Feira de Santana

Corpo de Bombeiros orienta como prestar os primeiros socorros em caso de engasgos com crianças

Segundo o socorrista, algumas situações são resolvidas por telefone.

Gabriel Gonçalves

No último dia 18 de março, o pequeno Derick Trindade Guerrieri, de apenas 2 anos de idade, morreu após se engasgar com um alimento, em um imóvel onde funciona uma creche em Feira de Santana.

A criança chegou a ser levada até o Hospital Estadual da Criança (HEC) por policiais militares, que prestaram os primeiros socorros ao menino em um posto policial no bairro onde fica a creche, mas após uma Parada Cardiorrespiratória (PCE), não resistiu.

Diante deste fato, o Acorda Cidade foi em busca de maiores informações junto ao 2º Grupamento de Bombeiros Militares (2º GBM) de Feira de Santana, em como agir em caso de engasgo com crianças.

De acordo com o soldado e socorrista do GBM, João Lucas Fagundes Batista, este tipo de ocorrência, se torna comum, e para isso, é necessário que as pessoas tenham a técnica de fazer os movimentos no tórax da criança.

"É uma situação muito comum principalmente em crianças e lactentes como a gente chama, as crianças que acabam se engasgando até com o próprio o leite materno e por isso que advém dessa importância da gente saber os procedimentos, abrir as compressões abdominais, as compressões torácicas, as tapotagens dorsais para que a gente possa desengasgar e assim desobstruir as vias aéreas dessa criança, dessa vítima de engasgo. Mas acontece também com os adultos, eu tenho certeza que muitas pessoas já passaram por problemas, situações de engasgo, tanto engasgo parcial quanto um engasgo total, então por isso que é muito importante e a gente tem que fomentar esta cultura dos primeiros socorros em toda a sociedade, para que a gente possa ajudar tanto na prevenção, quanto no salvamento de várias vidas", afirmou.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Segundo o socorrista, alguns casos são resolvidos por telefone.

"É muito relativo a gente falar sobre quantidade de ocorrências por mês ou por semana, porque cada dia é um dia atípico. A gente fala aqui no Corpo de Bombeiros, que todos os dias, apesar da gente estar fazendo essa mesma atividade, todos os dias são dias diferentes, mas a gente tem ocorrências que a gente consegue resolver até por telefone, que acontecem bastante principalmente no desespero das mães. A gente tem ocorrências de às vezes nem está de serviço, mas está passando perto do vizinho, perto de um amigo ou alguém da nossa própria família que acontece essa situação de engasgo, e também nas escolas, nas creches, onde acontecem muito essa situação", citou.

Para o socorrista João Lucas, o engasgo pode acontecer com qualquer pessoa da sociedade, mas a atenção é voltada para a criança que ainda está na fase da vida, de aprender a mastigar.

"O público-alvo é toda a sociedade, porém existe uma atenção com as crianças até porque estão aprendendo a fazer a deglutição, ainda estão entrando nessa fase de alimentação. Eu tenho uma filha de oito meses, já passei por situações de engasgo na minha própria casa, então instrui a minha esposa a realizar essa desobstrução de vias aéreas e nessa área, ela se deu muito bem. Ela conseguiu ter a segurança de fazer, e por isso que a gente precisa além de ter conhecimento, treinar, porque as crianças são as partes mais vulneráveis, crianças, idosos pessoas com crianças que tenham comorbidades, então o ideal é a gente saber realmente exercer com técnica os procedimentos corretos, protocolados para que isso venha a surtir o efeito positivo", comentou.

De acordo com o soldado do GBM, é importante que os pais prestem atenção com o que os filhos estão brincando, para não haver a possibilidade daquele material ser ingerido, e destacou sobre a forma correta de prestar o atendimento.

"Geralmente, a alimentação, a deglutição, a mastigação mal feita, um alimento com tamanho maior do que as vias aéreas dessa criança, pode provocar o engasgo, mas também pode acontecer por meio líquido, e essa obstrução principalmente é muito comum em alguns acidentes de motocicleta. O sangue na cavidade bucal acaba tornando um engasgo também, e se tratando das crianças, são com brinquedos que acontece também. Um detalhe que é muito importante, que as pessoas observem brinquedo através, que pode entrar via nasal, às vezes a criança coloca pelo nariz, pelas narinas, engolem esses brinquedos, moedas, são com pequenos objetos, onde mais acontece essas situações de engasgo. Se o atendimento não for correto, a probabilidade de dar errado, é grande e segundo que pode vir a lesionar ainda mais a vítima causando um trauma ainda maior. Por isso que a gente precisa fazer as compressões abdominais corretas, as compressões torácicas corretas vindo essa vítima a necessidade de compressões torácicas e as tapotagens dorsais também, para evitar esse tipo de ocasionamento, de prejudicar ainda mais e gravar a lesão dessa vítima que já está em trauma", explicou.

Lei Lucas

Para o soldado, é necessário que as escolas de educação básica possam fornecer as informações de primeiros socorros quanto ao engasgo.

