Saúde

Doutor em patologia oral chama atenção para suspensão de cirurgias para o tratamento do câncer de cabeça e pescoço em Feira de Santana

Conforme Márcio Campos informou, o serviço de cirurgias de cabeça e pescoço oferecido pelo SUS em Feira de Santana atende a pacientes do município, além de outras 72 cidades

Foto: Reprodução/Redes Sociais
Foto: Reprodução/Redes Sociais

O especialista em patologia oral, mestre e doutor, Márcio Campos, do Centro de Referência e Lesões Bucais e do Núcleo de Câncer Oral da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), publicou um vídeo nas suas redes sociais com o objetivo de informar a população e chamar a atenção sobre a suspensão há dois meses em Feira de Santana das cirurgias para o tratamento de câncer de cabeça e pescoço pelo Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com ele, com exceção de cirurgias de tireoide, os pacientes que têm câncer de boca, faringe e laringe estão se deslocando para Salvador para realização das cirurgias.

Ele destacou que esse processo muitas vezes é mais demorado, as pessoas ficam em filas das unidades da capital e até morrem por terem dificuldade de buscar assistência. Em entrevista ao Acorda Cidade na manhã desta quarta-feira (29) ele relatou que esta suspensão do serviço é um retrocesso de uma luta de 15 anos contra o câncer de boca, período em que as equipes de cirurgia de cabeça e pescoço passaram a atuar em Feira de Santana.

“Antes da equipe de cirurgia de cabeça e pescoço chegar em Feira de Santana em 2009, os pacientes eram encaminhados para Salvador e isso retardava o tratamento. Muitas vezes, quando finalmente os tratamentos eram iniciados, os tumores já não eram mais operáveis e lamentavelmente eu perdi muitos pacientes por isso. É um filme que eu já vi antes e não gostei do final. Não gostaria que os nossos pacientes atuais vivessem essa realidade também. O câncer de boca é uma doença muito sofrida. No sexo masculino é o 5º tumor mais prevalente e nas mulheres o 11ª. Uma doença com grande mortalidade e há a necessidade de não interromper o tratamento cirúrgico”, afirmou.

Márcio Campos informou que nas lesões malignas, as cirurgias devem ser feitas pelos cirurgiões de cabeça e pescoço e os tumores mais comuns são do epitélio de revestimento (os carcinomas epidermoides), gerados principalmente pelo fumo, álcool, radiação solar quando são no lábio inferior e pelo HPV para a região da orofaringe.

O especialista explicou que toda mucosa oral é passível de sofrer uma lesão maligna e que as mais frequentes são língua, assoalho bucal, região que fica embaixo da língua, lábio e também céu da boca, bochecha e gengiva. Segundo ele, em todos os tecidos moles da cavidade oral o câncer de boca pode se instalar.

Para Márcio Campos, a suspensão das cirurgias de câncer de boca em Feira de Santana que eram realizadas pela Santa Casa de Misericórdia, ocorre devido aos custos elevados do tratamento, nos casos mais avançados e ultrapassarem os valores que são pagos pelos SUS, que apresenta uma tabela muito defasada. Ele disse também que não recebeu nenhum comunicado ou circular sobre a suspensão.

“Talvez por uma questão de custos em uma pequena parcela desses pacientes, o hospital esteja rejeitando-os. Essa é a minha leitura desse cenário. As Secretarias de Saúde municipal e estadual, precisam intervir e auxiliar nesse processo para que esse atendimento volte a acontecer”, declarou.

Conforme Márcio Campos informou, o serviço de cirurgia de cabeça e pescoço oferecido pelo SUS em Feira de Santana atende a pacientes do município, além de outras 72 cidades e até locais muito distantes onde os pacientes saem de casa 1h da madrugada para chegarem ao atendimento.

A Santa Casa de Misericórdia divulgou na manhã desta quarta-feira (29), um ofício protocolado no dia 30 de agosto direcionado à Secretaria Municipal de Saúde, onde informa sobre o desequilíbrio econômico financeiro ao realizar as cirurgias pelo SUS e pede que a pasta firme uma parceria efetiva para viabilizar o serviço. O ofício que é assinado pelo provedor da instituição, o médico Rodrigo Matos, sugere ainda uma reunião entre as partes para dialogar sobre o assunto.

A reportagem do Acorda Cidade entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e a pasta informou que a suspensão foi feita pela Santa Casa de Misericórdia. Segundo a SMS, um ofício foi enviado, mas não explicou de forma clara qual o apoio que a instituição necessita da prefeitura.

Ouça a entrevista na íntegra:

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