Andrea Trindade
A Polícia Civil já identificou dois dos três ou quatro suspeitos de terem torturado e matado a facadas o adolescente de 17 anos, Gabriel Guimarães Silva, que morava no bairro Sobradinho, em Feira de Santana. As cenas de tortura foram divulgadas na internet e mostram a frieza com que o jovem foi assassinado.
De acordo com o delegado João Rodrigo Uzzum, as diligências continuam em busca da identificação de outros envolvidos e da localização dos autores. Ele disse também que a ordem para matá-lo partiu do Conjunto Penal de Feira de Santana.
“A motivação do crime também já foi elucidada. A ordem da morte desse menino partiu do presídio regional de Feira de Santana, em razão de um revólver que ele pegou emprestado de um marginal para a prática de roubo. No entanto ele alegava que tinha perdido essa arma”, informou o delegado.
Uzzum disse ainda que o local da tortura foi periciado e que a equipe da Delegacia de Homicídios já tem a prova técnica do crime. Sobre a tortura, o delegado explicou que o objetivo é tornar como “exemplo para os outros” o que aconteceu com Gabriel.
“Identificamos o local onde ele foi torturado e degolado. Esse local já foi periciado pelo Departamento de Polícia Técnica, foram encontrados vestígios de sangue e roupas sujas de sangue e existe aí a prova técnica do crime. Agora vamos trabalhar na conclusão do inquérito solicitando a prisão preventiva das pessoas identificadas. O objetivo da tortura foi fazer com que as pessoas fiquem com medo de não obedecer as ordens deles”, continuou.
Sobre as duas pessoas que já foram identificadas, o delegado informou que tem fotos deles, que são maiores de idade, mas não deu outros detalhes. O crime foi praticado nos fundos de uma vila de quartos, onde há uma pequena lavanderia, a poucos metros no local onde o corpo foi encontrado pela manhã, no bairro Parque Panorama.
“São somente 150 metros [de distância]. No vídeo eles se identificam como sendo da facção Caveira. Não há dúvida de que são criminosos perigosos da cidade. Também já temos o prenome do terceiro envolvido e vamos qualificá-lo nas próximas horas.”
O delegado acredita que a tortura levou em torno de duas a três horas até ser morto. “Gabriel tinha que pagar a dívida e para pagar essa dívida ele estava negociando uma moto de um amigo com esses marginais. E ele iria pagar essa dívida com a venda dessa moto. Na verdade eles iludiram Gabriel, porque eles não tinham interesse nenhum na moto, e quando o garoto chegou praticaram o crime” disse o delegado informando que mesmo o local do crime ter sido lavado, a perícia conseguiu localizar as provas técnicas. Até o fechamento desta matéria ninguém havia sido preso.
Tortura
Gabriel foi encontrado na manhã de terça-feira (10), enrolado em um lençol, na Rua Contendas do Cicorá. Ele estava amordaçado, com mãos e pés amarrados e tinha nas costas a sigla AL escrito com a ponta de uma faca. No pescoço do jovem havia um ferimento profundo feito por facadas.
No vídeo, aparece cerca de dois jovens torturando Gabriel, que aparece com o rosto deformado, por agressões, enquanto um terceiro filma tudo. No momento em que a sigla é escrita nas costas da vítima, os autores ordenam o garoto a não gritar e o xingam. Um deles pede para não matar, mas a tortura continua. Em um segundo vídeo é mostrado o momento em que os torturadores cortam o pescoço de Gabriel com uma faca pequena.
A cena acontece em um local escuro e silencioso localizado a poucos metros do local onde o corpo foi deixado, no bairro Parque Panorama. A vítima permanecia calada sob o poder dos torturadores. Em entrevista ao Acorda Cidade, um familiar da vítima, que não quis se identificar disse que não teve coragem de ver as cenas.
“A informação que tenho é que Gabriel passou os últimos oito ou quinze dias com amigos pitando uma casa (choro). E pela internet fiquei sabendo que quem matou Gabriel foi os próprios amigos. Isso me dói ainda mais porque além da crueldade que fizeram com ele, soube que foram os próprios amigos. Eu não duvido. Eu não tive coragem de ver, mas todo mundo viu. Eu não sei por que o mataram. O pai e a mãe conhecem o filho em suas presenças, mas quando sai não sabem. Ele não tem passagem pela polícia, mas os pais falam para não andar com amizade ruim. Mas eles não ouvem. Tão falando que ele foi assassinado nessa residência e depois levaram o corpo para o outro lugar”, contou.
“Gabriel que eu saiba nunca usou droga, nunca se envolveu com roubo, só a amizades mesmo. Espero que a polícia os encontre. Não vai trazer ele de volta, mas vai amenizar o sofrimento da família. Eles tentaram degolar o menino. Pela voz dá para identificar. Disseram que eles estavam com o rosto coberto, mas tem um que dá para ver um pouco”, continuou.
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Com informações e fotos do repórter Aldo Matos do Acorda Cidade