Ouça o relato

Paciente com Covid-19 em Feira saiu andando da UPA para o hotel por falta de ambulância

Ele contou ao Acorda Cidade que saiu de uma unidade de saúde a pé até o hotel, após saber que teria que esperar uma ambulância retornar de Salvador.

Andrea Trindade

Um homem de 31 anos, do município de Sertãozinho (SP), que está em Feira de Santana há trabalho desde o dia 18 de fevereiro, foi diagnosticado com covid-19, porém a Secretaria de Saúde do Município não o reconhece como um caso da cidade (Veja aqui). O paciente, por sua vez, afirmou ao Acorda Cidade que começou a sentir os sintomas em Feira de Santana e fez um desabafo sobre o atendimento que teve. Ouça o relato em áudio

“No dia 20 (de março) eu comecei a me sentir não tão bem, comecei a ter alguns sintomas e não procurei um médico de imediato porque eu já estava perto de ir para casa então achei que dava para aguentar. Eu não relacionei em nenhum momento com a Covid-19, mas no domingo começou a dar uma piorada. No sábado, dia 21, começaram os sintomas com coriza, calafrios e suar muito, ai na segunda começou a dor no peito, uma dor muito forte, com dificuldade para respirar. Pela tarde aumentou, foi quando eu procurei um médico na unidade próximo ao Clériston e o médico já me colocou em isolamento. Seguiu todos os protocolos e o médico mandou eu voltar para o hotel, que o pessoal da vigilância iria manter o contato e coletar o material fazer o exame. Ai da terça-feira, o pessoal veio na quinta-feira coletar o material. O resultado saiu agora testando positivo para Covid-19. Estou tendo contato com o pessoal da vigilância e por duas vezes tive que voltar para a UPA porque eu estava sentindo muita dor e dificuldade para respirar. Ontem, depois que foi confirmado, fui na policlínica da Queimadinha e entrei em contato com o pessoal da vigilância. Eles mandaram o Samu vir me buscar, era por volta das 11h20, me levaram para a policlínica, fiz gasometria e fiquei aguardando a tomografia. Eles foram levar o almoço 15h30, um almoço totalmente com desvio de uma pessoa que está doente. Fiquei aguardando quando foi 17h e pouco me levaram para [outra unidade] para fazer a tomografia, depois me levaram de volta para a policlínica. A médica infectologista foi lá me ver e disse que meu exame de tomografia deu normal e queria me dá alta”, disse o paciente ao Acorda Cidade.

“E eu fiquei aguardando a ambulância. Isso era umas 19h já, fiquei aguardando até 20h. Quando deu umas 21h30 o pessoal viu que eu estava inquieto e que eu queria voltar. Estava sem comer, queria tomar banho, e o pessoal falou que o pessoal da ambulância não queria fazer o transporte. Eu entrei em contato com o Samu, e falei com uma pessoa que disse que o Samu é uma unidade de urgência e emergência não podendo fazer transporte, que era para eu solicitar um Uber ou outro transporte só que a partir do momento em que eu fui constatado como positivo eu não posso ficar transitando normalmente em outros veículos no meio do pessoal, aí falei com o pessoal da policlínica e eles falaram que realmente o pessoal não queria fazer o transporte e estava aguardando a ambulância retornar de Salvador. Eu achei estranho porque um município deste tamanho tem mais condições. Aí pedi meus exames e falei que iria a pé. O pessoal ficou assustado, não queria, mas eu vim a pé da policlínica até meu hotel. Achei uma falta de consideração, uma falta de respeito total porque eu estava aqui a trabalho, porque diferente da forma como foi passado para a imprensa, eu não vim de São Paulo com a doença eu contraí aqui”, afirmou.

O inspetor de qualidade disse ao Acorda Cidade também que é difícil estar doente e longe de casa e que fez um alerta sobre a doença.

“Não pedi pra ficar doente, estou longe da minha família, estou longe de casa, e eu queria um apoio maior porque é difícil estar longe de casa e não ter ninguém por você. Também quero alertar a população para continuar se preservando se puder ficar em isolamento ficar, porque essa doença não é brincadeira. É uma sensação ruim demais, é insuportável. É isso que tenho para falar para vocês”, concluiu.

A médica infectologista Melissa Falcão informou que o tempo que ele passou na UPA foi necessário para ele fazer os exames específicos e que a comida foi adequada para o paciente, além disso, o paciente não pode escolher o que comer. Ela informou também o paciente está em isolamento, está sendo monitorado pela equipe e que foi a pé da UPA da Queimadinha para o hotel porque não quis esperar a ambulância retornar de Salvador. A médica disse ainda que o paciente colocou toda a equipe de saúde em risco.

Errata – em um trecho da transcrição da fala do entrevistado foi dito que ele esteve no Hospital Geral Clériston Andrade, mas o paciente na verdade estava se referindo a outra unidade de saúde, a qual não soube pronunciar a sigla por não conhecer as unidades da cidade. Ele não esteve no HGCA como informado anteriormente. 

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