Justiça

Dia do Oficial de Justiça: conheça os principais desafios da profissão responsável por notificações judiciais e garantir o cumprimento de decisões

Em alusão à data que celebra o Oficial de Justiça, o Acorda Cidade conversou com Francisco Falcão para destacar as principais atividades do profissional judiciário.

Fórum
Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade

Nesta segunda-feira (25), é comemorado o Dia do Oficial de Justiça. Profissional essencial comunicação processual, materializando as decisões judiciais, os oficiais de Justiça são responsáveis pelo cumprimento de diligências determinadas pelos juízes em processos que tramitam no Tribunal de Justiça.

Além de entregar intimações, os oficiais de Justiça também carregam diversos desafios na carreira profissional e vivenciam experiências diversas. Em alusão à data que celebra o oficial de Justiça, o Acorda Cidade conversou com Francisco Falcão. Atuando na área há 14 anos, o oficial de Justiça salientou as principais responsabilidades que fazem parte da carreira deste profissional judiciário.

Oficial de Justiça
Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade

“O Oficial de Justiça desempenha um papel crucial no sistema judiciário, porque ele é o responsável por realizar citações, intimações, notificações, penhoras e demais diligências que são determinadas pelo juiz. Então, costuma-se dizer que o Oficial de Justiça é o braço e os olhos dos juízes nas ruas. Isso é muito importante porque o oficial, além de levar essas notificações judiciais, ele também age como um fiscal para que as diligências sejam executadas na forma da lei. Então, temos conhecimento técnico e específicos da área porque também somos analistas. Se você vai fazer uma busca e apreensão de um veículo, por exemplo, tem que saber se os requisitos estão sendo atendidos. Se vai fazer um arrombamento, tem que saber quais são os requisitos para realizar o arrombamento que estão previstos no código do processo e por aí vai”, disse.

Em Feira de Santana, os Oficiais de Justiça são divididos em grupos, que estão responsáveis por determinadas áreas do município que realizam a entrega dos mandados.

“O juiz dá a decisão, após isso a decisão vai para o cartório para confeccionar o mandado. Depois da confecção, ele será encaminhado para a central de mandados, onde eles serão distribuídos através de sorteio para os oficiais da nossa cidade. A nossa cidade tem uma central de mandados. O município está dividido em zonas ou em grupos e os oficiais de Justiça ficam lotados em grupos, no meu caso, fico na área da Mangabeira, Conceição, Santo Antônio dos Prazeres, Parque Ipê, Papagaio. Todos os mandados que estão nessas áreas são distribuídos entre mim e meus colegas”, disse Francisco ao Acorda Cidade.

Ele explica que a função é dividida em duas partes. “Como somos analistas judiciários, a primeira parte que é abrir o processo, imprimir o mandado, analisar o documento, então vai depender do domínio da pessoa com a informática, com o equipamento, do domínio do direito com aquele mandado e tem a parte prática que é quando você vai para as ruas, e também leva um tempo para você aprender determinadas nuances do trabalho de não ir em um local perigoso em determinado horário, de saber como condução as diligências, então acredito que de dois a três anos o oficial de Justiça está plenamente apto a exercer suas funções e já bastante experiente”, explicou.

Desafios da profissão

Como qualquer outra profissão, o oficial de Justiça também carrega desafios na execução do trabalho. Além da grande quantidade de processos para um número reduzido de profissionais, lidar diariamente com a emoção das pessoas ao receber intimações faz com que os oficiais sejam alvos de insultos e resistências.

“Primeiro, que há um olhar hoje do nosso tribunal voltado para o primeiro grau voltado para o interior do nosso estado. Por que? Porque há um gargalo na Justiça de primeiro grau. Se vêm 100 processos para Feira de Santana, desses 100, só vai para o tribunal 50 ou 60, então o grande volume está no primeiro grau. Mas, ainda assim, há um déficit de funcionários hoje. A primeira dificuldade é a quantidade de mandados que é grande e nós precisamos cumprir porque os processos precisam andar e o outro desafio é que estamos lidando com situações de conflito e resistência das partes envolvidas, às vezes a gente vai entregar uma prisão por alimentos onde você precisa ir acompanhado pela Polícia Militar que sempre presta um apoio de forma próxima ajudando os oficiais no cumprimento das suas obrigações, a gente faz busca e apreensões de veículos, desapropriação onde tiramos as pessoas que estão em uma casa, e então as pessoas ficam nervosas, são situações tensas que a gente precisa saber na hora contornar para poder agir de forma com que não piore aquele conflito”, contou Francisco Falcão ao Acorda Cidade.

Nestes desafios, estão também situações inusitadas vivenciadas pelos profissionais na entrega de documentos e procurações. E não foi diferente para o oficial Francisco Falcão.

Nos 18 anos atuando na área, ele relembrou ainda ao Acorda Cidade uma situação jamais esquecida, ao se deparar com um casamento no local onde entregaria um mandado em um distrito de Feira de Santana.

“Praticamente todos os dias a gente se depara com uma situação curiosa. Mas, teve uma vez que foi uma situação inusitada onde eu deixei para fazer um mandado no distrito de Jaíba e quando nós vamos aos distritos eu prefiro fazer aos finais de semana porque às vezes o pessoal está trabalhando e você acaba dando uma viagem perdida e no sábado e domingo você sempre encontra as pessoas em casa. Num sábado, eu me dirigi ao distrito e o local onde eu ia fazer uma intimação estava acontecendo um casamento. Eu comecei a perguntar o destinatário do mandado e era o noivo, uma ação de alimentos e quando é uma ação de alimentos a gente não pode falar do que se trata e começou a criar um alvoroço na festa em que o oficial de Justiça estava procurando o noivo e ninguém sabia se era para prender, se era execução de banco, se era para intimar. Foi uma agonia, tentei chamar ele porque estava em segredo de justiça e a noiva veio correndo querendo saber o que era, eu disse que era só com ele, peguei o telefone e ainda acabei participando da festa de casamento”, contou.

