Feira de Santana

Deficiente visual há 35 anos, pai acompanha e ensina filha a pegar o transporte para a universidade

Também em entrevista ao Acorda Cidade, Neirivaldo revelou como perdeu a visão.

Laiane Cruz

Deficiente visual há 35 anos, o massoterapeuta Neirivaldo Santana, de 54 anos, tem prazer em ajudar a família e acompanhá-la sempre que preciso em suas atividades. Apesar da deficiência, ele se mantém ativo, pega o transporte público sozinho e conhece Feira de Santana como a palma da mão.

Recentemente, uma de suas filhas, Natália Oliveira Santana, iniciou os estudos no curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), e ainda inexperiente com os horários dos ônibus coletivos, a jovem contou com a ajuda do pai para ir à instituição nos primeiros dias.

Pensando na segurança da filha e em auxiliá-la neste processo de adaptação à universidade que Neirivaldo Santana se dispôs a acompanhar a jovem, ensinando a ela o caminho e os horários do transporte público.

Segundo Natália, em entrevista ao Acorda Cidade, Neirivaldo conhece Feira como ninguém. Anda de transporte público e sabe os horários para cada bairro da cidade. E é por isso que ela optou por aceitar a ajuda do pai nos primeiros dias. “Eu raramente pegava o transporte público, só quando meu pai precisava resolver alguma coisa na rua, então eu não tinha muito esse ritmo de pegar ônibus”, contou a estudante de pedagogia.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Também em entrevista ao site, Neirivaldo revelou como perdeu a visão. Segundo ele, foi em um acidente de carro, no ano de 1986, quando atravessava o cruzamento da Rua Castro Alves com a Barão do Cotegipe.

“Eu perdi a visão em um acidente de automóvel em 1986, e esse acidente atingiu meus dois olhos, que tiveram o deslocamento da retina. Eu dei uma carona a um cunhado, era ano de Copa do Mundo e eu, atravessando a Rua Castro Alves sentido à Barão do Cotegipe, na pista tinha uma ondulação e eu perdi a direção, colidindo com um poste. Perdi a visão, eu era jovem, tinha 18 anos, e tive que passar por todo esse processo de reabilitação em minha vida”, relatou.

Mesmo após ter perdido a visão, Neirivaldo não se aquietou e buscou enxergar a vida de outras formas, com muita força de vontade para aprender os novos caminhos que teria que trilhar.

“De lá para cá tive que aprender o braile e completei o terceiro ano do segundo grau, que eu já fazia na época. Constituí família, aprendi a profissão de massoterapeuta e hoje exerço trabalho voluntário em uma instituição, que agora está parada devido à pandemia. E levei minha vida dando suporte à família, tive minhas filhas, que além de Natália, tenho uma filha de 13 anos também, e desde pequenas dou suporte no ensino, nas tarefas. Elas nunca tiveram banca e toda dúvida elas tiraram comigo, e é assim até o dia de hoje”, contou o pai de Nate, como ele a chama carinhosamente.

Para Neirivaldo Santana é gratificante poder ajudar sua filha nesta fase da vida. Apesar de ter perdido a visão há 35 anos, saber que sua filha hoje com 19 anos está cursando a universidade o faz sentir muito bem.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Esse é um desafio, mas eu me sinto muito bem como pai estando ao lado dela e dando esse apoio. Ela está se sentindo bem para poder cursar e eu me sinto agraciado de ter essa oportunidade de dar esse suporte a Natália. As pessoas falam que minha filha é muito parecida comigo e imagino que ela é branca e alta. E é de uma personalidade e caráter muito bons, uma pessoa amável. Tenho todo orgulho de ter uma filha como Natália”, elogiou.

Emocionada com o carinho e a dedicação do pai, Natália também deixou uma mensagem aos jovens para que estejam sempre ao lado da família, das pessoas que mais ama. “Quero que todos se dediquem aos seus estudos, pensem no seu futuro, procurem buscar estar perto dos seus pais, de quem você ama, assim como meu pai está me orientando.”

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade

 

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