A líder quilombola e ialorixá Mãe Bernadete, morta a tiros na quinta-feira (17), foi enterrada neste sábado (19), no Cemitério Ordem Terceira de São Francisco, na Baixa de Quintas, em Salvador. Há seis anos, um dos filhos dela foi executado a tiros e enterrado no mesmo local. Nos dois casos, os suspeitos fugiram e ninguém foi preso.
“No dia 19 de setembro de 2017 meu irmão foi assassinado e hoje, 19 de agosto de 2023, eu estou sepultando minha mãe no mesmo lugar. Não são os mesmos autores, mas pode ser o mesmo mandante”, disse Jurandir Wellington Pacífico, filho de Mãe Bernadete.
Assassinada a tiros dentro de quilombo na Bahia: o que se sabe sobre o homicídio de Mãe Bernadete
Assim como filho Flávio Gabriel Pacifico, Mãe Bernadete foi assassinada dentro do quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho, na Região metropolitana de Salvador (RMS). Na ocasião, ela assistia televisão com os três netos. A Polícia Federal e a Polícia Civil da Bahia investigam o caso.
O corpo de Mãe Bernadete foi velado no Pitanga dos Palmares durante toda a tarde de sexta-feira (18). O velório contou com a presença de diversas autoridades religiosas e representantes do governo estadual. Através das redes sociais, o presidente Lula lamentou o homicídio da ialorixá.
Neste sábado, amigos e familiares de Mãe Bernadete participaram de uma ritual candomblecista no quilombo. Depois, o mesmo grupo homenageou a ialorixá com um samba. Segundo o filho dela, Jurandir Wellington Pacífico, o samba era o “último pedido” da mãe.
Em seguida, o corpo da ialorixá foi colocado no caminhão do Corpo de Bombeiros e houve uma caminhada pelas ruas de Simões Filho. O caixão de Mãe Bernadete foi coberto com a bandeira da Bahia e o grupo cantou: “segura na mão de Deus/ pois ela te sustentará/ não temas, segue adiante e não olhes para trás”. [Veja vídeo acima]
Após a caminhada, uma carreata transportou o corpo de Mãe Bernadete de Simões Filho para Salvador, onde ele foi enterrado por volta das 11h. Um multidão participou da despedida.
Quem foi Bernadete Pacífico
A liderança quilombola Bernadete Pacífico, de 72 anos, também era ialorixá, líder religiosa, da comunidade Pitanga dos Palmares, e coordenadora da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq).
Em julho deste ano, Bernadete participou, ao lado de outras lideranças quilombolas da Bahia, de um encontro com a presidente do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, na comunidade Quingoma, em Lauro de Freitas, também na Região Metropolitana de Salvador. Na ocasião, ela denunciou ameaças e violências contra a comunidade quilombola.
Mãe Bernadete, como era conhecida, foi secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial na cidade de Simões Filho, onde fica o terreiro, durante a gestão do prefeito Eduardo Alencar (PSD) (2009-2016). ‘Sambadeira’, Bernadete também era conhecida por sua defesa da cultura popular quilombola. Em 2017, ela recebeu o título de Cidadã Simõesfilhense pela Câmara de Vereadores da cidade.
Ela cobrava justiça pela morte do filho, Flávio Gabriel dos Santos, o Binho do Quilombo, que foi assassinado em 2017, por homens armados também na área do quilombo.
O quilombo Pitanga dos Palmares, que era liderado por Bernadete também é responsável por uma associação onde mais de 120 agricultores produzem e vendem farinha para vatapá, além de frutas e verduras como abacaxi, banana da terra, inhame e maracujá. Cerca de 290 famílias vivem no local de 854 hectares. O quilombo foi certificado em 2004, mas ainda não teve o processo de titulação concluído.
Fonte: G1
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