Economia

Alimentos podem ficar mais caros com fenômeno climático El Niño, alerta economista

No período de inflação e de aumento o valor dos produtos da cesta básica, economizar é de suma importância o orçamento no fim do mês.

Supermercado
Foto: Fernanda Cruz/ Agência Brasil

Com o efeito do fenômeno climático El Niño, especialistas de todo país alertam para um possível aumento nos preços dos alimentos consumidos em casa no Brasil em 2024.

O fenômeno, que, embora não deve gerar aumentos tão intensos quanto nos anos anteriores, ainda pode causar desconforto para o bolso dos consumidores, especialmente os mais pobres.

Mas, como um fenômeno pode atingir o aumento dos produtos e da inflação no país? Para responder à pergunta, a princípio, é importante saber que o fenômeno deve durar até abril de 2024, além das suas características que impulsionarão na mudança do clima e consequentemente, no cultivo de alimentos.

Em entrevista ao Acorda Cidade, o economista e mestre em administração, Carlos Rangel Portugal explicou os efeitos do fenômeno que comprometem toda a atividade agropecuária em diferentes regiões do Brasil.

“O El Niño é um fenômeno de periodicidade irregular, caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico, na região do Peru, que tende a alterar os padrões climáticos da faixa tropical do globo, provocando uma intensificação das chuvas no Sul do Brasil e as secas mais intensas no Norte e Nordeste. Verificamos no último trimestre de 2023 a magnitude de sua passagem pelo país e que foi sentida pela população de centros urbanos do Sul aos ribeirinhos do Norte do país, com a seca de rios na região amazônica comprometendo suas atividades produtivas e sua logística. Esse fenômeno acaba por prejudicar as lavouras e consequentemente reduzir a produção, provocando alta de preços”.

O Produto Interno Bruto (PIB) é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos por um país, estado ou cidade. O conjunto das atividades agropecuárias representaram cerca de 25% do PIB no ano de 2023, o que, com o impacto do fenômeno, possivelmente terá a mesma porcentagem em 2024.

“Cálculos do boletim macro da Fundação Getúlio Vargas e do Instituto Brasileiro de Economia mostram que o conjunto da atividade agropecuária representará cerca de 25% do crescimento do PIB de 2023, ou seja, ao menos 0,7 ponto percentual para uma expansão projetada em 2,9% do PIB. Já para 2024 as projeções indicam que esse impulso não será o mesmo, e um dos motivos são as altas temperaturas observadas nos últimos meses, que levam 2023 a ser o ano mais quente registrado em nível mundial desde 1940, comprometendo parte da safra. Em meados do ano passado, era projetado um crescimento do setor de 2% em 2024 contra 16% de 2023, contudo as projeções para este ano é uma contração de 1,6%, indicando que o peso da agropecuária no PIB não deve superar os 6%’, disse o economista.

Inflação e deflação

Para tratar sobre o aumento dos produtos, é importante citar a inflação e a deflação. Apesar de parecidos, eles tratam do ritmo dos preços ao longo do tempo, mas são bem distintos. Segundo Rangel Portugal, cada um tem a sua particularidade, e pode ser configurada de acordo com o crescimento da economia.

“Inflação é um aumento geral e constante nos preços de bens e serviços do mercado. Com isso, a inflação representa um aumento do custo de vida e a consequente redução do poder de compra da população. É comum tratar a inflação como um indicador negativo, mas, necessariamente, ela não é. Quando está sob controle, essa variação de preços pode indicar que a economia do país está em um período de crescimento e também quando vem acompanhada de aumento no salário mínimo. Entretanto, quando os aumentos de preço acontecem de forma recorrente e o poder de compra dos consumidores não evolui, ou seja, existe um aumento constante no custo de vida da população, ela se torna danosa. A deflação, ao contrário da inflação, é a queda generalizada de preços de produtos e serviços de forma contínua e por um período razoavelmente longo. Embora seja comum ver gente chamando recuo pontual de índice de inflação de deflação, a queda em um ou dois meses apenas não configura por si só um processo deflacionário, e não permite dizer que a deflação é uma tendência”.

