“Não aos 39 graus”

Em frente ao HEC, manifestantes buscam justiça após morte de Brayan

“Não aos 39º”, foi um grupo formado por aqueles, mães e pais, que também já tiveram o atendimento negado na unidade. 

manifestação por justiça por Brayan
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Na manhã deste sábado, pais, mães, parentes, amigos e pessoas solidárias se reuniram em frente ao Hospital Estadual da Criança (HEC) em Feira de Santana, para cobrar justiça pela morte do pequeno Brayan, a criança de um ano e três meses que faleceu na unidade, após ter atendimento recusado na primeira tentativa. Seus pais, Natália dos Santos Bastos e Luciano Gois Barreto, alegam negligência do hospital, que exigiram confirmação de febre a partir dos 39º para realizar o socorro. 

manifestação por justiça por Brayan
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Os pais de Brayan Bastos Barreto foram direcionados para Unidade de Pronto Atendimento (UPA) estadual e, após ter o caso agravado, a família foi orientada a retornar ao HEC. Nesse momento, já não havia mais o que fazer, ele passou mal e não resistiu, vindo a óbito nos braços de sua mãe. O menino faleceu no dia 26 de janeiro. Reveja aqui.

manifestação por justiça por Brayan
Luciano Gois Barreto | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Bastante consternado, o pai do garotinho falou sobre o sentimento de dor e da luta do casal para formar uma família. Desde 2010 que ele conhece sua esposa e os dois lutaram para trazer Brayan ao mundo. 

“Através do trabalho dela, ela pôde ter o plano de saúde, e o plano conseguiu cobrir a cirurgia da endometriose. Após a cirurgia, ela mandou a notícia para mim, que ela fez o teste e que estava grávida. Foi uma grande felicidade, tanto para a gente, tanto pelo pai dela, que teve três meninas, não tinha um filho, e havia o primeiro neto. A gente sonhou por Brayan”.

Luciano revelou que, desde o domingo, sua esposa está em casa sob o efeito de remédios, por isso, ela não conseguiu comparecer à manifestação. Nas redes sociais, Natália agradeceu a grande rede de apoio que surgiu e o apoio de tantas mães que passaram e passa pela mesma situação. 

“Estou aqui para representar o meu filho, pela minha família, Natália e a família Barreto, e todos os amigos que estão nessa luta por Brayan. Lucas Michele (o advogado), ele é uma ótima pessoa, está nos dando apoio, mas a gente quer saber também pela omissão de socorro, negligência, o porquê eles não atendem as criancinhas a partir dos 39º, que têm relatos. A gente quer uma mudança, a gente quer justiça e a gente vai lutar. Enquanto a gente tiver vida, eu vou estar lutando, eu e minha família, por Brayan”, declarou Luciano. 

manifestação por justiça por Brayan
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Além da família e amigos, muitas outras pessoas demonstraram sentimento de revolta e dor pela perda precoce do garotinho. Muitos relatos semelhantes surgiram para dar força a família e com um objetivo de mudança. “Não aos 39º”, foi um grupo formado por mães e pais que também já tiveram o atendimento negado na unidade. 

A luta dos manifestantes na manhã deste sábado foi por justiça, mas também por mudanças para evitar que situações semelhantes ocorram no futuro.

Acompanhe os relatos:

manifestação por justiça por Brayan
Raquel da Conceição Deiró | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

A manicure Raquel da Conceição Deiró esteve na manifestação porque ela também vem enfrentando o mesmo problema. Seu filho, David Gabriel de 11 anos, sofre com epilepsia focal de difícil controle e faz o uso de diversos medicamentos. Ao buscar o HEC com dores e sintomas em decorrência de sua enfermidade, ele também não é atendido caso esteja com febre abaixo de 39°. 

