Gabriel Gonçalves
Atualizada às 12:45
Um hospital da rede particular de Feira de Santana realizou no último final de semana, o primeiro tratamento experimental com plasma contra a covid-19. Em entrevista ao Acorda Cidade na manhã desta quarta-feira (3), a infectologista e coordenadora do Comitê de Enfrentamento à covid-19, Melissa Falcão, explicou como é realizado o procedimento para o tratamento.
"Nós coletamos um componente do sangue no qual está contido os anticorpos, ou seja, uma pessoa que tem o coronavírus, produz anticorpos para proteger seu corpo de uma nova infecção para combater o vírus. Então pegamos uma parcela desse sangue, que é o plasma, e que possui esses anticorpos, e transfunde em um paciente que esteja em estado grave, precisando de anticorpos, com o objetivo de diminuir a quantidade de vírus e reduzir os efeitos no organismo. O que é diferente de uma vacina. Ao ser vacinado, o paciente passa a produzir o anticorpo, e no caso do plasma, esse anticorpo já vem pronto quando é coletado de uma pessoa que já possui a defesa no organismo. Infelizmente ainda não temos autorização para fazer isso em qualquer paciente que esteja com sintomas mais leves, mas ajuda no organismo da pessoa que já está doente e debilitada a combater o vírus com mais rapidez", explicou.
De acordo com a infectologista, a ideia do tratamento por plasma foi desenvolvida há um tempo, mas por conta da grande demanda que o município está tendo, não tinha sido possível realizar na prática.
"Nós tivemos a ideia de fazer um estudo aqui em nosso município fazendo as análises através de bancos de plasma, para quando fosse necessário. Porém diante da demanda de trabalho, a gente não teve como levar isso adiante até que se tenha a aprovação do Comitê de Ética, pois como não é um medicamento, não é um tratamento que está sendo liberado para uso amplo, é necessário a liberação do comitê e de pesquisa e infelizmente, não tínhamos conseguido levar adiante as pesquisas. Assim como aqui em Feira de Santana, São Paulo, Espírito Santo e o próprio Hemoba já estão fazendo as análises desse tratamento. O que fizemos aqui, foi uma experiência com um paciente que não estava respondendo ao tratamento convencional, então mediante a autorização da família, porque é um tratamento analisado a nível mundial, a família assinou o termo e ficamos felizes com o resultado, porque foi o primeiro paciente do município e a resposta foi animadora dentro das primeiras 24 horas, tivemos uma melhora significativa na evolução, tanto na necessidade de oxigênio, quanto na estabilidade da pressão do paciente", destacou a infectologista.
Por ainda não ter autorização, este tipo de tratamento não será realizado no município de forma rotineira, mas segundo Melissa Falcão, quando for necessário fazer essa alternativa, o município fará o possível para ter acesso.
"Ainda não é algo que a gente vai fazer de rotina, mas sempre que tiver um paciente grave precisando de um tratamento alternativo aqui em nosso município, iremos fazer o máximo possível para ter acesso a essa modalidade. Não foi uma fácil, essa transfusão foi realizada no final de semana, quando não se tem doações, então contamos com a ajuda do diretor do Hemoba que disponibilizou esse plasma de uma pessoa compatível e nos encaminhou e isso só foi possível por uma cooperação do prefeito, junto com o governador, junto com o Hemoba e realmente fizemos uma força-tarefa e estaremos a disposição, pois o nosso objetivo é salvar vidas", disse ao Acorda Cidade.
Para realizar este tipo de tratamento, ambos os pacientes precisam ter a mesma compatibilidade do sangue. Por não conseguir realizar a coleta no Hemoba de Feira de Santana, o plasma precisou ser enviado de Salvador.
"Nós conseguimos um doador aqui em Feira que fosse compatível, mas como não conseguimos realizar a coleta e por questão do banco de sangue do próprio Hemoba, essa coleta precisou ser encaminhada de Salvador. Eles realizaram a dosagem dos anticorpos e nos encaminhou esse plasma, já pronto para infusão. Não foi fácil, mas vale a pena quando se trata da questão de vidas em jogo e continuaremos nessa maratona, e em todas as outras quando for necessária para dar a população de Feira, o melhor tratamento que existir e que for possível fazer. O ideal é que se o paciente é A+, é necessário que o plasma também seja A+, buscamos a maior compatibilidade para evitar efeitos adversos, assim como acontece na transfusão de sangue, o paciente pode ter alguma reação alérgica, pode ter alguns efeitos colaterais e que precisam ser minimizados", concluiu.
Notícia atualizada para correção de informação: Inicialmente foi informado que o tratamento experimental foi realizado no Hospital de Campanha, mas ocorreu em um hospital da rede particular.