Neojiba

Com mais de 300 integrantes, projeto fortalece a inclusão social através da música clássica em Feira de Santana

Coordenador do Núcleo do Neojiba em Feira de Santana, o Maestro Gustavo Laporte Amaral, reforçou a importância da música clássica para o desenvolvimento intelectual de crianças e adolescentes.

Laiane Cruz

Há 14 anos atendendo crianças, jovens e adultos em Feira de Santana, o projeto Neojiba tem buscado fortalecer e promover a inclusão social através da música clássica. O projeto nasceu em Salvador com o apoio do governo do estado e hoje conta com mais de 13 núcleos em toda a Bahia, atendendo a mais de 2 mil integrantes diretos, sendo cerca de 300 participantes em Feira.

Aos 12 anos de idade, a aluna do projeto Maria Flor revelou, em entrevista ao Acorda Cidade, o seu amor pela música clássica, os instrumentos de cordas, e o sonho de um dia se tornar uma grande violoncelista.

Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade

“Eu comecei aqui em 2019 tocando clarinete, mas desde pequena eu sempre quis tocar violoncelo, porém não tinha vaga. E agora que surgiu, estou com o violoncelo. Desde pequena eu sempre gostei de ouvir música, sempre gostei do som das cordas. Eu queria aprender a tocar violão ou violino, então teve uma apresentação de um musical na escola e eu me apaixonei pelo som do violoncelo”, contou a menina.

Ela destacou que a música clássica é muito boa, linda e gostosa de se ouvir, o que faz aumentar ainda mais a sua paixão por esse estilo musical.

Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade

“Eu até agora só tive um avanço no clarinete, porque aprendi a tocar em 2019. Fui para a orquestra juvenil e já toquei várias vezes. Amo o estilo. Me sinto muito bem tocando, me sinto apaixonada pela música. E eu pretendo ir até o máximo que eu puder, pois meu maior sonho é ser uma violoncelista.”

Coordenador do Núcleo do Neojiba em Feira de Santana, o Maestro Gustavo Laporte Amaral, reforçou a importância da música clássica para o desenvolvimento intelectual de crianças e adolescentes.

Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade

“A música clássica já está comprovada que ajuda a pessoa a ter mais terminações cerebrais, a se concentrar mais, então tem inúmeros benefícios que auxiliam as pessoas. É um tipo de música que tem o seu momento, sua ritualística, e em vários países desenvolvidos no mundo tem vários concertos semanais de alta qualidade. Seria muito legal que no Brasil também conseguíssemos ter isso de forma mais divulgada e ampliada. A gente trabalha com as crianças, ainda que sejam iniciantes, com a prática musical coletiva. Elas tocam muitas músicas clássicas, arranjadas, que são facilitadas para elas. Mas também tocamos arranjos orquestrais de músicas populares brasileiras, folclóricas, do mundo inteiro. No projeto inteiro do estado atualmente são mais de 2 mil crianças e em Feira de Santana vamos chegar a 300 integrantes”, afirmou ao Acorda Cidade.

Mesmo não sendo um estilo musical amplamente divulgado e sem muitos incentivos por parte do poder público a nível nacional, o maestro sente que o público gosta quando ouve a orquestra tocando.

“Se pensarmos no grupo e na riqueza de sons, é uma das coisas mais lindas do mundo da música que existe. Ainda que o público possa ter uma dificuldade inicial de compreender a música clássica, que realmente é mais complexa, é muito contagiante ver um grupo de crianças e adolescentes tocando com aquela alegria e espontaneidade. Então o público gosta muito das nossas apresentações. Eu já faço isso há muitos anos e é uma alegria, através da música, a gente pode transformar a vida dessas crianças e adolescentes, dar a eles essa disciplina e essa visão de mundo, que é necessária em uma orquestra, de que eles podem ser mais e terem mais oportunidades na vida”, salientou Laporte.

Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade

Mas antes mesmo de ser um instrumento transformador para a vida de outras pessoas através da música clássica, o maestro foi primeiramente tocado e transformado pelo poder desse gênero musical.

“A música clássica para mim é uma expressão da arte na sua plenitude, uma coisa que ajuda muito a me inspirar, me dá muita paz interior, muita alegria, tranquilidade e é o ideal da minha vida. Eu acho que aqui em nossa cidade a música clássica poderia ser mais explorada, ter mais grupos, orquestras, grupos de música. No Brasil, já tem grandes orquestras há muito tempo, tem as filarmônicas em outros estados, mas sim, esse estilo poderia ser mais explorado, já que traz enormes benefícios educacionais para as pessoas.”

De acordo com o coordenador do Neojiba, por não ser um estilo de música comercial, não existe no país um incentivo maior para as pessoas escutarem os autores clássicos e daí também vem a dificuldade que muitos artistas instrumentistas têm de se manter e viver desse tipo de música. “Não é o tipo de música que vende, e a gente vê hoje alguns projetos no país tendo dificuldade de se manter, orquestras com dificuldade, justamente por conta disso.”

Além das dificuldades já existentes no setor, a pandemia veio para piorar ainda mais a atuação desses instrumentistas, com o cancelamento das aulas presenciais e das apresentações em público.

“Na pandemia, a gente ficou até setembro do ano passado com atividades online com os integrantes, inclusive vários recitais online, com lives públicas, e a partir de setembro, começamos com todos os cuidados sanitários a nos reunir de novo, com alguns integrantes mais velhos e aos poucos fomos retornando até chamarmos todos os integrantes. Aqui a gente faz um questionário sobre o estado de saúde deles, estamos sempre fazendo pesquisas para ver se tem alguém na família contaminando pela covid, e até hoje não tivemos nenhum caso de contaminação aqui no núcleo.”

Em Feira de Santana, o núcleo territorial do Neojiba fica localizado no CSU da Cidade Nova – Rua Tostão S/N, Cidade Nova, Feira de Santana – BA. O programa é mantido pelo Governo do Estado da Bahia, vinculado à Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social, e gerido pelo Instituto de Desenvolvimento Social Pela Música.

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade