Rachel Pinto
O médico João Victor Brito do Valle, cirurgião geral e coordenador da emergência do Hospital Emec em Feira de Santana, fez um alerta sobre a superlotação dos leitos no hospital e relatou que está preocupado com a situação da cidade nesta segunda onda de covid-19.
Ele afirmou que na emergência do Emec são atendidos diariamente cerca de 70 pacientes com sintomas respiratórios e desse total alguns são internados apresentando casos graves e moderados. Os casos moderados, às vezes, precisam de internamento em unidades abertas, nas clínicas médicas e os pacientes mais graves precisam ser internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
“A gente sempre orienta que os pacientes que estão tendo quadro de desconforto para respirar, falta de ar, dor importante no tórax, em opressão, febre que não cessa, uma queda importante do estado geral, fadiga intensa, com dificuldade de se alimentar, de aceitar a dieta, sempre que tiverem esses tipos de sintomas, de sinal de alarme é importante irem para emergência para que a gente possa iniciar precocemente o tratamento. Toda vez que o paciente precisa de um suporte de nível de oxigênio elevado, ou o paciente precisa de um suporte ventilatório, seja ele, com a ventilação com a máscara, que é uma ventilação não invasiva ou uma ventilação com uma intubação endotraqueal, esse paciente precisa ir para a Unidade de Terapia Intensiva e a gente sempre manda para a UTI da forma mais precoce possível, aquele paciente que precisa de um suporte ventilatório. Pois é possível hoje com os protocolos que nós temos, resgatar, esses pacientes da doença, evitando a intubação e evitando outros quadros mais graves que são associados a isso tudo”, explicou o médico durante entrevista ao Acorda Cidade.
Situação crítica
João Victor frisou que, devido a superlotação de leitos, o setor privado também se aproxima da situação de colapso e a grande preocupação da equipe médica é que chegue o momento em que pacientes não sejam atendidos adequadamente por falta de vaga na unidade de saúde.
“É muito importante esse alerta para a população do momento em que estamos vivendo. Precisamos trabalhar em uma pandemia com medidas proporcionais para cada fase dela. Temos que ser realistas e não podemos ser negacionistas e nem pessimistas, nós temos que avaliar a realidade da situação do momento e hoje no setor privado em Feira de Santana, infelizmente estamos entrando em colapso e é isso que a gente não quer que ocorra porque o colapso significa que vão ter pessoas no hospital que vão chegar e se beneficiariam de um determinado tratamento, e pode ser que elas não o tenham. Porque não há vaga na unidade adequada para tratar estes pacientes. Estamos vivendo uma situação crítica”, observou.
João Victor do Valle avaliou que é importante que as novas contaminações sejam evitadas porque o sistema privado de saúde não tem a mesma capacidade de expansão que teve em julho. Segundo ele, as pessoas que têm outras doenças de base estão também retornando aos hospitais e às emergências, porque com o receio da pandemia, deixaram de ir aos hospitais e essas doenças acabaram descompensando e se agravaram. Ele salientou que além dos pacientes infectados pela covid-19, os profissionais de saúde não deixam de atender os pacientes com doenças de bases, como por exemplo, pacientes cardíacos ou com doença renal crônica.
“A única forma da gente tentar evitar esse colapso, mortes de pacientes que poderiam sobreviver à doença é evitando as novas contaminações. Não quero discutir se o isolamento é a medida mais efetiva para conter uma pandemia, mas a gente sabe que o afastamento nesse momento, que medidas de restrição, de evitar aglomerações, de evitar confraternizações que vem por aí, evitam, que medidas mais extremas sejam tomadas, como fechamento de comércio. Se chegar o momento que a gente tiver ‘tantas’ pessoas nas emergências que a gente não consiga atender, infelizmente, medidas mais drásticas terão que ser tomadas”, destacou.
Aglomerações e confraternizações de fim de ano
Na opinião do médico, as pessoas estão diminuindo os cuidados para evitar a covid-19. Ficaram em casa muito tempo, ansiosas, com medo e no momento em que houve uma redução no número de casos, voltaram a sair e participar de eventos. Para ele, é fundamental que a população retome os cuidados de forma mais rígida, como aconteceu em julho, para que novos casos não aconteçam. Que as aglomerações sejam evitadas, assim como as idas aos bares e confraternizações pessoais.
“Eu entendo que a gente tem que parar de olhar agora o que foi o motivo do aumento de casos, se foi a política, se foram os feriados, talvez tudo isso sim contribuiu. Mas, a gente tem que olhar para a solução desse problema e o que a gente vai fazer para evitar que novos casos aconteçam. As pessoas têm que estar dispostas a resolver, temos que cobrar dos gestores públicos, sim medidas, temos que cobrar expansão de leitos, medidas eficazes do tratamento da crise, mas a gente tem que evitar também as aglomerações, diminuir tudo isso nesse momento para que a gente possa reduzir novamente o número de casos novos e conseguir passar por essa crise mais uma vez sem ter mortes evitáveis”, disse o médico ao Acorda Cidade
João Victor do Valle afirmou que já vivencia casos de pacientes que precisam de leitos de terapia intensiva, aguardado, 12 horas ou mais no pronto socorro. Pacientes que ele poderia oferecer um tratamento mais eficaz e muitas vezes não consegue devido a situação de colapso que se apresenta.
“Se a gente não tomar cuidado, se não parar agora com aglomerações e tudo mais, evitar as contaminações, a gente pode ter um cenário de que pessoas podem morrer nas emergências sem atendimento”, alertou.
Para o médico, é fundamental avaliar o cenário de forma racional, sem pessimismo e tomar as medidas de acordo com cada fase da crise. Ele ressaltou que o momento atual é de conter a concentração de pessoas, para que estragos maiores não aconteçam. Além disso, João Victor pontuou que a pandemia não é o fim do mundo e que o diagnóstico de covid-19 não é um diagnóstico de morte. Ele frisou que é preciso ter o olhar para o paciente de forma individualizada e o olhar para a população como um todo.
“Olhando o indivíduo, é uma doença que na maioria das vezes tem um curso leve ou moderado, a chance de se recuperar da covid como indivíduo é muito boa. É uma doença que afeta muito a parte psicológica e se a pessoa está bem, evoluindo bem, vai se hidratar, se cuidar, seguir as orientações do seu médico e ficar em alerta se tiver algum sintoma de alarme. Mas, muito provavelmente terá 99% de chances de ficar boa, mesmo aquelas pessoas que têm alguma comorbidade, alguma doença, que têm uma idade de 50 a 60 anos. A covid-19 não é um diagnóstico de morte, de mortalidade alta. Quando a gente vê o indivíduo separadamente, a gente tem que tranquilizar esse indivíduo, que ele muito provavelmente vai se recuperar da doença. Agora, se estamos numa pandemia, a população passa a ser o paciente. O paciente é a própria população e para a população, a covid-19 é uma doença gravíssima porque causa problemas econômicos, sociais e de saúde que temos que enfrentar”, concluiu.
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Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.