Saúde

Médico infectologista tira dúvidas sobre progresso de vacinas contra a covid-19

O médico esclareceu dúvidas sobre a vacina e disse que é fundamental que as pessoas continuem mantendo o distanciamento social e usando máscaras, até que a vacina chegue para todos.

Acorda Cidade

O Brasil já vivencia as fases de testes para a vacinação contra a covid-19. No estado da Bahia, a vacina Sputnik V, produzida pelo governo russo, já está na terceira fase e a produção está prevista para iniciar no início de 2021. Para esclarecer o processo de eficácia e como é produzida a vacina, O Acorda Cidade conversou com o médico infectologista  Antônio Bandeira, diretor da Vigilância Epidemiológica do Estado da Bahia (Divisa).

Confira a entrevista na íntegra

Acorda Cidade- Como está o processo de vacinação no Brasil?

Antônio Bandeira- O processo de vacinação no Brasil, hoje, aguarda a aprovação da nossa agência reguladora (Anvisa) em algumas empresas, como já foi requerido a solicitação da vacina da Pfizer e provavelmente, também será solicitada a aprovação da vacina da Moderna, que são as duas vacinas que já foram aprovadas nos Estados Unidos pelo órgão regulador de lá. As demais vacinas, estão terminando a fase três e vão ser colocadas junto com a vacina do Butantan, com a vacina Sputnik, com a vacina da Janssen, todas rapidamente na fila para a Anvisa poder aprovar. Quando a Agência Reguladora aprova, automaticamente essas vacinas podem ser aplicadas.

 

Acorda Cidade- Por que que a Bahia está optando pela vacina russa?

Antônio Bandeira- A Bahia optou pela vacina russa por algumas questões. Uma delas é o avanço do processo de desenvolvimento. Na Rússia, os cientistas vinham com uma aceleração no processo de fabricação, e essa aceleração foi um fator importante para que nós pudéssemos optar. Ela [vacina] tem se mostrado, pelo menos nos testes da fase 3, um imunizante que tem eficácia. Além disso, os custos dessa vacina são razoáveis para o governo, acho que foi uma opção importante nesse momento para que a gente possa ver a Bahia livre da covid-19.

 

Acorda Cidade – Em quanto tempo ela ficará pronta?

Antônio Bandeira- Não tenho ideia de quando efetivamente ela estará disponível, porque todo esse processo, de certa maneira, está sendo encaminhado para a Anvisa. Precisamos aguardar a Anvisa aprovar, como vimos, por exemplo, a vacina da Pfizer que foi aprovada nos Estados Unidos e já começaram a vacinar imediatamente depois, assim como a Moderna que também já foi aprovada. A Anvisa poderia considerar esse processo de análise e já estaria disponível no Brasil. Digo isso, porque temos que começar a trabalhar com termo de cooperação entre as agências reguladoras. Uma agência como a FDA nos Estados Unidos é extremamente rigorosa, então quando uma vacina dessa é aprovada no FDA, ela passa por várias análises que são pessoas de referências internacionais e tem capacidade.


 

Acorda Cidade- Normalmente, as vacinas demoram para ser desenvolvidas. As vacinas contra a covid-19 tiveram um processo de aceleração na fabricação. A eficácia desses imunizantes é confiável?


Antônio Bandeira- Sem dúvida nenhuma. Essas vacinas do coronavírus, todas, tiveram um processo bastante acelerado, mas isso não quer dizer que o processo de produção, foi um processo que teve muitas falhas. O que é importante, é que mostra a eficácia, mostra que mesmo em um período curto, como foi o caso de algumas vacinas, a Pfizer que mostrou eficácia de 95%, a Moderna entre 90 e 95%, a da Oxford mostrou 70%. Sabemos que há uma variação, todo produto imunológico, todo produto imunizante tem efeitos colaterais, é claro que a totalidade desses efeitos colaterais a gente não sabe ainda por que ninguém teve o tempo de fazer a observação suficiente para se ter todos os efeitos. Mas, é aquela situação, você pondera o risco do benefício, o benefício é se livrar da pandemia, então o benefício nesse momento, supera demais o risco que a gente pode ter em relação a um comunicado de reações adversas, por isso que estão conseguindo aprovação das agências reguladoras, onde normalmente levariam de quatro a cinco anos para serem aprovadas. Estamos em um estado pandêmico, com o coronavírus matando, vemos a quantidade de mortes que vem se avolumando no mundo inteiro, não apenas no Brasil, então, se não tivermos uma vacina, toda a população vai pegar o vírus. Se não chegar à vacina, todas as pessoas serão infectadas. O coronavírus não é uma doença que se tem uma vez e acabou. Estamos vendo inúmeros casos de reinfecção, o indivíduo tem coronavírus, vai passar alguns meses sem ter, vai se expor de novo e pode ter novamente. Se as vacinas precisassem de um tempo de cinco anos para serem aprovadas, muitas pessoas iriam morrer.

