Educação Antirracista

Encontro discute aplicação do Ensino da Cultura e da História Afro-brasileira nas escolas 

A Lei 10639/03 estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira".

ll Encontro de Educação Antirracista e Intolerâncias Correlatas ft Ney Silva Acorda Cidade3
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

O ll Encontro de Educação Antirracista e Intolerâncias Correlatas discutiu nesta terça-feira (24), no Sesc Cultural, em Feira de Santana, os 20 anos da Lei 10.639/03, que inclui a obrigatoriedade do ensino de história e da cultura afro-brasileira nas escolas brasileiras. O evento foi promovido pela Secretaria de Educação do município.

Participaram do encontro, estudantes, professores, gestores, representantes de secretarias e de movimentos negros. Escolas municipais também contribuíram com apresentações culturais. 

A coordenadora do Núcleo de Inclusão e Diversidade da Secretaria de Educação do Estado, Railda Neves e uma das organizadoras do encontro explicou que o objetivo foi desenvolver reflexões, partilhar conhecimentos e reverter o silêncio que gira em torno da lei há 20 anos. 

ll Encontro de Educação Antirracista e Intolerâncias Correlatas ft Ney Silva Acorda Cidade3
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

“É uma lei que altera a LDB 9394 de 96 e que faz com que essas discussões entrem no currículo, então o objetivo desse encontro foi discutir essas questões todas. É celebrar também essa inserção dessa cultura negada no currículo”, colocou. 

Segundo a professora, é preciso considerar quase 400 anos de escravidão para 20 anos de uma lei, que não está efetivada de forma plena. Apesar disso, ela aponta ações importantes que já estão sendo realizadas rumo a uma educação antirracista.  

ll Encontro de Educação Antirracista e Intolerâncias Correlatas ft Ney Silva Acorda Cidade3
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

“As escolas têm discutido, têm realizado trabalhos, inclusive algumas trouxeram trabalhos para apresentar aqui hoje neste evento, como prova de que tem sido feita uma observação e uma inserção dessa cultura dentro do currículo escolar, a Secretaria de Educação tem estado atenta a tudo isso. Nós somos uma parte importante porque somos a educação e, como dizia Paulo Freire, a educação não muda o mundo, mas ela muda o homem que vai mudar o mundo. Então, através da educação, nós temos dado a nossa contribuição para que essa questão do racismo, da discriminação, dos preconceitos e todas as intolerâncias correlatas sejam extirpadas da sociedade. Mas é um processo eventual e que combina com a ação de outros sujeitos dentro da sociedade civil organizada, movimento negro e etc”, afirmou.

ll Encontro de Educação Antirracista e Intolerâncias Correlatas ft Ney Silva Acorda Cidade3
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

A secretária de Educação, Anaci Paim, falou que somente a imposição legal não é suficiente, para que a lei gere benefícios é preciso haver a prática efetiva que a torne uma realidade. Para isso, todos os setores do ambiente escolar devem colaborar com as ações antirracistas desde os dois anos.  

ll Encontro de Educação Antirracista e Intolerâncias Correlatas ft Ney Silva Acorda Cidade3
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

“Nós queremos trazer à baila a discussão sobre a temática e o entendimento de que é no ambiente escolar que nós vamos conseguir a sustentabilidade para algumas ações, mudança de cultura, e respeito à diversidade. É importante destacar que a prática não é da direção, a prática é da comunidade escolar como um todo, dos professores, daqueles que atuam na área de apoio administrativo, de serviços gerais. A escola tem que ter essa cultura. E aí nós vamos chegar a um tempo à frente, do tempo atual, em que não precisará de lei para garantir que alguns valores e a defesa de alguns direitos seja efetivamente garantida”, explicou. 

A palestra da manhã de hoje foi ministrada pela Mestra Aurelieuza Nascimento Santos, que é professora de geografia e Coordenadora Geral de Cultura no Município de Amélia Rodrigues. Ao Acorda Cidade, ela fez uma avaliação sobre a aplicação da lei e explicou que esse processo de construção exige a mudança de currículos, livros didáticos, na prática pedagógica dos professores e dos profissionais de educação. 

ll Encontro de Educação Antirracista e Intolerâncias Correlatas ft Ney Silva Acorda Cidade3
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

“Cabe a nós enquanto profissionais da área de educação, as pessoas que também estão em outros setores porque é uma luta coletiva, educar a sociedade para educação antirracista requer o conhecimento da lei, entendendo que a história do povo negro, a colaboração, a contribuição, a educação pensada por eles é bastante significativa porque a gente fala de um país que é negro, de um país que lutou em prol da liberdade, dos direitos, da equidade, além da lei a gente tem o estatuto da igualdade racial, que exige desse país que se faça urgente pensar uma educação com equidade com a inserção de todos, um olhar plural e principalmente uma educação sem racismo, uma infância sem racismo, o livro didático que traga todas as histórias porque a educação, quanto mais a gente traz as nossas histórias plurais a gente entende que ninguém pode ficar de fora”, enfatizou.

Lúcia Santana é coordenadora do Núcleo Odungê e também esteve presente no encontro. Ela comentou sobre a importância dessas discussões para a execução de fato da lei não somente nos espaços acadêmicos e políticos, mas no dia a dia. 

ll Encontro de Educação Antirracista e Intolerâncias Correlatas ft Ney Silva Acorda Cidade3
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

“Temos que tirar do papel a lei e colocar na prática realmente, com todos os elos, com todas as estruturas que têm de ser feitas. Temos de fazer um seminário também nas comunidades, nos bairros, com uma direção, com todos os profissionais do equipamento da escola. Porque nós ainda sofremos com colégios, com as diretoras profissionais sano-evangélicas e eles acham que não deve-se falar isso”, pontuou. 

A coordenadora ainda apontou a intolerância religiosa como uma das barreiras para as crianças que fazem parte do candomblé se adaptarem nas escolas. 

“A partir do momento em que ele está fazendo suas obrigações, ele tem de estar de branco, chapéu branco, todo paramentado de roupa branca. E as escolas não deixam, eu já vi gente sair chorando porque não deixaram entrar. Porque normalmente as diretoras são pessoas evangélicas, são evangélicas radicais, são pessoas que não têm um embasamento para entender que a criança pode assistir sua aula com sua indumentária africana. O conteúdo educacional vai entrar na cabeça, não no seu corpo”, acrescentou. 

Lúcia trouxe um relato que é muito comum para pessoas que simplesmente tentam proferir sua região de matriz africana e encontram no caminho uma intolerância que fere o estado de direito de todo cidadão. 

“Tem lugares que as pessoas olham, se você estiver com a roupa afro, com uma cara de desconfiança, mas eu digo sempre, em todas as religiões tem o bem e tem o mal, a forma de pedir, a forma de ver é que é diferente de pessoa para pessoa. Eu já fui impedida de entrar numa escola um tempo atrás porque eu estava de roupa afro, porque, segundo eles, ‘eu estava com demônio’, ainda vieram com um bocado de bíblia, me entregaram, foi uma confusão danada, eu tive que ir em casa, trocar de roupa e voltar”, revelou. 

ll Encontro de Educação Antirracista e Intolerâncias Correlatas ft Ney Silva Acorda Cidade3
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

O evento também contou com palestras dos professores Deuza Maria da Silva e Edmundo Carvalho.

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade

Siga o Acorda Cidade no Google Notícias e receba os principais destaques do dia. Participe também dos nossos grupos no WhatsApp e Telegram

Inscrever-se
Notificar de
0 Comentários
mais recentes
mais antigos Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários