Daniela Cardoso
Após a rebelião no presídio regional de Feira de Santana, que foi iniciada no último domingo (24) e finalizada na segunda (25), deixando nove mortos e quatro feridos, o coordenador geral do Sindicato dos Servidores Penitenciários do Estado da Bahia (Sinspeb), Geonias Santos, afirmou que existem diversas falhas no sistema de segurança da unidade prisional. De acordo com ele, essas falhas já haviam sido denunciadas para diversos órgãos envolvidos na administração penitenciária e na execução penal, mas nenhuma providência foi tomada.
“O sindicato infelizmente não tem nas mãos o poder da solução, entretanto nosso papel tem sido denunciar. Há cerca de uma semana, os servidores, por perceberem que situações como essa poderiam acontecer, se juntaram com o sindicato e fizeram um relatório, onde denunciavam a incapacidade de haver mais presos na unidade prisional. Esse relatório foi apresentado com a seguinte decisão: os servidores decidiram, por conta própria, não receber mais presos vindos de delegacias das regiões em que Feira de Santana faz parte”, afirmou.
A superlotação, segundo o coordenador geral do Sinspeb, também já havia sido denunciada. Geonias Santos afirma que há algum tempo, o sindicato, juntamente com os servidores, tem manifestado preocupação com o sistema prisional de Feira de Santana.
“É um presídio que está passando por uma reforma muito anunciada, entretanto totalmente ineficaz, pois está com sua capacidade de mais do dobro. A unidade tem capacidade para 608 presos e tem em torno de 1.500. Não há condição de se controlar os presos na unidade prisional. Diante dos impasses da Secretaria estadual de Administração Penitenciária, em resolver essa questão, inúmeros relatórios já foram construídos e entregues às autoridades competentes”, afirmou.
De acordo com Geonias Santos, outras situações de rebelião podem voltar a acontecer, pois, conforme afirmou, os pavilhões continuam lotados, além de o presídio ter uma estrutura frágil. O sindicalista ainda alertou para outras deficiências, como a falta de câmeras de vigilância, vários pontos cegos e muros muito baixos.
“Quando os presos estão encurralados ou em fuga, eles conseguem pular o muro. A gente denunciou há um tempo que os agentes fizeram uma ‘vaquinha’ do próprio bolso para levantar o muro da unidade. Infelizmente o dinheiro acabou antes de levantarem o muro do pavilhão 10, onde ocorreu a rebelião. Depois do evento, o secretário disse que os agentes seriam ressarcidos, mas isso era apenas uma resposta pública e não um fato a ser consumado. A fragilidade desse presídio é muito grande e corremos sérios riscos de outras rebeliões acontecerem, pois as guaritas não vigiam os presos, são pontos cegos que se estendem ao longo do presídio de Feira”, destacou Geonias Santos.
Entrada de armas no presídio
Questionado sobre a entrada de armas no presídio regional, o coordenador geral do Sinspeb afirmou que não há a necessidade de investigar como as armas entraram, já que, segundo ele, todas as vulnerabilidades do sistema prisional já são conhecidas.
“Temos dentro do presídio uma cozinha que é abastecida por empresas que trazem material de fora. Não temos equipamentos de raios-X para passar esse material. Os presos costumam colocar diversos tipos de armas e drogas dentro de peças de carne, dentro de objetos trazidos pelos visitantes, além de receberem dentro de objetos jogados por cima do muro, que é baixo”, informou.
Geonias Santos destacou que “todas as falhas já foram denunciadas e se providências tivessem sido tomadas, em relação à vigilância e equipamentos, e mesmo assim as armas tivessem entrado, haveria motivos para preocupação. Mas no caso de uma unidade que não oferece segurança, via de acesso não falta. Não posso afirmar que entrou dessa ou daquela forma, pois não sei, não vi. Mas a gente sabe que o material estava lá dentro e que não existe equipamento para contenção dessa situação”, afirmou.
As informações são do repórter Aldo Matos do Acorda Cidade