"Legalmente falando, existe a Lei 13.722 do Congresso que ela fala sobre a Lei Lucas, uma criança também vitimada por conta de um engasgo, ela sofreu engasgo com cachorro quente, os profissionais da escola não conseguiram desengasgar, e essa criança veio a óbito. Então legalmente, as escolas de educação básica infantil, têm que priorizar esse atendimento pré-hospitalar, esse atendimento de primeiros socorros, tanto na capacitação da vítima, quanto na capacitação da própria escola, porque não precisa ter apenas o capital humano capacitado, mas precisa também ter equipamentos necessários para isso. A escola por se tratar de vidas, precisa priorizar e fomentar a cultura de primeiros socorros", disse.

O que fazer quando uma criança se engasgar?

"Quando essa criança é uma lactente que é um bebê de 0 a 11 meses, o ideal é que a gente coloque esse bebê deitado de bruços e no antebraço e a gente de cinco tapotagens nas costas, vire esse bebê de costas com uma parte dorsal no nosso outro no antebraço, fazemos cinco compressões na linha intermamilar, no centro do tórax, cinco compressões torácicas neste o bebê, lembrando que o ideal é sempre estar olhando se este objeto foi expelido ou não desta cavidade bucal do bebê. Às vezes ele fica preso na cavidade bucal, e nós podemos retirar com maior cuidado para que a gente não introduza ainda mais este objeto. O protocolo fala das crianças acima de 1 ano, então a gente precisa fazer uma compressão torácica na criança de joelhos, a gente faz três dedos acima do umbigo como compressão torácica faz em formato de 'J' para dentro e para cima para que este movimento possa ajudar a expelir esse objeto, esse corpo estranho que está obstruindo a via aérea dessa criança", explicou.

Quais são os métodos de prevenção?

"Primeiramente no caso das crianças, é atenção redobrada dos pais. Os pais possuem um papel educacional fundamental, então essa prevenção de evitar que as crianças peguem objetos minúsculos e que possam engolir, fomentar também a mastigação correta dessa criança evitando alimentos que possam vir a ser ingeridos e ocasionar um engasgo, evitar também que essa criança tenha acessos aos objetos como tesouras, moedas, carrinhos pequenos porque ela pode colocar na boca e vir a se engasgar. No caso de crianças maiores, a gente orienta a educar essa criança já colocando desde o princípio, a cultura de primeiros socorros. Então falar com ela da importância da prevenção, da importância dela identificar os sintomas de engasgo e chamar um adulto que é muito importante também, então é mais essa questão educacional da criança, para que ela não seja afetada e que se for afetada, ela saiba qual o procedimento inicial para ela poder sair desta situação ou ajudar uma outra pessoa sair desta situação", concluiu.

Lei Lucas

A Lei de nº 13.772, denominada como Lei Lucas, estabeleceu que tem como obrigatoriedade, a capacitação em noções básicas de primeiros socorros de professores e funcionários de estabelecimentos de ensino públicos e privados de educação básica e de estabelecimentos de recreação infantil.

Ao Acorda Cidade, o professor de enfermagem Sebastião Oliveira, destacou que essa Lei, tem como principal função, garantir que as unidades de educação possam aumentar o treinamento de profissionais para que os mesmos, possam atuar em casos de engasgo.

"Essa Lei determina que as escolas forneçam e aumentem o treinamento para sua equipe de funcionários, de profissionais sobre primeiros socorros para atender a demanda, o público a qual ela costuma atender. Então se ela atende um público de crianças acima de 1 ano até 4 anos, ele precisa suprie esta necessidade com treinamento específico para este público, se ele atende um grupo na fase escolar então, ele vai precisar também ter um treinamento para este público específico. Essa Lei surge justamente por conta de uma situação que aconteceu com uma criança que se engasgou com uma salsicha em uma atividade escolar, onde eles estavam fazendo uma excursão e durante esta atividade, essa criança acabou se engasgando com a salsicha, e essa criança evoluiu o óbito. As pessoas que estavam acompanhando, os profissionais, os professores não sabiam realizar uma manobra tão simples que é a manobra de desengasgo, então a importância dela é justamente essa, de garantir que esse público de profissionais consiga intervir em situações de primeiros socorros, que são situações corriqueiras e que fazem parte da realidade de qualquer indivíduo, qualquer pessoa inclusive de crianças", destacou.

Para o professor de enfermagem, esta necessidade, é declarada como uma urgência para que essa prática seja aplicada nas escolas de Feira de Santana.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

"É uma urgência, nós temos centenas de unidades de ensino na cidade de Feira de Santana, nas cidades circunvizinhas, temos diversos ambientes de recreação que oferecem também atendimento às crianças, e esses profissionais, esses indivíduos precisam desenvolver um cuidado, uma atenção frente à estas crianças que podem apresentar engasgos, que não podem ser apenas um engasgo, pode ser um desmaio, uma queda, pode ser uma convulsão, e ele precisa saber o que fazer diante dessa realidade para garantir que seja feita na assistência declarada, até a chegada de um suporte avançado", concluiu.

 

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade

 

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