“Já recusaram várias vezes e recusam se não estiver com febre de 39°, ou se ele não convulsionar, eles não atendem. Eu vou para a UPA e agora eu tive que me apertar e estou pagando o plano de saúde. Porque quando chega, eles não atendem. A gente chega na UPA, do lado do Clériston, e é aquela demora no atendimento. E eu, como mãe, não consigo ver meu filho nessa situação”, declarou. 

Ela também pede mudança no critério de 39º para realizar o atendimento. 

“Se de primeiro tivesse acolhido o menino, não tinha chegado a óbito, pedimos para ter a mudança nesse critério de só querer atender uma criança com 39° de febre, ou se chegar já a ponto da morte. Isso é um absurdo, tem que mudar, eles têm que rever essa situação”.

manifestação por justiça por Brayan
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Outra mãe, que prefere não se identificar, falou ao Acorda Cidade sobre a perda de um filho, que também ocorreu no HEC. Segundo ela, a morte de seu filho foi diagnosticada por uma bactéria que ele pegou no hospital. Mas, durante o atendimento na unidade, a equipe médica alegou pneumonia grave e entubou o menino, sendo que, mesmo quando ele teve os piores momentos de saúde, não havia ocorrido. 

Rosângela de Souza de Jesus também passou pela mesma situação. Seu filho, Miguel de três anos, apresentou dores na boca e febre. Já temerosa de ir ao HEC, por ficar sabendo do critério para atendimento, foi na UPA da Mangabeira, mas a unidade não havia pediatra, o que lhe obrigou a ir até o hospital. Veja o relato. 

manifestação por justiça por Brayan
Rosângela de Souza de Jesus | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Tem um clínico geral, que eles mal olham a criança, nem sequer pegam na criança. Eu voltei para casa com ele da mesma forma. Quando foi no outro dia, eu vendo meu filho com aquela angústia, sentindo dor e a febre não passava de forma alguma, eu entrei em contato com a pediatra que acompanha ele e falei que ele estava dessa forma e que ele apareceu um inchaço bem grande do ladinho da orelha, no ossinho atrás da orelha. Mandei fotos e vídeos para o pediatra que acompanha ele. Foi quando ela me disse que não estava vendo ele pessoalmente, mas tinha quase certeza que se tratava de uma mastoidite, que era uma infecção grave atrás do ossinho do ouvido, uma infecção bacteriana grave. Ela disse que se fosse realmente isso, ele tinha que ser internado, porque o tratamento, pelo menos nos 10 primeiros dias, tinha que ser com antibiótico na veia”.

O sofrimento do filho de Rosângela não parou por aí. Ao chegar no HEC, ele passou pela triagem e também foi barrado pelo critério dos 39º. 

“Meu filho estava com 38,4° de febre. Ela me disse que não podia atender o meu filho, mesmo falando para ela que a pediatra disse que era uma coisa muito grave, que era uma bactéria que podia ir para a cabeça, podia causar uma meningite bacteriana. Mesmo assim, a moça da triagem falou que não podia me receber”, relatou.

Segundo o relato da mãe, felizmente, naquele dia, Miguel só foi atendido porque a pediatra dele era conhecida. Quando Rosângela informou o nome dela, a equipe atendeu prontamente o garoto.

“Meu filho foi atendido só por causa disso, mas se não fosse isso, ele também não seria atendido. Muitas vezes a criança não atinge os 39º de febre, mas ela pode estar com um problema muito grave, e febre é febre. A gente tem o nosso filho em casa, ele já está com febre, a gente já tem aquele medo. A gente traz porque precisa do socorro, e quando chega aqui é negado, é inadmissível. Isso precisa mudar”, declarou. 

Crianças também participaram da manifestação em apoio à família.

manifestação por justiça por Brayan
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Como já relatado, muitas UPAs da cidade não têm pediatras de plantão 24h, na maioria das vezes há um médico clínico geral. Por isso, a procura pelo hospital especializado é importante no diagnóstico da criança. Além disso, por muitas vezes, as unidades estão superlotadas, como é denunciado constantemente no Acorda Cidade.

manifestação por justiça por Brayan
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

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Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade

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