 

Acorda Cidade- As pessoas que contraem a covid-19, algumas, perdem o olfato e o paladar. Por que isso acontece? Elas continuarão por muito tempo sem os sentidos?

Antônio Bandeira- Temos visto pessoas que tem permanecido por um logo tempo.A maioria das pessoas, retornam o paladar e olfato após os 15 dias, mas algumas delas têm ficado sem os sentidos. Teve paciente que ficou cerca de três meses sem paladar e sem o olfato, e logo após os três meses, voltou a sentir o gosto e o cheiro de alguma coisa podre, por exemplo. Ela só sente aquele cheiro, então tudo o que ela cheira, um perfume francês, ela sente o cheiro de coisa em putrefação, uma coisa horrorosa, o gosto também. Nesse caso, foi pior do que a perda do paladar. Chamamos de “dijovia”, que é a modificação do paladar e do olfato. Isso ocorre, por que o vírus penetra pelo nervo olfatório e vai até uma parte do cérebro. Provavelmente, em algumas pessoas, ele pode levar esse nervo, e se o vírus levar esse nervo de forma definitiva, a pessoa pode, teoricamente, perder completamente o paladar e o gosto. O olfato acaba influenciando muito no paladar e como é o olfatório que o vírus consegue subir, pode acabar acontecendo essa perca. Algumas pessoas conseguem uma recuperação. Oriento para as pessoas que estão com esse problema, principalmente com mais de um mês, é estarem estimulando o nervo, tentar fazer uma neuro regeneração através do estímulo. Como o estimulo tem que ser por olfato, a pessoa pode pegar, todos os dias, um pouquinho de café, de álcool, de perfume e cheirar em casa narina três vezes ao dia, continuamente, até que ela consiga tentar fazer uma neoplastia.

 

Acorda Cidade – Sobre as sequelas neurológicas e psicológicas, algumas pessoas ficam estressadas pós-covid?

Antônio Bandeira- Sim, as pessoas ficam abaladas psicologicamente e tem uma síndrome que chamamos de “fadiga crônica”, em que a pessoa tem o covid-19, alguns que tiveram comprometimento pulmonar mínimo, ou seja, não tem nada a ver com o pulmão comprometido, e a pessoa tem uma fadiga crônica, ou seja, depois da covid-19 ela acorda como se estivesse passado um trem por cima dela. Passa o dia inteiro sem energia, se arrasta durante o dia, e isso permanece nessas pessoas ao longo de meses, algumas pessoas ficam de três a quatro meses nessa situação e realmente, ainda não sabemos o que há por trás dessa fadiga crônica.
 

Acorda Cidade- A população está um pouco indisciplinada, após o noticiário em relação a vacina. Mas, a vacina não está em circulação, correto?

Antônio Bandeira- Não está liberada, a covid-19 se transmite muito rápido. Se a pessoa não toma as devidas medidas, ela contamina rapidamente várias pessoas, como é o caso recentemente que eu tive possibilidade de ter um conhecimento de um familiar de pessoas conhecidas, em que apenas uma pessoa contaminou 22 numa reunião familiar. O vírus é muito transmissível, estamos tendo uma quantidade absurda de casos que só está crescendo. Nossas UTIS estão lotadas e se as pessoas continuarem com esse comportamento, vamos gerar um caos para nós mesmos. A vacina não chegou ainda e mesmo se ela chegasse hoje, a gente ainda vai ter o impacto muito grande das pessoas que estão se contaminando.
Estamos falando de uma quantidade de pessoas que mesmo que a gente pudesse parar a contaminação hoje, vacinasse toda a população do estado da Bahia, ainda teríamos uma quantidade muito grande de casos que vão ocorrer durante 30 dias por conta das pessoas que já se contaminaram. É fundamental que tenhamos responsabilidade, usar a máscara e higienizar as mãos. O ideal é que a gente reduza a quantidade de eventos, a quantidade de aglomerações. A melhor vacina nesse momento, até a gente tenha uma boa quantidade de de pessoas imunizadas, é o uso da máscara e a higienização das mãos. Essa é a nossa vacina nesse momento. 

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