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"N'Golo Kanté/ N'Golo Kanté/ N'Golo Kanté/ Il est petit/ Il est gentil/ Il a bouffé Leo Messi", cantou uma Champs-Elysées lotada dois dias depois do título mundial da França, conquistado após a vitória por 4 a 2 na final contra a Croácia. O cântico foi puxado pelo volante Paul Pogba enquanto, ao pegar o microfone nas mãos, abraçava o companheiro de meio-campo citado nos versos e o presidente do país, Emmanuel Macron. Ao fundo, todos os jogadores faziam o coro.
Ainda que a imprensa francesa tenha admitido que a decisão em Moscou foi a pior partida de Kanté durante todo o Mundial — e não à toa foi substituído pelo técnico Didier Deschamps no segundo tempo –, ela também exaltou a importância do volante para os jogadores.
Kanté é um dos atletas mais queridos da seleção por sua extrema timidez e a história que chamou a atenção do mundo antes do jogo contra a Croácia: filhos de pais malineses, ele ajudou seu pai a retirar papelões das ruas de Paris após a festa da Copa de 1998.
A canção diz que Kanté é "pequeno", "legal" e que ele "parou Lionel Messi", em referência ao jogo vencido pela França nas oitavas de final contra a Argentina, por 4 a 3. A melodia é da canção "Les Champs-Élysées", do álbum Eternel, gravado pelo cantor pop francês Joe Dassin em 2005.
A música feita pelos jogadores, no entanto, também revela um outro lado de Kanté contado pelo companheiro Pogba: "Ele é um trapaceiro nas cartas", brincou em uma coletiva de imprensa antes da final contra a Croácia. Em um vídeo publicado em 2016 no perfil do próprio volante do Manchester United, ele aparece ao lado de Kanté que, com uma calça adidas e um boné, se esconde da câmera. "Ele está roubando", gritava Pogba.
Kanté nasceu em 1991 em Paris, alguns anos depois que seus pais deixaram Mali, na África. Ele cresceu em um pequeno apartamento em Rueil Malmaison, uma área periférica da capital francesa pequena e populosa ao mesmo tempo. Durante toda a infância ele ajudou seu pai a coletar lixo reciclável pelas ruas da cidade, andando quilômeteos diariamente entre Rueil e as grandes avenidas parisienses.
Em 1998, quando a seleção francesa bateu o Brasil por 3 a 0 e ganhou o seu primeiro título mundial no Stade de France, em Saint-Denis, o pai dele comemorou: a festa em Paris certamente renderia lixo reciclável o suficiente para vender posteriormente. Na mesma época, porém, ele já jogava futebol em pequenos times da periferia parisiense.
Contratado pelo Chelsea, da Inglaterra, por £32 milhões (R$ 161 milhões) oriundo do Leicester, em 2016, Kanté é titular da seleção francesa desde então. Ele foi campeão da Premier League com o pequeno clube do interior inglês. Quatro anos antes, ele era um jogador amador na terceira divisão francesa que, com algum sucesso, foi contratado pelo também modesto Bois de Boulogne para jogar pelo time B. Na sua primeira temporada, levou a filial do clube da sexta para a quinta divisão.
No ano seguinte, foi promovido à equipe principal do Boulogne, que em 2012 jogava a segunda divisão da França. "Lá eu aprendi muito de técnica e de tática e isso me fez melhorar demais. Eu não estava imaginando que jogaria na Premier League ou algo do tipo nesse momento da vida, mas quando eu fui ao Boulogne eu já tinha a ambição de me tornar profissional", contou ao site do Leicester.
Em 2013, ele foi contratado pelo Caen, também da segunda divisão, mas que subiria — com Kanté já titular do meio-campo — para a Ligue 1 no ano seguinte. Dali em diante as coisas aconteceram para ele: foi para o Leicester e, em 2016, chegou ao Chelsea, seu clube atual.