Feira de Santana

Com sonho de ser médico, jovem tira 980 na redação do Enem estudando sem energia elétrica

'De vez em quando eu ligava a lanterna e ficava estudando até às 19h', contou.

Laiane Cruz

Dedicação, esforço, persistência e fé. Com essas quatro palavras, o jovem feirense Matheus de Araújo Moreira Silva define a sua jornada de estudos para conquistar a tão sonhada vaga em um curso de Medicina. Agora em 2021, o estudante de 25 anos realizou a prova do Enem 2020 e tirou 980 na redação, quase a nota máxima, que é de mil pontos na prova. No geral, ele fez 708 pontos.

Morador do bairro Viveiros, Matheus tem cinco irmãos e estudou toda a sua vida em escola pública. Em entrevista ao Acorda Cidade, ele contou um pouco da sua trajetória, que seguirá firme até ter em suas mãos o diploma de médico.

“Minha Jornada nos estudos começou em 2015. Eu estudava para fazer cursinho, estudava na biblioteca para medicina, porém com os entraves da vida acabei entrando em 2015 em enfermagem. Estudei dois anos e abandonei para tentar medicina, que era o meu sonho”, relatou.

Desde que abandonou o curso de enfermagem e tendo poucos recursos à sua frente, Matheus resolveu encarar o desafio de estudar para alcançar a nota desejada no Enem. Ele respondia a inúmeras questões de provas, e assim pegava os macetes.

Foto: Arquivo Pessoal

“Estudava através de vídeo aulas no YouTube e algumas plataformas de estudo. Minha rotina de estudo era de domingo a domingo, sempre estudava, mesmo que fosse um pouco. De segunda a sexta, eu estudava das 6h às 17h e final de semana até às 14h. Estudava as questões do Enem”, afirmou.

Pandemia

Com a pandemia, veio também a insegurança, o medo, as bibliotecas fecharam e Matheus ficou sem ter onde estudar, já que em casa não conseguia se concentrar.

“Fiquei me perguntando onde iria estudar. Aí uma colega recebeu uma casa aqui no Viveiros, uma casa que não tem energia. Foi muito complicado me adaptar. Em casa tenho cinco irmãos, um que é especial, não tinha como estudar em casa. Acabei indo para essa casinha, que não tinha energia, apenas água. Peguei uma mesa e uma cadeira, assinei um pacote de internet e ficava lá estudando até 17 horas, porque escurecia e tinha que voltar para casa, mas de vez em quando eu ligava a lanterna e ficava até às 19h”, revelou Matheus ao Acorda Cidade.

Foto: Arquivo Pessoal

Ao saber do resultado do exame este ano, o estudante de escola pública lembrou de todas as dificuldades que teve que enfrentar. O jovem ficou muito contente e grato a Deus ao ver o resultado de todo o seu esforço, materializado na nota do Enem.

“Eu pretendo cursar medicina e irei conseguir. No segundo semestre do ano, abrem as vagas para a estadual. Eu já analisei e vamos ver o que vai dar. Senti bastante dificuldade, porque sempre trabalhei para pagar os cursinhos, fazia cursinho público como o UPT [Universidade Para Todos]. Foi um longo período de estudo, de abdicação, de esforço e quando você vê seu esforço materializado em uma nota, que é o Enem, é muito gratificante. O estudo dá retorno”, comemorou.

Grupos de estudo

Além de toda a sua dedicação para passar no Enem, Matheus de Araújo também sempre teve o desejo de compartilhar o seu conhecimento com aqueles que, como ele, não tinham condições de pagar por aulas particulares ou não tinham acesso à internet.

“Uma das coisas que eu faço há dois anos e tem me ajudado bastante é dar reforço às pessoas aqui no bairro, a um preço bem simples. Tinha pessoas que não tinham condições financeiras e eu ministrava o conteúdo e ensinava assim mesmo, pois ensinando, eu estava reforçando o estudo e ajudando o colega que precisava. Eu dava reforço, mas devido ao covid-19 ficou muito complicado se adaptar, porque muitos não tinham internet boa e também não conseguiram fazer a migração do presencial para o EAD, então foi muito complicado. Fiz até um Instagram @negrescored, que é uma forma de divulgar. Eu fiz também um grupo de estudo no WhatsApp com as meninas aqui do bairro, porque eu vi que não tinham um poder aquisitivo de poder pagar um tutor de redação, e todas conseguiram tirar acima de 900, mas de um modo geral é dedicação, esforço e persistência e o maior de tudo Fé. Ter Fé que em algum momento tudo vai acontecer”, destacou o jovem.

Dicas para estudantes

Matheus revelou ainda algumas dicas de como os estudantes podem se dar bem na prova do Enem. Segundo ele, é preciso obedecer a alguns pilares, que farão toda diferença na apreensão dos conteúdos.

“As dicas que posso dar para o Enem são, se preparar, se organizar, fazer planejamentos, fazer muitas questões, porque o segredo está em fazer questões, ter uma rotina de estudo de 3 a 4 horas por dia, porque o Enem não é quantidade de estudo, é qualidade, é você fazer muita questão, assistir a vídeoaula, fazer resumo, revisar, mas sempre estar fazendo questões. As dicas são essas: estudar todo dia um pouquinho e acreditar nos seus sonhos, porque se você não acreditar no seu sonho, ninguém vai acreditar por você. Entregar na mão de Deus e fazer a sua parte, porque em algum momento você vai colher seus frutos. Além disso, tem a questão da disciplina, organização, ter metas semanais e fazer pequenos blocos de estudo de 30 a 50 minutos”, orientou.

Foco e Fé

O morador do bairro Viveiros elencou ainda as razões pelas quais sempre acreditou no estudo como a ferramenta que traria grandes mudanças em sua vida. Para ele, o conhecimento foi elemento que Deus colocou na vida para conseguir almejar coisas boas para ele e para a sua família.

“O estudo para mim é algo que eu vejo como a única forma que tenho para crescer na vida. Tem até uma frase que eu utilizo para minha: ‘a educação modifica vidas, assim como Jesus modifica o seu interior’. E para os jovens a dica, é que devem pôr na cabeça que ‘um sonho sem ação é apenas um pensamento’”, declarou.

Para Matheus, outra meta de vida é servir de inspiração para outros jovens, para que possam se espelhar com orgulho nesse jovem pobre, negro, de bairro periférico de Feira de Santana, mas que com muita garra e Fé, deixou para trás tudo aquilo que poderia se tornar um empecilho, a fim de prosseguir para o alvo, e a cada dia trilha, dando um passo de cada vez, o caminho para o sucesso profissional.

“O Viveiros é um bairro periférico, e a maioria dos jovens se envolve com drogas, bebidas, tráfico. Espero que esses jovens que não se envolvam, vejam que eu consegui e se espelhem. Vejam que o estudo é uma forma de saída dessa porta errônea”, completou.

Com informações de Maylla Nunes do Acorda Cidade

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