Rotina

A rotina de um profissional judiciário requer disponibilidade, principalmente aos finais de semana. Conforme o oficial de Justiça Francisco Falcão contou ao Acorda Cidade, os horários são inusitados. Ele aproveitou para frisar também um pouco da sua rotina diária.

“Além da rotina, a atuação do oficial de Justiça, quem estiver disposto a se tornar oficial de Justiça, tem que entender algumas coisas. Os horários são muito inusitados. Então, você tem que estar pronto para trabalhar no final de semana, antes das 7h, às vezes 6h, nós temos que estar cumprindo alguma diligência. Mas, além dessa rotina toda, eu também mantenho uma rotina de estudos e atualização profissional, porque o direito é muito dinâmico. Todos os dias temos uma nova lei, temos a modificação das leis, porque as relações sociais são dinâmicas, não tem como o direito ser fossilizado, ele não pode ser engessado, ele precisa realmente mudar. E os profissionais que atuam nessa área precisam se atualizar. E também dedico meu tempo livre às atividades de lazer, no convívio familiar, que também são essenciais para o equilíbrio e o bem-estar pessoal”.

Como se tornar um Oficial de Justiça

Com importante atuação na área judiciária, a profissão de oficial de Justiça requer a aprovação em um concurso público, sendo necessário possuir formação em Direito. Além destes requisitos, Francisco Falcão também reforçou quais detalhes precisam ser observados ao tentar fazer um concurso.
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“Para ingressar na carreira de oficial de Justiça, a primeira coisa que você precisa é ser aprovado em um concurso público. O concurso pode ser realizado pelos tribunais dos estados. No meu caso, eu sou funcionário do Tribunal de Justiça como também podem ser feitos pela Justiça Eleitoral, Justiça do Trabalho e pela Justiça Federal. Cada um desses tribunais possui os seus oficiais de carreira. Os requisitos básicos geralmente incluem ter nacionalidade brasileira, ou seja, ser um brasileiro nato ou naturalizado, ter que estar em dias com as obrigações eleitorais e militares se for do sexo masculino e possuir idade mínima de 18 anos, além de cumprir os requisitos de escolaridade e formação especificado no edital do concurso”.

Para se tornar um oficial de Justiça, além do processo de seleção, é necessário realizar uma preparação, que, segundo Francisco, dura em média três anos.

“Após a aprovação, o candidato ainda vai passar por um período de estágio probatório que leva três anos e, uma vez concluído com sucesso esse estágio, ele se torna um oficial de Justiça. Atualmente, o Tribunal de Justiça da Bahia exige que o oficial seja formado em Direito, ele precisa ser bacharel em Direito. Não é necessário ter a carteirinha da OAB, ele não precisa ser advogado, precisa ser bacharel porque para exercer uma função como essa, é necessário ter conhecimentos técnicos específicos da área porque também somos analistas judiciários, vamos precisar abrir os processos, analisar o mandado, observar a legalidade daquele mandado para posteriormente cumpri-lo com as normas legais”, relatou.

Ainda conforme o profissional, para ter um resultado positivo em um concurso público, muitos candidatos investem em cursos preparatórios. Esta, também, é uma boa dica para direcionar o estudante à realização do concurso.

“Não é necessário fazer um curso específico para a área de oficial de Justiça, mas você precisa se submeter a um concurso público. Algumas pessoas conseguem estudar sozinhas em casa, pegar o edital, comprar os módulos, apostilas e estudar por conta própria. Mas, os concursos públicos estão em um nível elevado. Existem as disseminações dos cursos pela internet, dos coachs para os concursos, o ideal é que você busque realmente um apoio. Existem cursos de muita qualidade, esses cursos vão direcionar o candidato a estudar de forma mais inteligente, porque quando você pega um edital, é um volume absurdo de conteúdos e estes cursos direcionam o candidato para que ele estude de uma forma mais inteligente, otimizando o tempo e alcançando os objetivos de forma mais rápida”.

Porte de arma

O oficial de Justiça é o único servidor público do sistema de segurança pública que não tem o direito ao porte de arma. Porém, ainda de acordo com Francisco Falcão, mesmo com o apoio da Polícia Militar em determinadas diligências, se faz necessário o auxílio do porte funcional para que o profissional se sinta seguro.

“O oficial de Justiça não tem um porte funcional, ele não tem um porte de arma inerente à função. Mas ele requisitando um porte de arma, geralmente o delegado da Polícia Federal concede sem maiores problemas. Pela própria natureza do nosso cargo, em que estamos sempre expostos a riscos no nosso trabalho, no dia-a-dia. Porque quando você vai cumprir uma diligência, você não sabe quem está do outro lado, se é uma pessoa de bem, se é uma pessoa nervosa, se é uma pessoa que está armada. Então a gente está sempre submetido a risco. Já teve ocasião de eu fazer desapropriação, por exemplo, e a pessoa sair de lá de dentro com faca, com facão, querendo brigar. E o apoio da Polícia Militar nesse momento é muito mais importante até do que o próprio porte de arma. Porque o policial, a própria imagem do policial já impõe um respeito e uma segurança”.

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