Milena Brandão
Casos de morte ou complicações decorrentes de procedimentos estéticos ganharam destaque no cenário nacional, após a bancária Lilian Calixto passar por uma cirurgia com o Dr. Bumbum e perder a vida. Um dos episódios foi registrado em Feira de Santana, onde uma mulher passou 40 dias internada, em estado grave, após um procedimento semelhante.
Para entender o que causa esses problemas e quais os meios seguros de realizar esses procedimentos, o Acorda Cidade conversou com o cirurgião plástico César Kelly. Confira:
Acorda Cidade: Doutor, quais fatores podem decorrer em problemas para pacientes que se submetem a procedimentos no bumbum?
Dr. César Kelly: O bumbum pode ser corrigido de várias maneiras. Quando falta volume ou esse volume é pouco, podemos colocar gordura do próprio paciente. Quando o volume é mínimo e a paciente deseja aumentar, nós colocamos implantes de silicone. Tudo isso é cirúrgico.
A cirurgia plástica é uma parte da medicina que, como tal, ela tenta, primeiro, examinar o paciente, fazer exames pré-operatórios, operar em locais com estrutura adequada e, por isso também, nós insistimos que essas pessoas operem com especialistas, que são formados e certificados pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Essas cirurgias não podem ser feitas em garagens, salões de beleza ou apartamentos, tem que ser feitas em hospital ou clínicas, devidamente regularizados pela vigilância sanitária. Isso diminui os riscos.
O médico profissional, com todos os seus critérios, vai passar isso para o paciente, vai analisar e, seguramente, se estiver tudo bem com os exames, o paciente será encaminhado para o local certo para a cirurgia.
Os outros riscos dependem das instruções que o médico dá para o paciente e dos cuidados durante a consulta.
AC: Quais os erros que podem levar à morte do paciente?
CK: O Brasil está enfrentando uma situação crítica, em virtude dos eventos que vêm se apresentando nas últimas semanas. Apareceu um caso e hoje já apareceram tantos outros, inclusive aqui em Feira de Santana, na Bahia.
Infelizmente, nós temos uma coisa que se chama de “invasão” na nossa especialidade, que são pessoas que não são médicas, inclusive médicos que não são especialistas, e oferecem serviços de cirurgias estéticas para os quais não foram treinados. Quando a pessoa não é médico, infelizmente, cometem também o erro de levar o paciente ao local que não tem a estrutura adequada, à exemplo do que houve na semana passada ou aqui em Feira.
AC: O que mais chamou a sua atenção nesses casos?
CK: O que mais me chama atenção é que, infelizmente, isso tem acontecido com frequência e aqui no Brasil as pessoas só ficam em alerta quando alguém morre. Mas, queremos ressaltar isso, porque é o momento de mostrar à população que não se deixe guiar por propagandas enganosas e hoje, com as redes sociais, as pessoas não se certificam se esse profissional realmente é um especialista.
Nós recomendamos ao paciente duas coisas: primeiro, saber com quem está operando e se é especialista. Hoje na internet, você acha facilmente pelo Conselho Nacional de Medicina. O segundo, em que local será feita a cirurgia. A estrutura tem que ser adequada para manter a segurança dos pacientes.
AC: Por que algumas pessoas reagem bem aos procedimentos e outras não?
CK: Todo ser humano tem as suas individualidades, certo? Nós tentamos diminuir isso esclarecendo na consulta, fazendo os exames para a operação e instruindo para que os cuidados sejam os melhores possíveis. Por isso, sabendo que essas reações podem acontecer a qualquer momento, nós temos que operar em um hospital ou clínica com a estrutura necessária. Porque caso haja alguma reação diferente, existem recursos para reverter a situação e evitar problemas maiores.
AC: Há algum tipo de exame que identifique se o paciente terá algum tipo de rejeição?
CK: Na verdade, a gente avalia o estado geral do paciente. Existem exames de sangue, coração, pulmões, radiografias do tórax, ultrassonografia, dependendo da área que será operada, que determinam se essa pessoa está apta ou não para a cirurgia. Se ela está apta, passamos para o segundo passo de recomendar a cirurgia.
AC: O que é que a pessoa deve analisar ao se submeter a um procedimento estético?
CK: No Brasil, só existem duas especialidades regularizadas e regulamentadas, que são os dermatologistas e os cirurgiões plásticos. Os procedimentos minimamente invasivos podem ser feitos em consultórios e procedimentos maiores vão para a parte cirúrgica.
AC: O paciente deve desconfiar, por exemplo, de valores muito abaixo do normal?
CK: Anos atrás, a cirurgia plástica era algo elitizado, para poucos, mas o Brasil foi ganhando mais especialistas, que procuraram outros locais para atuação e adequaram seus preços à realidade de cada lugar. Nós cobramos os preços que achamos justo porque, além da faculdade de medicina, nós estudamos mais cinco anos, participamos de cursos e congressos e isso demanda um investimento pelo qual nós cobramos os preços que consideramos adequados a situação de cada cidade.
Mas aí tem as pessoas que não passam pelos cursos e oferecem serviços por preços mais baixos.
O problema é que essas pessoas não são capacitadas, primeiro, por não ter critério para aconselhar os pacientes ao que fazer, segundo, não estão preparadas para atender às complicações que podem ser desencadeadas nesses procedimentos. Todo o critério, experiência, raciocínio quem tem é o profissional especializado.
AC: O caso da enfermeira, aqui em Feira de Santana, será possível corrigir?
CK: Bom, o que eu sei é somente o que vi através da mídia. Na verdade, é necessário examinar para ver as condições e, a partir daí, determinar como nós podemos ajudar. Tudo na vida sempre tem alguma possibilidade de melhora e alguma possibilidade de restabelecer o formato, porém tem que entender que quando o médico trabalha numa área que já foi lesionada, dificilmente vai chegar a aparência que tinha antes do procedimento.
Com informações do repórter Ed Santos, do Acorda Cidade.