi publicado na tarde da última segunda-feira (28), em sua conta no Instagram @sercaio.luz, onde relata sobre a sua trajetória como filho único e cuidador de sua mãe, que em 2020 sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) Hemorrágico, depois disso foi submetida a uma craniectomia descompressiva e somente após 1 ano e oito meses conseguiu realizar o procedimento para recolocação da calota craniana.
“Eu sinto muito pela demora no atendimento no ambulatório do Clériston Andrade, que fica responsável pelas consultas dos pacientes da unidade e que precisam voltar para serem avaliados, para perceberem como está o processo de recuperação, que é o caso da minha mãe. Ela foi hospitalizada em janeiro de 2020, graças a um AVC hemorrágico e depois disso foi submetida a uma cirurgia chamada craniectomia descompressiva, para retirada de parte da calota craniana por conta que o AVC lesionou todo o lado esquerdo. Tivemos um atraso absurdo de 1 ano e oito meses para que o osso, que ficou armazenado na região abdominal, fosse recolocado na cabeça. Isso causou muitos transtornos para a gente, porque foram meses investindo em fisioterapia particular diariamente e após 1 ano e oito meses nós só conseguimos recolocar essa calota craniana graças às mídias que nos ajudaram, como o Acorda Cidade”, afirmou em entrevista ao site.
Segundo Caio Luz, é triste perceber que ainda há um grande descaso para atender pacientes com comorbidades graves, como Zenaide Luz, que ainda é uma paciente acamada, depende de outras pessoas para realizar atividades do dia a dia e utiliza fraldas geriátricas.
“Eu escrevi um texto no meu Instagram, que se tornou o diário de um cuidador, um filho único que cuida da mãe sozinho, mãe que é solteira, que teve um AVC aos 47 anos e está com 49 anos agora e que busca se recuperar. Transformei meu Instagram neste diário para dividir com o mundo minhas experiências em casa e ensinar outras pessoas a lidar com pais e pacientes acamados e tudo que a gente precisa aprender neste processo. No texto de hoje começo mostrando uma foto da minha mãe chorando no corredor do ambulatório do hospital, dizendo: ‘Esse é o retrato da dor de esperar quatro horas por um atendimento’. Porque era para ser uma espera minimamente humanizada”, relatou Caio.
Veja o relato completo do texto publicado por Caio em seu Instagram:
ESSE É O RETRATO DA DOR DE ESPERAR 4 HORAS POR UM ATENDIMENTO.
Era pra ser uma espera minimamente humanizada.
Pensando assim:
"Ah, é uma revisão com um neurocirurgião. Paciente com cirurgia na cabeça, cheia de comorbidade, provavelmente a camada ou dependente de outras pessoas. Paciente que faz uso de fralda geriátrica. Com certeza tomou café muito cedo pra conseguir chegar a tempo devido o deslocamento, podendo estar até mijada"
MAS NÃO.
Fazem essa paciente aguardar 4 horas de relógio, para um atendimento que durou 10 minutos.
ISSO MESMO. 10 minutos. Mas, eu, com a educação de um filho único, numa família monoparental feminina, criado por uma mulher extremamente gentil, ainda consegui esticar para mais 10 minutos e tirar algumas dúvidas. Já que os exames que levei nem foram fielmente avaliados.
Sabe o que eu desejo de Natal, sabe o que peço a Deus, a São João, a São Pedro, São José, a São e São?
É que nossos pais, carentes de atendimento público, consigam, um dia, serem MENOS MASSACRADOS, menos humilhados.
Desejo de coração, que meus netos não vejam seus pais padecerem em filas de espera.
Desejo que meus filhos não morram aguardando em filas de regulação.
Desejo que, os funcionários públicos gentis que tentaram nos ajudar hoje, que tentaram nos consolar, nos distrair enquanto esperávamos… DESEJO que eles se multipliquem.
Desejo que Deus sonde o coração de cada um deles e os abençoe.
Sei que no sistema público tem muita gente boa, mas tem os que adoecem pelo próprio sistema. Enquanto quem depende dessa atendimentos adoecem ainda mais, como minha mãe está.
Será que minha mãe, ou a sua mãe, vão estar vivas para serem honradas???
Honradas em chegarem para um atendimento marcado numa unidade pública, depois de muita peleja e várias tentativas, e serem pontualmente e gentilmente atendidas ???
Será ??
Eu escrevo publicamente esse texto, sentado na minha sala, pensando no que vai ser o almoço de mainha, depois de passar por tudo isso com muito choro.
Minha mãe, meu pai, nossos pais merecem o melhor. E se falta na rua, que sobre amor em casa. Porque padecer no final da vida deve ser terrivelmente DOLOROSO.
A direção do Hospital Geral Clériston Andrade enviou a seguinte nota:
Somos um hospital de urgência e emergência, na hora do atendimento ambulatorial, houve uma intercorrência e os neurocirurgiões tiveram que operar um paciente vítima de acidente. “Caio deve saber que o tempo de espera para uma consulta no ambulatório não é este, caso contrário ele mesmo já teria denunciado”.
De acordo com a coordenação do ambulatório, em nenhum momento o acompanhante procurou a equipe para fazer quaisquer tipo de queixa ou reclamação.
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