Projeção

De acordo com o economista, os produtos de maior impacto através da projeção da inflação para 2024, serão os de hortifruti (legumes, frutas e verduras) e produtos agropecuários (grãos).

“Segundo o relatório Focus do Banco Central, que foi publicado em 29 de dezembro do último ano, a projeção para a inflação de 2024 medido pelo IPCA, que é o índice oficial da inflação do país, é de 3,9% contra os 4,68% consolidados até novembro de 2023. Esse percentual estará dentro da meta estipulada pelo Banco Central, que é de 3,5%, com variação de 1,5% para mais ou para menos. Portanto, caso a economia interna e mundial permaneça dentro da normalidade, essa normalidade entre aspas, a inflação projetada para 2024 será menor que a de 2023. Contudo, vale lembrar que esse ano é um ano de eleições, aí nem os melhores profetas do globo poderão prever com precisão o que poderá ocorrer com nossa economia. Os alimentos mais suscetíveis a essa pressão são os produtos de hortifruti, como legumes, verduras e frutas, em sequência, aqueles produtos que têm na sua composição os produtos agropecuários. A partir do momento em que há aumento nos preços dos produtos alimentícios, isso provocará aumento no valor da cesta básica e trará impactos no orçamento das famílias, principalmente as famílias de baixa renda, onde o peso dos alimentos é alto na composição do orçamento”, frisou.

Com o aumento do preço dos alimentos, as famílias de baixa renda são as mais impactadas. O especialista também mencionou em entrevista ao Acorda Cidade, que embora haja desigualdade no Brasil, o número tem se elevado.

“O aumento de preços, como falei antes, de forma descontrolada, acaba por penalizar as famílias de baixa renda, pois perdem seu poder de compra. A desigualdade de renda no Brasil já foi bem pior. Hoje estamos em um patamar melhor, porém, aquém do ideal. Só para se ter uma ideia, hoje, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas e do Instituto Brasileiro de Economia, quase 35 milhões de pessoas vivem sem água tratada e quase 100 milhões não têm acesso a tratamento de esgoto, isso corresponde a quase 50% da população brasileira. Se observarmos as regiões consideradas mais pobres, como a região norte, a situação piora, pois apenas cerca de 14% da população tem acesso a tratamento de esgoto. Já na região sudeste, esse percentual sobe para 82%, seis vezes mais, e 43% de quem mora no norte do país tem água tratada, enquanto no Sudeste esse percentual sobe para 91%. E o pior é que assistimos a tudo isso impassíveis”.

Dicas para economizar

No período de inflação e de aumento no valor dos produtos da cesta básica, economizar é de suma importância para o orçamento no fim do mês. Por isso, o economista também deu dicas de como driblar os preços elevados.

“Diante desse quadro, o peso de um aumento dos preços dos alimentos é bastante cruel para as famílias de menor poder aquisitivo. Bom, aí eu recorro àquela velha e caseira receita, pechinchar, buscar pesquisar os melhores preços para então realizar as compras, também buscar substituir produtos com preços elevados por outros similares com preços mais em conta. É a velha história, né? Caminhar, caminhar até encontrar o melhor preço para caber no orçamento. O PIB do terceiro trimestre de 2023 mostrou uma desaceleração da economia, que provocou, claro, uma revisão na projeção do PIB de 2023 para 2,9%. Contudo, vai depender do que vai acontecer no último trimestre de 2023, que não foi muito bem das pernas. Como o investimento está em queda, fica difícil prever se a economia continuará crescendo neste ano de 2024 a taxas necessárias para absorver a mão de obra, reduzir desigualdades e inserir o país nas cadeias globais de produção”.

Com informações da jornalista Iasmim Santos da produção do Acorda Cidade

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