Feira de Santana

Motorista de aplicativo que ficou preso por 9 meses relata emoção após ser absolvido pelo TJ-BA: "Um dos dias mais felizes da minha vida"

Emocionado, Jefferson Santana relatou como recebeu a notícia de que estava absolvido e a tão esperada liberdade.

Jefferson Bento Santana
Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade

Após a notícia de que foi absolvido pelo Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJ-BA) na terça-feira (30), o motorista Jefferson Bento Santana, que foi acusado de praticar assaltos com outros dois homens em Feira de Santana (veja mais aqui), conversou com a reportagem do Acorda Cidade e destacou, em um bate-papo emocionante, a experiência dos últimos meses até receber a notícia da absolvição, após comprovada a sua inocência.

O motorista contou detalhes sobre o dia do assalto e que quase perdeu a vida diante de um confronto entre os criminosos e a Polícia Militar. Ele também relembrou que ficou preso por 9 meses no Conjunto Penal de Feira de Santana.

“No dia 23 de setembro de 2021 eu estava trabalhando em um hospital como auxiliar de refrigeração. Nas horas vagas eu rodava aplicativo quando eu saía, por volta das 17h. Iniciei o aplicativo, fiz algumas corridas e chegou uma corrida da UPA da Queimadinha pra UPA da Mangabeira. Nesse percurso foram dois meliantes. Até então eu não sabia de nada. Eles eram dois passageiros e no meio do trajeto, eles anunciaram o assalto. Pensei que iam roubar o carro, meus pertences pessoais, essas coisas. Não. Eles colocaram um revólver na minha cabeça e me forçaram a dirigir, enquanto faziam vários assaltos em Feira de Santana. Depois dos assaltos, encontraram com a guarnição da Polícia Militar e houve a perseguição, eles forçaram que eu dirigisse e a Polícia Militar pedindo para eu parar, fiquei entre a cruz e a espada sem saber o que fazer, mas até que chegou um ponto que eu não aguentei mais com o carro em movimento e me joguei do carro. Foram muitos tiros. Faltou pouco para eu morrer. Foi tiro de um lado e tiro de outro e eu não sabia o que fazer, a todo tempo eu falava que era uma corrida. Eles já foram já algemando sem querer saber de nada, pensando que eu fazia parte dos assaltos, e eu expliquei que eu não era assaltante, que eu era um motorista do aplicativo, eu estava com o crachá da empresa ainda e farda. E mesmo assim me levaram para a delegacia”, contou.

Emocionado, Jefferson Santana relatou como recebeu a notícia de que foi absolvido pelo Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) e frisou que hoje ficará marcado para sempre, como um dos dias mais felizes de sua vida.

“Eu recebi com muita felicidade a notícia do TJ. Na hora que o Dr. Marcos falou comigo, não caiu a ficha. Até agora eu estou assimilando tudo o que aconteceu. Mas eu estou muito feliz, independente de qualquer coisa. No momento da notícia eu estava trabalhando, até então eu não tive dificuldade para arrumar trabalho. Mas é muita emoção, muita emoção mesmo porque hoje para mim é um dos dias mais felizes da minha vida. Eu posso dizer que hoje eu me livrei de um peso que não era meu”.

Questionado sobre a experiência em ter ficado 9 meses preso e um ano e 3 meses respondendo em liberdade, o motorista ainda contou que passou por transtornos psicológicos, além do medo de retornar à penitenciária.

“É horrível, eu não tenho nem palavras para descrever o quão ruim que é ali dentro. Sofri o baque psicológico, até hoje eu sinto, mas graças a Deus, agora eu vou conseguir dormir melhor. Mas sempre vêm à noite os pensamentos ruins. Porque eu passei 9 meses em um lugar que não me cabe, ali é um lugar que não é para mim. Eu não tinha um sono para dormir. Eu procurava, virava para um lado, para outro e sem conseguir dormir. Passei por um psicólogo, estou passando ainda, mas agora com a notícia que o Dr. Marcos me deu, vai ser bem melhor. Veio uma condenação de 8 anos e 6 meses, então sempre vinha aquela dúvida, será que amanhã eu vou estar em casa? Será que amanhã eu vou dormir em casa? Como vai ser que eu vou passar esse dia? Sempre vinham as preocupações. Sempre, quando a gente orava, eu e minha esposa, a gente sempre pedia a Deus para que não deixasse que voltasse a acontecer todo pesadelo novamente”, frisou.

Há quase três anos do ocorrido, o dia 30 de janeiro ficará marcado na memória. Jefferson Santana também agradeceu o carinho da população de Feira de Santana que o acolheu desde o primeiro momento.

“Foram nove meses preso e quando saí, passou algum tempo, veio a notícia ruim, que foi a da condenação e eu sempre procurando, buscando notícias boas e nunca obtinha notícias boas. E agora, depois de quase três anos, veio a notícia que eu sempre estive esperando. Não há dinheiro que pague no mundo, não há coisa melhor do que a liberdade. A população feirense, Graças à Deus, me abraçou de uma forma que eu não imaginava. O amor da população foi surreal”.

O próximo passo, segundo ele, é recomeçar. Sobre a possibilidade de voltar a atividade de motorista por aplicativo, Jefferson descartou a opção.

“Até então, vou continuar no meu trabalho como motorista. Mas, motorista de aplicativo, para mim, isso eu não quero nunca mais”.

Apoio da família

Jefferson Bento Santana e família
Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade

Assim como o motorista, os sentimentos de felicidade e alívio também tomaram conta da família de Jefferson, em especial, a mãe, Antônia dos Santos Bento e a esposa, Raquel Bartira. O Acorda Cidade também conversou com elas.

À princípio, Antônia agradeceu o carinho de toda comunidade que apoiou a sua família em um momento de fragilidade.

“Foi muito importante, eu fiquei muito feliz, a gente esperando esse tempo todo por essa resposta. Estamos aqui também para agradecer a todo mundo que nos apoiou, como ele mesmo falou, a população feirense, orou muito por ele, eu passo, o povo fala comigo, que estava orando por Jefferson. E é importante, foi bom demais, eu fico sem palavras para agradecer a todos que oraram, que nos ajudaram. Só alegria!”.

Raquel Bartira relatou alguns em que viveu junto com o filho do casal, de apenas 4 quatro anos, enquanto o pai estava preso. Para ela, agora, Jefferson pode ‘reconstruir a vida’.

“Foi muito sofrimento, muita luta que a gente passou. Foi terrível, porque a gente nunca imaginava passar por uma situação dessa, foram meses terríveis. Na verdade, tivemos muitos prejuízos, alguns até irreparáveis. Foi o psicológico dele, o do filho dele, psicológico de todo mundo, o nosso, da mãe. Nosso filho procurava pelo pai, ficava doente, e a gente nem sabia nem o que falar para ele, porque ele não entendia direito, e aí era muito difícil. Nós ficamos muito felizes. Na verdade, a gente esperava, porque a gente sabia que Jefferson era inocente, a gente esperava por isso há muito tempo. Mas agora é uma sensação de alívio. A gente pode respirar aliviado e, finalmente, Jefferson pode seguir a vida dele de cabeça erguida. Pode reconstruir a vida”, finalizou.

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Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade

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